Bolsonaro em prisão domiciliar. E agora?
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Bolsonaro em prisão domiciliar. E agora?

Perante a guerra tarifária de Trump e a reação bolsonarista, é necessária ampla unidade contra o imperialismo e a extrema direita

Israel Dutra 7 ago 2025, 18:44

As manifestações em favor de Bolsonaro, no último domingo (02 de agosto), tiveram força relativa. Demonstraram resiliência e vigor, apesar de bastante distantes, numericamente falando, das maiores manifestações registradas pela extrema direita.

Na segunda-feira, Moraes decretou a prisão domiciliar de Bolsonaro por conta do desrespeito às ordens judiciais anteriores através de atuação provocativa, por telefone e nas redes sociais, durante os atos de domingo. A semana foi de escalada de tensões. A oposição golpista afrontou o Congresso e bloqueou a mesa da presidência, buscando cancelar sessões e pressionar para um acordo por anistia aos golpistas, e os trabalhos legislativos foram retomados só no final da noite de 6 de agosto. Mesma data em que entrou em vigor o tarifaço aplicado por Trump contra as exportações brasileiras.

O clima esquentou na política nacional, replicando os acontecimentos que se desenvolvem há, no mínimo, três semanas. Há uma escalada política e econômica, uma profunda divisão na sociedade – apesar da maioria consolidada contra a guerra tarifária de Trump – e uma necessidade vital de unidade na defesa da soberania.

É papel do PSOL ter nitidez sobre as tarefas do momento e convocar – em ampla unidade – às ruas diante de um cenário tenso e que deve perdurar, antecipando a disputa presidencial de 2026.

Escalada

Trump jogou alto, condicionando a guerra de tarifas à situação política nacional, num verdadeiro lance ofensivo. A resposta das instituições e da maioria da burguesia foi de não aceitar a chantagem de pronto.

Bolsonaro voltou a trucar, após a primeira medida restritiva do uso da tornozeleira e da prisão de Zambeli, convocando os atos que aconteceram no domingo e mobilizaram bases importantes, sobretudo urbanas, ligadas a ala militante da extrema direita influenciada por Silas Malafaia e outros líderes conservadores. Moraes rebateu, dobrou a aposta e pediu a prisão domiciliar de Bolsonaro, que foi respondida com novas ameaças de Trump e a ação concentrada e agressiva dos parlamentares de ultradireita em Brasília.

A retomada dos trabalhos foi feita através de acordo entre Motta, Lira e os líderes partidários, com a extrema direita anunciando nas redes que envolvia a votação da lei de anistia. Alcolumbre e Motta soltaram comunicados dizendo que não ficariam reféns de pautas “e chantagens”, colocando ênfase na votação do projeto de isenção do Imposto de Renda.

Divisão

Duas variáveis vão ser decisivas para os próximos cenários: os desdobramentos econômicos do tarifaço e a dinâmica do alcance das demandas da extrema direita (sobretudo a anistia e a defesa de Bolsonaro). Vale registar que Trump sobretaxou ainda mais a Índia, mesmo com suas simpatias ideológicas com o primeiro-ministro Modi, demonstrando que a articulação internacional da extrema direita está submetida diretamente aos interesses dos Estados Unidos.

Há uma grande divisão e polarização na sociedade brasileira. O tema do tarifaço vai depender, inclusive, de variáveis econômicas e geopolíticas como a dimensão do choque entre os Estados Unidos e os BRICS.

No âmbito político, além da óbvia antecipação da disputa de 2026, a questão será medida pelo comportamente da burguesia. A Globo se posicionou contra a ação bolsonarista de forma aberta. Já a Folha, apenas para citar um exemplo, lançou editorial contrariando a decisão de Moraes no dia seguinte ao anúncio da prisão domiciliar.

O agronegócio segue negociando com a China, que fez uma oferta bastante atrativa quanto à exportação do café brasileiro, indicando um caminho de vantagens no comércio bilateral. Na indústria, um dado importante, pouco noticiado: Skaf volta ao comando da FIESP, substituindo Josué Alencar e ungido por chapa única. A dúvida é se Skaf apontará para o bolsonarismo ou para uma via de superação do mesmo, como indicam as últimas aparições de Armínio Fraga.

A parte majoritária da burguesia gostaria de cultivar as bases políticas do bolsonarismo sem Bolsonaro e seu clã como protagonistas, optando por uma saída “a la Milei”, um neoliberalismo de choque, onde Tarcísio seria o preferido nas internas. Ainda resta saber qual será o alcance futuro do bolsonarismo sobre a burguesia e as camadas populares, mantendo hoje 20% em algumas pesquisas mesmo sem Jair como candidato, nos cenários com Eduardo ou Michelle.

O chamado centrão sabe disso e atua no vórtex político negociando e calculando seus passos, entre os interesses fisiológicos e parte de suas bases eleitorais, parte delas inclinadas ao conservadorismo.

Soberania

Os problemas fundamentais estão colocados: como intervir para evitar uma mudança na relação de forças, como agitar um programa mínimo para ação e como comportar-se diante do processo que se inicia.

Em primeiro lugar, convocar e preparar bem atos com capacidade de juntar dezenas de milhares de pessoas no maior número de cidades, como foi feito, por exemplo, no auge da luta pelo “Fora Bolsonaro”. Uma proposta é aproveitar a data do dia 14 convocada pelo movimento estudantil para fazer um ato maior. As frentes e setores sociais devem sentar-se para pensar um calendário unitário.

De outra parte, defender a soberania nacional como forma de proteger empregos, nossa economia real, aproveitando o enorme espaço que existe entre a classe na defesa de bandeiras como o fim da escala 6×1, a taxação dos mais ricos e a isenção prometida de faixas do imposto de renda. E lutas que seguem expressando necessidades programáticas, incorporando a necessidade do embargo energético à Israel e o veto total do “PL da Devastação”.


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Israel Dutra | 07 ago 2025

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