O exemplo arrasta: sobre a grande greve dos metalúrgicos dos Estados Unidos
Adam Schultz/CC

O exemplo arrasta: sobre a grande greve dos metalúrgicos dos Estados Unidos

A grande greve dos metalúrgicos dos EUA marca um ponto de inflexão e levanta uma bandeira para todo o mundo.

Israel Dutra 26 set 2023, 18:24

Os trabalhadores da indústria automobilística dos Estados Unidos estão cruzando os braços, naquela que já é registrada como a maior greve da história do setor. Um verdadeiro levante do operariado estadunidense comove o país, trazendo um exemplo para os trabalhadores de todo planeta. A greve espalhou-se pelas três grandes empresas, símbolos do capitalismo nos Estados Unidos, a Ford, GM e Stellantis (controladora da Chrysler), ganhando o centro do cenário político. A força da greve é tamanha que o presidente dos EUA, Joe Biden, foi forçado a defender a greve e visitar um dos maiores piquetes, em Michigan, nesta terça-feira (26). Os trabalhadores em greve exigem um aumento de 40% nos salários como forma de compensar perdas acumuladas e partilhar os ganhos de produtividade com as montadoras, que registram recordes em lucros e ganhos exorbitantes de seus executivos. Também se reivindicam redução da jornada de trabalho para quatro dias semanais, sem redução salarial, e recuperação de benefícios. Como pano de fundo, está a discussão sobre a reorganização global da indústria automobilística e das fontes de energia.

A greve foi fruto do trabalho sindical longo e incansável da chamada Tendência Renovadora (Reform Caucus), movimento das bases que foi às fábricas organizar os trabalhadores e disputar a direção contra os burocratas encastelados por décadas nos sindicatos. A grande greve dos metalúrgicos marca, portanto, um ponto de inflexão e levanta uma bandeira. Sua vitória seria um exemplo que arrastaria milhões, impactando a consciência popular diante da crise mundial do capitalismo.

Mudanças em curso

A greve dos Estados Unidos aponta um caminho, em meio às contradições cada vez maiores no cenário internacional. A resiliência da extrema direita, a crise dos regimes políticos, a alta da inflação e a guerra que se prolonga na Ucrânia são ingredientes que compõem o complexo quadro da luta de classes.

Contudo, existem duas importantes mudanças em curso no plano da consciência, que se notam pelas redes e na discussão imediata de milhões de pessoas, principalmente entre os mais jovens: 1) começa, lentamente, a aparecer uma reorganização da classe, com novos sindicatos e expressões de luta de uma nova geração que entra em cena; e 2) há uma mudança na consciência ambiental, sobretudo com o aumento dos desastres ambientais em todo o mundo, como a alta histórica das temperaturas em 2023, as terríveis enchentes na Líbia com milhares de mortos, as inundações e as mortes no sul do Brasil, além de outras tragédias recentes, como o terremoto no Marrocos.

Aqui não nos faltam motivos para lutar

A vitória de Lula sobre Bolsonaro parou a mão da extrema direita, abrindo um novo cenário, com um “alívio democrático” para a reorganização das demandas da sociedade e a apresentação de novas reivindicações e possibilidades de luta.

O primeiro semestre foi marcado pelo ritmo lento, causado pelas expectativas lógicas em relação ao governo, a chamada “lua de mel” de início de mandato. Contudo, algumas mudanças no ambiente das lutas começam a aparecer: há uma greve geral marcada para o dia 3 de outubro no estado de São Paulo; a prisão de Bolsonaro entra na ordem do dia com o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de 8 de janeiro; a vitória histórica do movimento indígena no julgamento do “marco legal” no STF, que concluiu uma batalha longa e gera novas ameaças de ataques dos ruralistas; além disso, o movimento feminista ganha espaço para reivindicar a luta pela descriminalização do aborto com a entrada em pauta no STF da ADPF sobre o tema, proposta pelo PSOL.

Por um PSOL militante como vetor das lutas

Diante dessa situação, o VIII Congresso do PSOL não pode ficar de costas para as lutas. É preciso armar o partido para esses desafios consolidando a independência política diante das articulações de Lula e Haddad com o Centrão e os banqueiros pelo ajuste fiscal. Temos que valorizar a força e o reconhecimento que nossas parlamentares têm tido para construir esse novo momento, enfrentando a extrema direita em todos os espaços. O PSOL deve ser vanguarda dessa luta também nas ruas, oferecendo uma saída anticapitalista para o Brasil.

O VIII Congresso também deve ser o momento de reafirmar nosso perfil militante. Na delegação de convidados internacionais, teremos a presença de um militante do UAW para compartilhar as experiências da greve em curso nos Estados Unidos. Com o exemplo antiburocrático e a força internacionalista da greve dos metalúrgicos dos EUA, podemos construir uma alternativa!


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Camila Souza