Reportagem denuncia farra dos contratos emergenciais em SP
Ricardo Nunes

Reportagem denuncia farra dos contratos emergenciais em SP

223 de 307 contratações sem licitação feitas na gestão Ricardo Nunes têm indícios de conluio

Redação da Revista Movimento 4 mar 2024, 15:05

Foto: Agência Brasil

Não investir em obras essenciais não raro se converte em dor de cabeça para a população e para a própria administração pública. Mas como mostra reportagem publicada hoje pelo portal UOL, a necessidade de fazer caríssimas obras emergenciais pode se traduzir em um esquema bastante lucrativo.

A reportagem analisou 307 contratos para obras emergenciais sem licitação realizadas na gestão de Ricardo Nunes (MDB). Nessa modalidade, a prefeitura envia ofícios a três construtoras e pede a elas que ofereçam descontos no BDI – que são custos indiretos de uma obra, aplicados no orçamento final. A apuração encontrou indícios de combinação entre as empresas em 223 desses contratos. Em 171 deles, apenas o vencedor apresentou desconto significativo, enquanto as demais não ofereceram desconto ou recusaram o convite para participar da disputa. Em outros 52 contratos, os demais concorrentes apresentaram descontos irrisórios – abaixo de 0,3 ponto percentual do valor de referência.

Os contratos analisados eram para obras como contenção de encostas, intervenções em margens de rios, córregos e galerias pluviais, recuperação de passarelas, pontes ou viadutos.Os valores com indícios de combinação somam R$ 4,3 bilhões, ou 87% do total contratado emergencialmente.

A reportagem ainda aponta que houve aumento expressivo de contratações emergenciais na gestão de Nunes. Entre 2021, quando assumiu a prefeitura, e o final de 2023, o atual prefeito gastou R$ 4,9 bilhões nesse tipo de contrato – quase cinco vezes mais que os últimos quatro prefeitos da capital paulista juntos, que empregaram R$ 950 milhões em obras de emergência.

‘Emergência fabricada’

Em entrevista ao UOL, o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), Marcos Monteiro, se disse surpreso e prometeu pedir uma avaliação da área técnica.

“O que você pode fazer para controlar isso? Nossa obrigação é tentar entender a dinâmica das coisas e tentar evitar”, disse.

O desconhecimento desse estado de coisas não cola. Em 2023, o Tribunal de Contas do Município (TCM) avaliou 53 contratos emergenciais realizados entre 2021 e 2022 e constatou que, “em cerca de 90% das obras selecionadas”, a Siurb “agiu com insuficiente planejamento para o enfrentamento de problemas históricos da cidade e, em vez de promover licitações, celebrou contratos emergenciais”. 

O relatório ainda classificou este movimento como “emergência fabricada”. Ou seja, em vez de abrir uma concorrência pública para resolver problemas da cidade, o gestor classifica determinada situação como emergencial e contrata prestadores de serviço por meio de convite. A situação abre brecha para conluio e superfaturamento de obras – problema identificado pelo TCM em 18 obras visitadas, que custaram R$ 442 milhões, com ágio de R$ 67,1 milhões. É o verdadeiro “Bolsa Empreiteira”.

A prefeitura afirmou que as denúncias têm cunho político e eleitoreiro. Mas essa alegação não bastará. Ou prova que focinho de porco ou não é tomada, ou dará rica munição aos adversários na campanha eleitoral.


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Pedro Micussi