Nova edição da Revista Movimento debate emergência climática
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Se há algo que ganhou a consciência de milhões de pessoas nos últimos anos são os limites concretos e objetivos que a natureza impõe à sociedade, e as consequências disso. São inúmeros os episódios que demonstram que não há como fugirmos da emergência climática. Mas, se por um lado seus efeitos afetam, ainda que de forma desigual, toda a sociedade, por outro, não temos todos as mesmas responsabilidades nesse processo. Apesar dos discursos e políticas que imputam aos cidadãos a ideia de que a mudança de hábitos e costumes é o caminho para resolvermos a crise ambiental, defendemos que a real e qualitativa mudança só pode vir de uma alteração sistêmica. É o sistema capitalista, afinal, o responsável. Sem alterarmos a lógica de produção e exploração que vê o lucro acima da vida, não há mudança individual de hábitos e costumes capaz de acionar o freio de emergência exigido pelo momento.
E talvez seja esta uma das principais lutas de nossos tempos: conectar e reacender a chama da luta por outra sociedade a partir da experiência de milhões com as catástrofes ambientais. Catástrofes essas que nos ameaçam ora a morrer de calor, ou de frio, ora a afundados em grandes enchentes, ou por falta d’água devido a grandes secas. São tempos de extremos, que clamam por lutas de urgência.
Porém, nestes tempos de crises multifacetadas, ou de policrises, os extremos não se apresentam apenas na intensidade dos eventos climáticos. Eles também se traduzem nas lutas políticas através de seus porta-vozes. A extrema direita é uma realidade em vários países do mundo, e as eleições se tornaram palcos desses enfrentamentos. Em consonância com o ideário neoliberal de proposição de saídas individuais para problemas coletivos, esses porta-vozes negam a emergência climática, apresentam narrativas antissistêmicas ao apodrecido poder político e econômico, e acabam por alimentar frustrações e desesperanças. Na França, a urgência de derrotá-los convocou uma unidade de novo tipo e método, na qual as mobilizações foram determinantes. Estamos acompanhando como essa experiência vitoriosa se desenvolverá. Afinal, não há possibilidade de alteração da correlação de forças sem ação de rua, sem auto-organização e mobilização.
Entretanto, do lado de cá, da esquerda, nos falta ainda um organizador coletivo que unifique as esferas sociais e políticas, ao redor de programa de transição. Esta edição da Revista Movimento tem o intuito de contribuir com esse debate, fortalecendo ideias e pautas capazes de sintetizar um programa de esquerda passível de vitórias.
No dossiê intitulado Cidades contra o colapso: derrotar a extrema direita e o negacionismo climático, reunimos uma série de artigos, entrevistas e estudos de caso que exploram as interseções entre a política, a economia e o meio ambiente. A complexidade dos desafios contemporâneos requer uma abordagem multifacetada, e é isso que este dossiê busca oferecer. Ele é aberto pela entrevista realizada com Roberto Robaina, dirigente do Movimento Esquerda Socialista (MES), organização que fundou o PSOL, e vereador do partido em Porto Alegre. Nela, discutimos os desafios da conjuntura e as estratégias necessárias para combater a extrema direita e construir alternativas de esquerda. Além disso, destaca-se a experiência do Rio Grande do Sul com a última tragédia ambiental e a importância das cidades enquanto arenas cruciais para os próximos embates políticos a serem travados.
No artigo Emergência climática, cidades e ecossocialismo, José Corrêa Leite, professor e militante internacionalista, nos conduz através das interseções entre a crise climática e o movimento ecossocialista, explorando como esta bandeira deved ter centralidade dentro da esquerda revolucionária. Na sequência, o destacado sociólogo Gabriel Feltran, em entrevista ao economista e doutorando na Unicamp Pedro Micussi, aprofunda uma questão urgente: a lógica do crime organizado sob o capitalismo contemporâneo e a necessidade de mudanças no funcionamento de nosso sistema de segurança pública. Em seguida, o renomado professor e psicanalista Christian Dunker analisa as dificuldades enfrentadas pelos estudantes universitários em Sofrimento universitário em estrutura de condomínio, abordando o impacto do neoliberalismo na vida desses jovens.
Em Território e racismo ambiental: como as desigualdades se expressam?, a professora Ruth Helena Almeida Cristo nos lembra que, seja no meio rural ou urbano, as manifestações da crise ambiental estão diretamente relacionadas com as desigualdades raciais e sociais. A vereadora do PSOL Mariana Conti e a socióloga Aline Schmidt apresentam, depois, uma experiência concreta de organização popular a partir da pauta ambiental em A construção da Comissão Popular da Água e do Clima: uma experiência de Campinas, exemplificando como a mobilização popular e as ações coletivas podem denunciar as crises hídricas e climáticas. Então, o geógrafo e mestrando na USP Bruno Carvalho oferece uma contribuição teórica a partir de seus estudos e prática militante como dirigente do MES/PSOL em São Paulo em As cidades brasileiras e a acumulação capitalista: alguns apontamentos teóricos, analisando a relação entre a urbanização e a acumulação capitalista no Brasil e a forma como essas dinâmicas moldam nossas cidades.
Na seção internacional, apresentamos com muito entusiasmo a entrevista realizada pelo dirigente nacional do MES/PSOL e sociólogo Israel Dutra com Olivier Besancenot, carteiro de profissão e porta-voz do Novo Partido Anticapitalista (NPA) francês, na qual se discute a necessidade de construção de uma esquerda anticapitalista independente e os desafios colocados após a vitória da Nova Frente Popular em seu país.
Por fim, apresentamos o manifesto da campanha que impulsiona atualmente o coletivo feminista Juntas!, Nem um passo atrás: aborto legal é direito!, de defesa do direito ao aborto legal, enfatizando a luta contínua pelos direitos reprodutivos e pela autonomia das mulheres.
Esta edição visa fornecer uma compreensão abrangente das crises atuais e dos desafios de ação, organização e mobilização nesse contexto. Trata-se de um material vivo, denso e dinâmico que esperamos poder ser útil a todos que buscam saídas coletivas para os problemas que enfrentamos.