A greve da PepsiCo colocou a luta contra a escala 6×1 no chão da fábrica
A lutas dos trabalhadores em São Paulo foi um marco na mobilização para melhores jornadas de trabalho.
Foto: STILASP/Reprodução
Se encerrou, após 9 dias, a greve da PepsiCo que envolveu as unidades de Itaquera e Sorocaba com a pauta da redução da jornada de trabalho, contra as escalas 6×1 e 6×2 operadas pela empresa. A greve em Sorocaba foi interrompida antes. O resultado foi a aceitação pelo sindicato e categoria dos termos ditados na conciliação do Tribunal Regional do Trabalho, que teve lugar no dia 02 de dezembro.
Houve uma vitória parcial, precária, do ponto de vista dos resultados. Foram quatro itens centrais negociados: i) a abolição de uma semana da escala 6×1, podendo chegar a duas, dependendo das horas extras trabalhadas; ii) uma mesa de 70 dias para chegar a uma nova escala, uma transição a partir do que se estabeleceu; iii) não desconto dos dias de greve e; iv) 45 dias de estabilidade dentro da planta. Dada as duríssimas condições da greve, a repressão patronal e a própria relação de forças dentro da empresa, a aceitação dos termos foi um imperativo. E abriu um sentido positivo no âmbito geral, com um sentimento de vitória parcial.
A Pepsico é uma multinacional que controla diversos ramos e marcas de destaque no setor de alimentação. Na unidade de Sorocaba é produzido e embalado o conjunto da linha “Toddy”, da marca Quaker. Na unidade de Itaquera, zona leste de São Paulo, são produzidos a linha de processados da Elma Chips, os salgadinhos “Torcida” e “Fofura”. A planta da zona leste da capital emprega cerca de 750 funcionários, divididos nos três turnos de trabalho.
Depois de 4 meses de negociação, a greve foi deflagrada no bojo do sucesso de redes do movimento VAT. Após o anúncio da PEC e do ato do dia 15 de novembro, o sindicato (STILASP) aproveitou a oportunidade para visibilizar sua negociação sobre do rodízio de folgas nas semanas através da luta “contra a escala 6×1”.
A greve foi combatida pela empresa com repressão policial, medidas na imprensa e por fim, com assédio moral ostensivo e ameaças de demissão, via grupos de whatsapp, exigindo a volta ao trabalho. Como definiu Carlos Oliveira (Carlão), presidente do STILASP, na assembleia final, em frente à fábrica:
Foi um acordo possível, mas insuficiente. Nossa greve recolocou a redução da jornada no centro da pauta sindical. A luta histórica é pelas 40 horas semanais.
Consciência e solidariedade
Os patrões indicaram sua “solidariedade de classe”. A greve ganhou contornos mais amplos quando a ABIA e CNI entraram como parte no processo para declarar ilegal o movimento. A exposição de motivos da CNI é uma peça bastante política do pensamento patronal, pelo risco que uma vitória na PepsiCo teria por conta do efeito contágio nessa época do ano.
Após a greve, a PepsiCo tomou medidas para aplacar o descontentamento (um abono de 440 reais no final do ano para todos) e promover a prática anti-sindical, ao propor um bônus aos fura-greves. Além disso, plantou na imprensa corporativa uma série de matérias para melhoria da imagem da empresa, visto a repercussão que a greve alcançou.
A solidariedade do lado dos trabalhadores também se fez sentir. Sindicatos de todo o país, movimentos via redes sociais, setores políticos se manifestaram em apoio à greve, como a declaração do jurista Jorge Souto Maior ou o manifesto internacional que foi articulado , traduzido em quatro línguas, com algumas adesões internacionais, foram vistas como simpatia.
Houve um boicote por parte dos principais aparelhos sindicais do país: CUT, FS E CTB.
O VAT se fortaleceu. Na assembleia final, seus representantes de SP foram recebidos com autoridade e respeito. Rick Azevedo foi mencionado e aplaudido. Erika Hilton, proponente da PEC, se referenciou bastante. O PSOL, aliás, de conjunto, apareceu como principal força de apoio à greve, com Luana Alves, Amanda Paschoal, Monica Seixas, Sirlene Maciel estando presente nos piquetes e intervindo em solidariedade, na porta da Pepsico.
O pronunciamento que Sâmia Bomfim fez no congresso nacional repercutiu em todos os grupos da categoria.
Também estiveram presentes o PSTU, UP, CST, Revolução Socialista (corrente interna do PSOL), MRT, Soberana e alguns grupos de esquerda minoritários.
Nosso apoio
Estivemos desde o primeiro momento, como vanguarda na solidariedade, com uma parte importante de quadros e militantes se envolvendo, desde a juventude, quadros sindicais e políticos, presente em todos sete dias de piquete, nas reuniões com o sindicato, na conciliação, e sobretudo no apoio e solidariedade.
O saldo mais importante foi ter trazido para o chão da fábrica o debate das redes contra a escala 6×1. Esse conceito foi desenvolvido na assembleia final ontem e é objetivo. A instalação da luta contra a 6×1 dá um salto com a greve da PepsiCo. Pelas redes se espalham iniciativas e reclames das categorias. Isso deve ser acompanhado, monitorado, porque podemos ter novas “PepsiCo”, ainda que o clima de final de ano seja mais dilatador da pressão social operária.
Iniciativas como as que os parlamentares do MES fizeram no Brasil inteiro, ou numa escala menor e estrutural, o abaixo assinado que no nosso grupo de trabalhadores na Veterinária da USP, pedindo o fim da 6×1 para os trabalhadores terceirizados, devem seguir, serem estimuladas, difundidas e centralizadas para seguirmos nossa orientação a respeito dessa luta.
Há que reforçar e valorizar o esforço dos mais de 20 militantes que estiveram nos piquetes, das nossas figuras públicas e do empenho como um todo do MES como corrente para intervir nessa e em futuras greves, por serem uma escola, não só para a classe que acompanha, via redes e outros meios, mas também para nossa própria militância.
Perspectivas
A luta contra a escala 6×1 está na agenda da sociedade. E existe uma corrente de opinião, subterrânea e ainda pouco consciente e organizada, dentro dos locais de trabalho, nas camadas mais amplas e jovens do proletariado brasileiro que começa a demandar melhores condições de trabalho. Estamos falando de dezenas de milhões de pessoas, espalhadas pelo país, com parcelas concentradas nas grandes cidades, que discute, pensa, como e quando agir a respeito.
A pesquisa que foi publicada no jornal Folha de São Paulo indica que 89% dos entrevistados sabem que a proposta pelo fim da escala 6×1 está sendo discutida no Congresso. E que 70% apoiam diretamente o fim da escala 6×1, superando alinhamentos ideológicos, dado que eleitores de direita em sua maioria também são favoráveis.
O PSOL deve apoiar de forma firme a disseminação dessa mobilização. E combinar com outras importantes bandeiras, necessárias, como a luta contra os cortes no BPC, propostas no pacote de final de ano do governo( a bancada corretamente votou contrária), a denúncia da escalada repressiva da polícia contra a juventude negra e periférica, além da luta pela prisão de Bolsonaro que terá um novo capítulo na manifestação programada para dia 10 de dezembro.