Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) completa nove dias em greve de fome, uma escolha radical diante da perseguição política e injustiça do Centrão na Câmara dos Deputados, que pode cassar seu mandato em retaliação às suas denúncias contra o orçamento secreto. Desde o dia 8 de abril, quando o Conselho de Ética deu “sinal verde” para a abertura do processo, Glauber se instalou em um dos plenários da Casa, onde passa os dias em jejum, sob monitoramento médico e em completo isolamento.

Mesmo com dores crescentes e sinais de debilidade física, o parlamentar mantém firme o compromisso com sua causa:

Meu corpo já começa a dar sinais. Tenho tido dor de cabeça, início de desconforto na barriga, mas a cabeça está firme e a missão de continuar nesta batalha mais ainda.

A cassação contra Glauber impulsionada por aliados de Arthur Lyra foi pedida pelo Partido Novo, que o acusa de quebra de decoro por um episódio com um militante do MBL, em que o deputado teria reagido com empurrões à provocação. Glauber nega ter cometido agressão e aponta o processo como parte de uma ofensiva da extrema direita para calar vozes combativas dentro do Congresso.

Um ato político, uma entrega pessoal

O sacrifício de Glauber vai além da denúncia: é ato político de resistência, que cresce em repercussão e solidariedade. Nesta semana, uma vigília foi montada em frente à Câmara, reunindo apoiadores do deputado e opositores do PL da Anistia. O grupo promete manter a mobilização até que o processo contra Glauber seja encerrado.

Glauber dorme no plenário, cercado de cuidados médicos e com visitas cada vez mais controladas. Mesmo assim, na última terça-feira, contrariou ordens médicas e apareceu brevemente para cumprimentar jovens do movimento estudantil. Não discursou, mas sua presença foi recebida com emoção.

Apoio dos que carregam a fé e a justiça

O gesto do deputado também comoveu setores religiosos. Nesta quarta-feira (16), Glauber recebeu uma carta assinada por 32 personalidades cristãs do coletivo Emaús, entre elas nomes de peso como Frei Betto e Leonardo Boff. O documento expressa solidariedade e destaca a dimensão ética e espiritual de sua luta:

Desejamos manifestar a você o nosso apoio e lhe dizer o quanto é importante a sua pessoa neste momento que o Brasil vive e neste Congresso com tantos desafios.

A carta traça um paralelo entre a resistência de Glauber e figuras históricas como Gandhi, Mandela, Luther King e Jesus de Nazaré:

O seu ato de enfrentar seus algozes, suas mentiras e hipocrisias, é valoroso. Sabemos que é preciso uma força extraordinária para nos manter de pé diante dos absurdos.

Apoios diversos e inesperados

A corrente de solidariedade se amplia. Glauber já recebeu visitas de sete ministros do governo Lula, entre eles Sônia Guajajara, Paulo Teixeira, Gleisi Hoffmann e Sidônio Palmeira, além de artistas como Chico Buarque e parlamentares de partidos do Centrão, como Fausto Pinato (PP-SP) e Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP).

Na segunda-feira (14), até um samba ecoou nos corredores do Congresso em apoio ao deputado. Nas redes, hashtags se espalham, e um abaixo-assinado contra a cassação já ultrapassa 154 mil assinaturas.

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