Apib pode deixar comissão do STF que propõe conciliação sobre marco temporal
Articulação dos Povos Indígenas pediu prazo de 48 horas para decidir se participará de próxima audiência na Corte
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
A Articulação dos Povos Indígenas (Apib) está considerando se retirar da comissão de conciliação do Supremo Tribunal Federal (STF) que discute o marco temporal para a demarcação de terras indígenas. Essa posição foi declarada na segunda-feira (5), durante a primeira audiência convocada pelo ministro Gilmar Mendes para tratar do tema.
De acordo com a Apib, uma das principais entidades que representam os povos indígenas no Brasil, os direitos dos povos indígenas são inegociáveis e não há igualdade nas discussões. Durante a audiência, a entidade solicitou um prazo de 48 horas para decidir se participará da próxima reunião, agendada para 28 de agosto.
O juiz Diego Viegas Veras, que presidiu a audiência, afirmou que os trabalhos da comissão continuarão mesmo se a Apib decidir não participar das reuniões, após ouvir as preocupações da entidade sobre a falta de igualdade no debate.
Segundo Kleber Karipuna, coordenador da Apib, a participação da entidade na conciliação depende da suspensão pelo Supremo da lei do marco temporal.
“A lei precisa ser suspensa para, em pé de igualdade, em condições de debate, a gente seguir minimamente nesse processo. Não havendo a suspensão da lei, a gente continua com a insegurança jurídica sobre os territórios, os povos indígenas sendo atacados”, afirmou ele à Agência Brasil.
Karipuna também afirmou que os indígenas não aceitam uma flexibilização favorável ao marco temporal.
“É inegociável. Para a gente, a posição do Supremo no ano passado é clara, que, por 9 a 2, decidiu pela inconstitucionalidade da tese do marco temporal”, completou.
“É inegociável. Para nós, a posição do Supremo no ano passado foi clara: por 9 a 2, decidiu pela inconstitucionalidade da tese do marco temporal”, completou.
A audiência foi convocada pelo ministro Gilmar Mendes, relator das ações protocoladas pelos partidos PL, PP e Republicanos para manter a validade do projeto de lei que reconheceu o marco, e de processos nos quais entidades indígenas e partidos governistas contestam a constitucionalidade da tese.
Além de levar o caso para conciliação, Mendes negou um pedido de entidades para suspender a deliberação do Congresso que validou o marco, decisão que desagradou os indígenas.
As reuniões estão previstas para seguir até 18 de dezembro deste ano.
Conciliação
Segundo a tese do marco temporal, os indígenas só têm direito às terras que estavam sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal, ou que estavam em disputa judicial naquela época.
Em dezembro do ano passado, o Congresso Nacional derrubou o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que validava o marco temporal. Antes dessa decisão dos parlamentares, em setembro, o Supremo Tribunal Federal já havia decidido contra o marco. Essa decisão do STF foi considerada pela equipe jurídica do Palácio do Planalto para justificar o veto presidencial.
Na abertura da audiência, os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso defenderam a conciliação.
*Com informações da Agência Brasil