‘Nunca foi um tempo tão bom para ser um bilionário’
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‘Nunca foi um tempo tão bom para ser um bilionário’

Relatório da Oxfam diz que a renda dos mais ricos do planeta aumentou em US$ 2 trilhões em 2024, evidenciando manutenção de lógicas e práticas colonialistas que aprofundam desigualdades

Tatiana Py Dutra 20 jan 2025, 11:55

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

“Nunca foi um tempo tão bom para ser um bilionário”. Essa afirmação inicia a apresentação do relatório “Às custas de quem: A Origem da Riqueza e a Construção da Injustiça no Colonialismo”. O documento, produzido pela Oxfam, foi lançado por ocasião da reunião do Fórum Econômico de Davos 2025 e divulgado nesta segunda-feira (20). 

Em 100 páginas, o documento detalha a diferença entre o mundo rico e o restante do mundo. Em 1820, a renda dos 10% mais ricos do planeta era 18 vezes maior do que a dos 50% mais pobres. Em 2020, era 38 vezes maior. 

Em 2024, a riqueza desse grupo cresceu num ritmo três vezes maior que em 2023: os muito ricos amealharam US$ 2 trilhões (cerca de R$ 12 trilhões). O documentário ainda adverte que, apesar do discurso que as fortunas são constituídas por trabalho árduo, 60% dos bilionários se tornaram ricos por herança, “criando uma nova oligarquia aristocrática que tem imenso poder em nossa política e em nossa economia”. Em 10 anos, pelo menos cinco nomes da seleta lista de bilionários terão se tornado trilionários, ao passo que o número de pessoas que vivem na pobreza praticamente não mudou desde 1990 e deve aumentar na próxima década.

“A maior parte da riqueza dos bilionários é tomada, não conquistada – 60% vem de herança, favoritismo e corrupção ou poder de monopólio. Nosso mundo extremamente desigual tem uma longa história de dominação colonial que beneficiou amplamente as pessoas mais ricas”, diz trecho do levantamento. “O mundo de hoje continua colonial em muitos aspectos. O cidadão belga tem 180 vezes mais poder de voto no Banco Mundial do que o cidadão etíope. Esse sistema continua a extrair riqueza do Sul Global para o 1% super-rico do Norte Global a uma taxa de US$ 30 milhões por hora. Isso precisa ser revertido”.

Taxação de grandes fortunas

O documento sugere que sejam feitas reparações àqueles que foram brutalmente escravizados e colonizados – e afirma que as pessoas mais ricas, que são as que mais se beneficiaram desses sistemas devem pagar a conta. 

“As ideias venenosas de uma hierarquia de raças sustentaram o período colonial. Geralmente, se baseando em falsidades pseudocientíficas que propunham a natureza sub-humana de algumas pessoas;66 e foram usadas para justificar e legitimar níveis adicionais de exploração de grupos negros e indígenas, bem como genocídio e extermínio.

Esse legado racista profundamente prejudicial e divisivo continua a moldar as sociedades e o mundo de hoje. Os impactos podem ser vistos na Austrália, onde um terço dos povos das Primeiras Nações está entre os 20% mais pobres da população”, diz outro trecho do relatório. 

Conforme o estudo, a política tributária global deve se enquadrar em uma nova convenção tributária da ONU e facilitar o pagamento de impostos mais altos pelas pessoas e empresas mais ricas para reduzir radicalmente a desigualdade e acabar com a riqueza extrema. Algumas estimativas das reparações devidas pelos danos causados pelo tráfico de escravizados africanos giram entre incluem US$ 100 trilhões e US$ 131

trilhões (estimados pelo Brattle Group); US$ 33 trilhões para as nações do Caribe (pela

Caricom); e US$ 20,3 trilhões para os descendentes de negros americanos escravizados vivos hoje, conforme a Universidade de Connecticut). 

“O fornecimento de indenização financeira pelos países responsáveis é apenas um meio de lidar com os legados permanentes da escravidão e do colonialismo. A abordagem da ONU para reparações inclui cinco componentes: restituição, indenização, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição. Da mesma forma, o “Plano de Dez Pontos para a Justiça Reparatória” da Caricom inclui o pedido de desculpas formais completas; repatriação; programas de desenvolvimento dos povos indígenas; instituições culturais; abordagem

da crise de saúde pública; erradicação do analfabetismo; um programa de conhecimento africano; reabilitação psicológica; transferência tecnológica; e cancelamento da dívida”, relata o documento.

O documento ainda sugere o fim do fluxo de riqueza do Sul para o Norte como uma medida crucial para reduzir a desigualdade – uma vez que, em 2023, o 1% mais rico do Norte Global recebeu US$ 263 bilhões do Sul Global por meio do sistema financeiro, o que representa  mais de US$ 30 milhões por hora. Em contrapartida, a ajuda global total do Norte Global para o Sul foi de US$ 223,7 bilhões até 2023.

Um mundo de duas classes: alguns dados

• Em 2024, a riqueza total dos bilionários aumentou em US$ 2 trilhões, com a criação de 204 novos bilionários. Isso representa uma média de quase quatro novos bilionários por semana

• A riqueza total dos bilionários cresceu três vezes mais rápido em 2024 do que em 2023

• Cada bilionário teve sua fortuna aumentada em média US$ 2 milhões por dia. Para os 10 bilionários mais ricos, suas fortunas cresceram em média US$ 100 milhões por dia

• No ano passado, a Oxfam previu um trilionário em uma década. Se as tendências atuais continuarem, haverá agora cinco trilionários em uma década.  Enquanto isso, de acordo com o Banco Mundial, o número de pessoas que vivem na pobreza praticamente não mudou desde 1990

• 60% provêm de herança, favoritismo e corrupção ou poder de monopólio. Em 2023, pela primeira vez, mais bilionários foram criados por herança do que por empreendedorismo

• Em 2023, o 1% mais rico do Norte Global recebeu US$ 263 bilhões do Sul Global por meio do sistema financeiro – mais de US$ 30 milhões por hora

• Dos US$ 64,82 trilhões extraídos da Índia pelo Reino Unido durante um século de colonialismo, US$ 33,8 trilhões foram para os 10% mais ricos; isso seria suficiente para cobrir Londres com notas de 50 libras quase quatro vezes

• A riqueza de cada um dos dez homens mais ricos do mundo cresceu, em média, quase US$ 100 milhões por dia em 2024. Se você fosse um dos primeiros seres humanos, há 315.000 anos atrás, guardando US$ 1.000 por dia, ainda assim não conseguiria ter a mesma quantidade de dinheiro que um dos dez bilionários mais ricos. Se qualquer um dos 10 bilionários mais ricos perdesse 99% de sua riqueza, ele ainda seria bilionário

Fonte: Oxfam


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