É hora de ampliar a campanha pela libertação dos presos políticos palestinos
A luta pela libertação dos presos políticos é uma tarefa fundamental para todos os apoiadores da luta palestina hoje
Foto: Flickr (Mural com o rosto de Marwan Barghouti)
Além da defesa do imediato cessar-fogo, a esquerda brasileira deve abraçar a luta pela libertação dos presos políticos palestinos. É uma tarefa fundamental junto a organização da campanha por um boicote ao Estado de Israel.
O mundo repudia o genocídio
São inúmeras as demonstrações de que Netanyahu está se isolando. Vão desde a noite do Oscar até a votação do cessar-fogo na ONU, na qual os Estados Unidos se abstiveram pela primeira vez desde o princípio da agressão genocida. A posição dos Estados Unidos indica que a opinião pública se inclina cada vez mais para a condenação da agressão israelense, em que pese a colaboração das elites.
O tempo se esgota para Netanyahu e seu entorno. No último domingo, 31 de março, dezenas de milhares de israelenses promoveram manifestações – as maiores até aqu i- pedindo o fim da agressão, uma negociação efetiva para a libertação dos reféns e a queda do governo de Benjamin Netanyahu.
Como escreveu na Folha de SP, Mario Sergio Conti:
No âmbito nacional, é possível ir além do apelo ao cessar-fogo e à negociação. O boicote pode ser mais eficaz que a retórica. Ele poderia começar pela suspensão do comércio de armas e de tecnologia de segurança entre o Brasil e Israel.
A luta pelo boicote e pela libertação dos prisioneiros deve ser assumida como bandeira central.
Nas prisões israelenses
O Estado Genocida de Israel mantém mais de 9,1 mil presos políticos em suas prisões, segundo a Addameer, Associação de Apoio aos Prisioneiros e Direitos Humanos, instituição palestina que apoia prisioneiros políticos em prisões israelenses e palestinas. Muitos destes presos foram detidos arbitrariamente, sem julgamento, e vivem em condições de cárcere que a comunidade internacional dos direitos humanos afirma violarem o direito internacional. Além disso, existe uma política institucional de Israel de negligência médica com os presos, com as forças de serviço prisional negando ter responsabilidade na prestação de cuidados de saúde adequados com os encarcerados, o que já resultou na morte de dezenas de pessoas. São comuns as histórias de prisioneiros espancados e humilhados por soldados israelenses antes de chegarem à prisão, mas também depois de estarem presos.
São poucos os que têm conhecimento do que acontece nas prisões israelenses e, por isso, é urgente colocar na ordem do dia uma campanha internacional pela libertação dos prisioneiros políticos do Estado Assassino de Israel. As bandeiras a serem levantadas em defesa da Palestina precisam ter o debate em relação aos prisioneiros palestinos como um dos pontos centrais, junto com o cessar-fogo definitivo, com o direito de retorno de todas e todos os refugiados palestinos espalhados pelo mundo e pela criação do Estado da Palestina Livre e Soberano.
A prática de detenção arbitrária faz com que seja comum haver centenas de pessoas presas sob o “crime” de jogar pedras em soldados Israelenses, como o palestino-brasileiro Islam Hamed. Seu caso é extremamente triste e simbólico e é preciso que todas e todos conheçam pra ajudar na campanha por sua libertação. Islam foi preso pela primeira vez aos 17 anos, por atirar pedras. Desde então foi preso diversas vezes.
Islam Hamed, que tem pai palestino e mãe brasileira, tentou vir ao Brasil mais de uma vez, mas sua vinda sempre foi negada por Israel. Ano passado, chegou a ficar meses desaparecido, com sua família aqui no Brasil e na Palestina desesperados, sem saber se estava vivo ou morto. Felizmente, seu advogado conseguiu falar com ele em fevereiro de 2024, depois de meses de sofrimento. O caso de Islam tem um elemento importante, que é a possibilidade de o Estado Brasileiro garantir sua vinda ao país, depois de 20 anos acumulados de prisão. Por isso, é muito importante que ativistas e militantes da causa palestina, junto com todas e todos que defendem direitos humanos, reforcem a campanha pela libertação de Islam Hamed, mas também que, junto ao governo brasileiro, consigam trazê-lo ao Brasil.
Além de casos absurdos como o do palestino-brasileiro, o Estado Assassino e Genocida de Israel também tem em suas prisões lideranças palestinas que são fundamentais na luta pela autodeterminação de seu povo, como é o caso de Marwan Barghouti, que cada vez mais tem aparecido na mídia ocidental como um nome que representa a resistência palestina
Quem é Marwan Barghouti, o “Mandela Palestino”?
Marwan Barghouti é um líder político que está preso há mais de 20 anos e é considerado o único nome capaz de unificar os grupos que lutam pela liberdade da Palestina. O fato de ele ser comparado à Nelson Mandela vai além de estar preso há mais de duas décadas e ter sido acusado de terrorismo pelos colonizadores, mas também assim como o líder sulafricano, Barghouti mesmo dentro da prisão segue liderando milhares de palestinos e é um nome que traz esperança àqueles que lutam por uma Palestina livre.
A trajetória política de Barghouti iniciou-se quando ele tinha 15 anos e entrou no Fatah, organização à época liderada por Yasser Arafat. Em 1987, aos 28 anos, Barghouti foi uma das principais lideranças da Primeira Intifada, o que resultou na sua prisão e deportação para Jordânia, onde ficou por sete anos e só foi solto após os Acordos de Oslo. Após a falha da Cúpula para a Paz em Camp David, em 2000, a impossibilidade de alcançar a autodeterminação do povo palestino a partir de uma luta pacífica fez com que o líder mudasse a visão de como seria a melhor forma de lutar pelo Estado Palestino. Ele participa, assim, da Segunda Intifada, tornando-se líder do Fatah na Cisjordânia e chefe de seu braço armado, o Tanzim, passando a defender a expulsão dos israelenses da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Barghouti foi preso novamente durante a Segunda Intifada, dessa vez acusado pelo governo de Israel de ter liderado ações responsáveis por cinco mortes, mesmo não tendo participado diretamente. Ao ser preso, o líder palestino não apresentou defesa por afirmar que seu julgamento era ilegal e ilegítimo, mas sempre deixando claro que apoia a resistência armada do povo palestino e que não é a favor da morte de civis. Mesmo preso, Barghouti seguiu sendo fundamental na luta pela Palestina, chegando a ser uma peça importante na mediação do acordo Fatah-Hamas em 2007.
No dia 15 de abril completará 22 anos da prisão de Marwan Barghouti e mesmo após duas décadas no cárcere, seu nome segue sendo símbolo de resistência e esperança palestina. Em pesquisa feita em dezembro de 2023, o nome de Barghouti apareceu em primeiro lugar como candidato à presidência na Palestina, estando 40 pontos à frente de Mahmoud Abbas, atual líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), e até mesmo estando à frente de nomes do Hamas, como Ismail Haniyeh.
O Hamas tem crescido sua área de influência fora da Faixa de Gaza e a ANP tem perdido força e tem sido cada vez mais criticada. Segundo pesquisa feita pelo Centro Palestino de Investigação Política e de Estudos (PSR)*, o apoio a Abbas e ao Fatah diminuiu drasticamente após o início do massacre do Estado de Israel ao povo palestino em outubro de 2023, e Barghouti consegue ser a figura palestina mais popular em todas as regiões, mesmo sendo líder do Fatah.
Sabendo de sua grande popularidade, o Hamas tem colocado em diversas oportunidades o nome de Marwan Barghouti como um dos presos políticos a serem libertados em um possível cessar-fogo, porém o Estado racista e genocida de Israel segue relutante em libertar o homem capaz de mobilizar e unificar o povo palestino. Após os eventos de outubro, Barghouti deu mais de uma declaração afirmando que a resistência do povo palestino era legítima, incitando o povo a ir às ruas, o maior temor de Israel. Desde então, Barghouti foi enviado à solitária, espancado e, segundo o portal israelense Haaretz, vive em condições desumanas.
A maneira como Barghouti vem sendo tratado após o dia 7 de outubro de 2023 demonstra mais uma face do governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu, que já declarou inúmeras vezes não ser a favor de um Estado Palestino, o que cada vez mais tem isolado seu governo na política internacional.
Liberdade para Barghouti, Islam e todos os presos palestinos
A esquerda brasileira deve intensificar a campanha pela libertação dos presos políticos. As dezenas de comitês de apoio e solidariedade à causa Palestina podem e devem informar a situação desumana em que são tratados milhares de ativistas.
Estamos em um ponto de inflexão. A luta pelo cessar-fogo está em seus momentos decisivos. Junto a ela, reforçar os elos para uma luta mais ampla e permanente acerca dos direitos palestinos em Gaza, na Cisjordânia e no mundo; boicotar o Estado de Israel e. construir redes de solidariedade para o futuro da luta do povo palestino. A Conferência Antifascista, que terá lugar em Porto Alegre, vai ser mais um capítulo de conexão com entre o ativismo no mundo e a impressionante resistência palestina.