Uma oportunidade para o petismo não fazer o serviço da direita em Floripa
A capital catarinense é uma prioridade para os neofascistas manterem seu “patrimônio eleitoral” no país, isso seria suficiente para afirmar a necessidade de unidade das forças progressistas. Entretanto, o lulo-petismo quer dar chance para Topázio se reeleger, mantendo a cidade à serviço das empreiteiras
Foto: Divulgação
A unidade forçada das forças progressistas para garantir Décio Lima como “o candidato” de Lula ao governo de Santa Catarina, com o tempo histórico, comprova os evidentes erros de direção e agora cobra a conta. Sobretudo, demonstra a precariedade analítica das esquerdas para combater o neofascismo. Com Lula no governo, o lulo-petismo florianopolitano se amesquinha, pensando em ampliar sua única cadeira (enquanto o PSOL tem três), e divide as esquerdas locais. É necessário compreender a conjuntura local e unificar esforços para derrotar Topázio, longa manus das empreiteiras, dos especuladores e outros setores da burguesia local e transnacional.
A expressão do bolsonarismo catarinense é vigorosa pela legitimação das urnas. As mesmas que elegeram Lula Presidente, contestadas desonestamente na tentativa de golpe de 8/1, também conduziram: Jorginho Mello ao governo de Santa Catarina (um integrante do baixo clero e da direita tradicional, convertido à bolsonarista proeminente), o senador indicado por Jair (dito zero cinco), a maior bancada catarinense na Câmara Federal e na ALESC (Assembleia Legislativa de Santa Catarina).
Esse acúmulo eleitoral coloca Floripa dentre as prioridades da atuação dos neofascistas nas eleições municipais de 2024, por se tratar de uma capital deslocada das prioridades do petismo, focado na disputa dos grandes centros, deixando prevalecer interesses umbilicais. Da mesma forma, localmente o bolsonarismo graça com a garantia de uma cadeira na Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú para o assessor do senador Seif, “por acaso” o filho do Jair, o Renan (o zero quatro).
Não é por acaso que fizemos um vigoroso embate no interior do PSOL-SC para que tivéssemos condição de enfrentar esses desafios [1] [2] [3] [4], bem como fomos a primeira organização política a pautar a necessidade de unidade nas eleições de 2022 [5]. Temos responsabilidade política, sem aparatos e construindo na base, em detrimento dos acordos históricos no pequeno condomínio da esquerda mequetrefe catarinense, composta de lideranças no ocaso do seu prestígio, mas estabelecidas em pequenos aparelhos burocráticos.
As eleições municipais podem trazer tentações para quem está muito próximo do poder Estatal, mesmo que no 3º escalão do Governo Federal. Parece que há uma conta, muito mal feita, por lideranças petistas que consideram Topázio imbatível, por isso, o máximo da sua ousadia é tentar surfar com uma hipotética avaliação positiva de Lula. Esses senhores, sempre esses senhores (como falam, com razão, as nossas camaradas feministas), fazem um cálculo eleitoralista sobre o quociente eleitoral e a atração de votos dispersos do lulismo para recuperar uma cadeira na Câmara Municipal . Pergunto: qual o projeto de cidade?
A recente pesquisa divulgada pela Revista Exame [6], realizada apenas por telefone, indica uma preferência bem óbvia para o atual prefeito social media de Floripa [7], apresentando em segundo lugar o companheiro Marquito do PSOL, com pequena diferença para o ex-senador, ex-prefeito por duas vezes (em cada cidade) de Florianópolis e de São José, Dário Berger. Sim. O candidato ao senado “de Lula”, que saiu do MDB para perder a reeleição pelo PSB e agora está no PSDB, tem uma margem muito próxima de intenção de voto da pré-candidatura do PSOL. E o PT? Faz um serviço inestimável para a direita.
É necessário contextualizar o universo de votantes em Floripa, Gean Loureiro que foi reeleito no ano de 2020 com 53,46% do votos (e Topázio, seu vice, assumiu a prefeitura 15 meses depois), se garantiu no 1º turno com uma diferença de 8.165 votos. Ou seja, quando o petismo coloca como prioridade ampliar sua única cadeira na Câmara Municipal, está abrindo as portas para que o conluio entre o bolsonarismo e as burguesias local e transnacional (afinal, o neofascismo está sempre associado ao capital), continuem parasitando a cidade.
Sejamos objetivos: mesmo que Lula colocasse no colo o Lela (Vanderlei Farias, ex-vereador do PDT, recém filiado ao PT e pré-candidato a prefeito de Floripa por Décio Lima e Ideli Salvatti), não decolaria! Tanto é que na pesquisa eleitoral, registrada no TSE, a vereadora Carla Ayres (PT) é a pessoa mais citada nas intenções de voto entre os petistas. Isto é, pretende-se repetir o mesmo peso nulo que foi Décio na eleição de Lula. Mas, isso são inferências. Pergunto, novamente, e de outra forma: cidade pra quem?
É necessário e urgente construir um programa de governo que dialogue, diretamente, com a classe trabalhadora. Nem o PSOL, tampouco o PT, tem feito isso. Participamos das iniciativas impulsionadas pela plataforma “Floripa Mais Querida” [8], porém, ainda percebemos ela adstrita à vanguarda. A pré-candidatura do companheiro Marquito tem condições de ampliar o alcance eleitoral histórico das esquerdas. Sobretudo, para derrotarmos o bolsonarismo é fundamental unificarmos o campo progressista de Floripa e reverberar um projeto de cidade que reflita as necessidades da classe-que-vive-do-trabalho.