Rússia intensifica ataques à Ucrânia enquanto Zelenski busca trégua e Trump impõe condições
Bombardeios russos atingem infraestrutura energética ucraniana; divergências entre Kiev e Washington complicam negociações por um cessar-fogo
Foto: @ZelenskyyUa/Fotos Públicas
A Rússia desencadeou um ataque em grande escala contra a infraestrutura energética da Ucrânia na manhã desta sexta-feira (7), intensificando as hostilidades poucos dias após o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, e seus aliados europeus proporem uma interrupção mútua dos bombardeios contra instalações críticas.
De acordo com a Força Aérea da Ucrânia, Moscou disparou 67 mísseis e lançou 194 drones ao longo da noite, atingindo diversas regiões do país. As defesas ucranianas afirmaram ter derrubado 34 mísseis e 100 drones. Pela primeira vez, caças Mirage franceses, entregues a Kiev no mês passado, foram utilizados na resposta ao ataque aéreo russo.
O Ministério da Defesa da Rússia confirmou os ataques, alegando que miravam infraestruturas que fornecem suporte às operações militares ucranianas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, justificou os bombardeios como alvos estratégicos ligados ao setor militar-industrial da Ucrânia.
A empresa DTEK, principal fornecedora privada de energia na Ucrânia, relatou que suas instalações em Odesa foram atacadas pelo quarto dia consecutivo, enquanto unidades de gás na região de Poltava tiveram suas operações interrompidas devido aos danos causados pelos bombardeios. A estatal de gás Naftogaz também informou danos em suas instalações, sem divulgar detalhes.
O ministro ucraniano da Energia, German Glushchenko, acusou Moscou de tentar minar a vida da população civil ao atingir deliberadamente a produção de eletricidade e gás. Oito pessoas ficaram feridas em Kharkiv, incluindo uma mulher resgatada dos escombros, conforme autoridades locais.
Zelenski propõe trégua seleiva
Em resposta aos ataques, Zelenski reiterou sua proposta de uma trégua nos confrontos aéreos e marítimos, mantendo os combates terrestres em andamento. A iniciativa, inicialmente sugerida pela França, visa limitar a escalada da guerra.
“O primeiro passo para alcançar uma paz real é impedir que a Rússia continue esses ataques”, declarou o presidente ucraniano no Telegram.
O ataque russo ocorreu em um contexto de incerteza sobre o apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, agravado pelo recente atrito entre Zelenski e Donald Trump em Washington. O presidente americano desqualificou a estratégia ucraniana de negociações, levando à suspensão temporária da assistência militar e do compartilhamento de inteligência com Kiev. A decisão gerou críticas dentro dos EUA, inclusive entre aliados republicanos.
Na tentativa de reaproximação com os EUA, Zelenski anunciou que viajará à Arábia Saudita para um encontro com o príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman. A reunião antecederá negociações entre autoridades ucranianas e americanas em Riad, onde um possível cessar-fogo será discutido. O enviado especial dos EUA a Kiev, Steve Witkoff, afirmou que Washington analisará as condições para um acordo inicial e um possível tratado de longo prazo.
Ainda assim, há divergências sobre os termos do acordo. Kiev busca garantias de segurança sólidas, enquanto Washington resiste a firmar compromissos sem contrapartidas, como um possível acordo envolvendo a exploração de minerais estratégicos ucranianos.
Avanço russo e sanções
Nas frentes de batalha, a Rússia continua a avançar na região de Donetsk, intensificando a pressão sobre as tropas ucranianas, que também enfrentam dificuldades para conter ataques na fronteira com a Rússia, na região de Kursk.Enquanto isso, Trump anunciou que considera impor sanções econômicas severas contra Moscou até que um acordo de paz seja alcançado.
“A Rússia está massacrando a Ucrânia no campo de batalha. Estou avaliando sanções bancárias e tarifas massivas até que um cessar-fogo seja negociado”, escreveu Trump em sua rede social Truth Social.
Apesar da postura mais dura em relação a Moscou, o presidente americano tem sido acusado de favorecer Putin no conflito, especialmente após seu governo votar ao lado da Rússia nas Nações Unidas contra resoluções defendidas pelos aliados europeus, que pediam o fim da guerra sem comprometer a integridade territorial da Ucrânia.
Além disso, Trump conversou diretamente com Vladimir Putin no mês passado, em um possível movimento para normalizar as relações e discutir a suspensão de sanções impostas pelo governo de Joe Biden. O contato gerou apreensão entre líderes europeus, que temem uma mudança na abordagem dos EUA em relação ao conflito.
Diante dos avanços russos no campo de batalha e das incertezas sobre o suporte americano, a Ucrânia enfrenta um momento crítico. A principal questão agora é se Kiev e Washington conseguirão alinhar suas estratégias a tempo de impedir que Moscou amplie sua posição na guerra.