Apresentação da Revista Movimento n.6
As origens do stalinismo, o futuro da Operação Lava Jato e uma análise do “centro” neoliberal europeu são alguns dos temas abordados nesta edição.
100 anos depois de Outubro, a luta pelo socialismo é ainda mais atual
Apresentamos a sexta edição de nossa Revista Movimento num momento especial. Por todo o mundo, a militância socialista, os ativistas dos movimentos sociais, a intelectualidade e até a imprensa burguesa e seus analistas realizam debates sobre os significados e o legado da grande Revolução de Outubro de 1917, quando as massas russas, organizadas em sovietes, reagiram à opressão do czarismo, ao desastre da guerra e à fome tomando em suas mãos o poder e realizando a ousadia histórica de construir uma nova forma de organizar o Estado, a economia e as relações sociais. A sua frente, uma organização, liderada por gigantes como Lênin e Trotsky, que combinaram sólidos alicerces teóricos marxistas, uma compreensão profunda do estágio da luta de classes, do capitalismo internacional e da realidade russa com a disposição de resistir à autocracia Romanov nas condições mais difíceis da clandestinidade, das prisões, do exílio e da guerra. Com os bolcheviques, após anos de lutas políticas entre partidos e tendências do movimento socialista, milhões de operários, camponeses e soldados ergueram a República dos Sovietes, imediatamente acossada pela oposição militar interna e por exércitos de potências estrangeiras.
A história que se seguiu, apesar de conhecida, segue sendo objeto de discussão e polêmica, demonstrando que a Revolução Russa segue sendo o maior acontecimento da história da humanidade e que as lutas do futuro ainda trarão uma nova compreensão dos feitos heroicos da classe trabalhadora russa, que mostraram às gerações futuras não haver nada em nenhuma escritura divina ou na natureza – parafraseando o revolucionário argentino Nahuel Moreno – que determine a impossibilidade da vitória daqueles, em todo o mundo, que produzem a riqueza material e espiritual de nossa espécie.
Sem pretender nesses curtos parágrafos acrescentar algo a esta interessante reapropriação da história e das lições de Outubro que tem tido curso nos últimos meses, gostaria apenas de assinalar que, com nossa publicação, temos pretendido dar nossa modesta contribuição à elaboração e à difusão de ideias e da crítica a serviço das lutas das trabalhadoras e trabalhadores, da juventude, de negras e negros, e LGBTs. Com nosso novo sítio movimentorevista.com.br, lançado em conjunto com a última edição impressa, temos diariamente oferecido espaço a elaborações próprias de nossos colaboradores e traduzido o que de melhor tem circulado nas publicações socialistas internacionais.
Para marcar esta importante efeméride do centenário da Revolução Russa de Outubro de 2017, nossa Editora Movimento lançou, em conjunto com a Editora Marxista, o livro Stalin, de León Trotsky. Pode-se dizer sem qualquer exagero que se trata da última obra inédita de Trotsky em português, já que as edições anteriores estavam baseadas na tradução dos anos 40 realizada por Charles Malamuth, cheia de distorções e omissões. Nossa edição beneficiou-se do intenso trabalho coordenado por Alan Woods, que retornou aos originais de Trotsky depositados na Universidade Harvard para recuperar o material até então inédito. Realizamos bem-sucedidos eventos de lançamento de nosso livro em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis e Curitiba e, em breve, o livro estará disponível em todo o país.
Após a publicação, em nossa quarta edição, de um dossiê sobre a Revolução Russa, trazemos, neste número 6 da Revista Movimento, um artigo inédito de Kevin Murphy, professor de História Russa na Universidade de Massachusetts, traduzido por Daniela Mussi, sobre as origens do stalinismo, fruto de longa e rigorosa pesquisa do autor. O artigo oferecerá ao leitor um interessante e inovador ponto de vista sobre a ascensão do stalinismo, a coletivização forçada no campo e o papel dos “kulaks” no debate político do período.
As novas denúncias contra Michel Temer e a cúpula corrupta do PMDB são objeto da atenção de Luciana Genro, que escreve sobre o tema, após semanas de especulações na imprensa sobre o “fim da Lava Jato”, por conta da intensa pressão da casta política contra as investigações de corrupção.
Para marcar as comemorações do mês da consciência negra, em novembro, reproduzimos a vibrante intervenção realizada por Angela Davis na Universidade Federal da Bahia no último mês de julho.
Na seção internacional, abordamos temas candentes da situação mundial. Charles Rosa e Pedro Fuentes assinam artigo de análise sobre a luta pela independência da Catalunha, luta democrática fundamental que deve ser estudada e apoiada pelos socialistas de todo o mundo, contra a qual se erguem a monarquia Bourbon espanhola, o capital europeu e a burocracia de Bruxelas, além dos inúmeros lacaios saudosos do colonialismo ibérico em nosso continente. Ainda sobre a Europa, traduzimos artigo de Perry Anderson, originalmente publicado na New Left Review, com uma análise sobre a vitória de Emmanuel Macron, a situação da luta política francesa em perspectiva histórica e a resiliência do “centro” neoliberal europeu. Na América Latina, mais uma vez nossa publicação abre espaço para a situação venezuelana, com um longo artigo do sociólogo Edgardo Lander com um balanço do processo bolivariano e da crise do país com a degeneração promovida pelo governo de Maduro.
Nossa seção teórica publica a primeira parte da introdução ao pensamento do comunista italiano Antonio Gramsci elaborada especialmente para a Revista Movimento por Alvaro Bianchi, após a realização dos cursos promovidos por nossa revista e pela Rede Emancipa sobre o pensamento gramsciano em São Paulo e Porto Alegre. Na edição seguinte, publicaremos a segunda parte deste instigante e inédito material. Além disso, na seção, também publicamos artigo cuidadoso de Maycon Bezerra sobre a vida e a obra intelectual e política de Florestan Fernandes, a quem, em tempos como os que vivemos, sempre há inspiração a buscar em defesa da Revolução Brasileira.
Finalmente, publicamos dois documentos: a Plataforma Sindical Anticapitalista, escrita pela militância sindical do Movimento Esquerda Socialista, com nossa concepção sobre a luta dos trabalhadores e o atual estágio do movimento sindical de nosso país; e nossa tese ao VI Congresso do PSOL, com a qual apresentamos nossas posições para que o partido, diante da crise em que se encontra o Brasil, possa converter-se numa alternativa aos ataques da burguesia e à corrupção da casta.
Boa leitura!