85 anos sem Leon Trotsky. Por que reivindicamos o seu legado?
85 anos desde a morte de Leon Trotsky, um dos dirigentes da Revolução Russa assinado a mando de Stálin
Em primeiro lugar, diferente de outros revolucionários de seu tempo, como Antonio Gramsci e Rosa Luxemburgo, Trotsky fundou uma corrente revolucionária internacional para a ação, à luz da necessidade concreta de uma época. Por isso, enquanto Stálin dissolveu a Internacional Comunista e eliminou fisicamente quase todo Comitê Central que dirigiu a Revolução de Outubro de 1917, Trotsky fundou a IV Internacional com o objetivo dessa organização ser o fio de continuidade do programa marxista, do legado do partido bolchevique e do internacionalismo proletário.
Mas não só, Leon Trotsky contribuiu de modo contundente com o arsenal da teoria marxista em pelo menos quatro elaborações originais: o desenvolvimento da teoria da revolução permanente (1906 e 1927); a Lei do movimento desigual e combinado; teoria dos estados operários burocratizados; e o programa de transição. De tal modo, mesmo se integrando no Comitê Central do Partido Bolchevique em junho de 1917, Trotsky se materializou num dos melhores bolcheviques, sendo na prática o Nº2 na hierarquia, só abaixo de Lênin.
E, não era para menos, uma vez que Trotsky foi o principal aliado de Lênin no giro político do partido sintetizado nas Teses de Abril. Isto é, a defesa da revolução socialista na Rússia após a queda do czarismo (linha que se aproximou da primeira teoria da revolução permanente) e não o apoio crítico ao Governo Provisório de Kerensky, defendido por “velhos” bolcheviques como Stalin, Kamenev e Zinoviev.
Ademais, como registra a magnífica obra de John Reed “Dez dias que abalaram o mundo”, Trotsky foi um dos principais oradores da revolução, além de ter sido eleito presidente do soviet militar revolucionário e comandante em chefe, sobretudo, construtor do Exército Vermelho. No entanto, mesmo com todo poder e prestígio acarretado com o triunfo da Revolução de Outubro e da vitória na Guerra Civil, se colocava como discípulo de Marx e Lênin, inclusive escrevendo um paralelo entre os dois mestres do comunismo. De tal forma, é tocante a passagem do livro autobiográfico “Minha Vida” em que Trotsky comenta a carta de Krupskaia, companheira de Lênin, após sua morte:
“Caro Lev Davidovich [Trotsky],
Escrevo para lhe contar que, cerca de um mês antes de sua morte, folheando seu livro, Vladimir Ilitch [Lênin] parou na passagem em que você faz uma caracterização de Marx e de Lênin e pediu-me para le-la uma vez mais. Escutou atentamente, e, mais uma vez, quis reler com seus próprios olhos.
Eis o que quero lhe dizer: os sentimentos de Vladimir Ilitch nutriu por você desde a primeira vez, em Londres, quando chegou da Sibéria, não se modificaram em nada até a sua morte.
Desejo, Lev Davidovich, que guarde suas forças e sua saúde.
Abraço-te fortemente.
N. Kruspskaia”
Portanto, não é preciso dissecar o “Testamento de Lênin” para concluir o nível de admiração do chefe do partido bolchevique, que definiu Trotsky, em 1922, como o mais capaz do Comitê Central. Ao mesmo tempo, Trotsky iguala a importância de Lênin ao papel de Marx na história. Quer dizer, para Trotsky, Marx e Lênin foram “os dois pontos altos da potência espiritual do homem” (TROTSKY, Leon. Minha Vida. São Paulo: Editora Sundermann. p. 591). Todavia, a admiração mútua entre os maestros do marxismo revolucionário concentra menor importância ao legado de Trotsky no sentido deste, antes de ser assassinado por Ramón Mercader no México (sob ordens de Stálin), ter dado toda energia de sua vida a continuidade da tradição comunista e do programa revolucionário. Por essa razão, os trotskistas podem se orgulhar de defenderem não só o legado de Trotsky, mas, igualmente, o de Marx e de Lênin.