A rota de Trump na América Latina e no Brasil
A ofensiva de Trump e do imperialismo sobre a América Latina
Não resta dúvida sobre a ofensiva Trump monta sobre a América Latina. Passou das palavras ao ato no seu cerco à Venezuela e ao mar do Caribe: semana passada um petroleiro foi “interceptado”, ou melhor, roubado pelas forças estadunidenses.
O resumo do mapa de ação de Trump e do imperialismo se encontra no documento intitulado nova Estratégia de Segurança Nacional, cuja publicação aconteceu no dia 5 de novembro. Trata-se da reafirmação da Doutrina Monroe, com implicações diretas para América Latina.
O noticiário ilustra o mapa de ação de Trump e do imperialismo: o petroleiro roubado na Venezuela, resultando agora no bloqueio total de todos os petroleiros; a ingerência nas eleições em Honduras; o swap cambial em favor de Milei às vésperas das eleições legislativas; o acordo de cooperação militar com o Paraguai; a vitória do pinochetista Kast no Chile; entre outras ações na América Latina – para aludir ao léxico gramsciano – em sua guerra de movimento e guerra de posições.
No Brasil, também se expressa a polarização
Os eventos dos últimos dias acirram a polarização. Na Câmara dos Deputados, Hugo Motta liderou a tentativa de cassação de Glauber Braga, depois a absolvição de Carla Zambelli e, por fim, abriu as portas para anistia moderada, expondo assim a situação de maior tensão entre classes e setores. No Senado Federal, a polarização se expressou politicamente com a aprovação do Marco Temporal e, na última semana de novembro, a derrubada dos vetos do chamado PL da Devastação.
A respostar popular, em princípio nas redes e depois nas ruas no último domingo, ensejou a indignação que foi capaz de evitar a cassação de Glauber, deu lastro para o STF anular a absolvição de Zambelli, que depois acabou renunciando ao seu mandato, e paralisou por ora a tramitação da “dosimetria” no Senado. Os atos do dia 14 tiveram expressão nacional, alcançando todas as capitais do país, ainda que tenham sido menores que os atos de 21 de setembro contra a PEC da Blindagem. Destaca-se o Rio de Janeiro, onde em Copacabana estiveram Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque e Fernanda Torres.
Nessa esteira, merece também destaque e alerta o grave episódio de cerceamento dos perfis de figuras públicas de esquerda quando estas respondiam aos ataques do congresso e da extrema direita nas redes. O shadowban realizado pela Meta é a expressão do controle privado e oligopolizado da comunicação digital, que opera – ao alcance de bilhões de pessoas – em nome do lucro e de interesses próprios capitalistas e imperialistas.
A contraofensiva relativa de Lula diante da escalada de ataques de Trump à soberania do Brasil, como descreveu Jorge Almeida, deu lugar agora para uma certa ideia de trégua e reconciliação de interesses, como ilustra a saída de Alexandre de Moraes da Lei Magnitsky. Isso tem a ver com a prisão de Bolsonaro e as debilidades enfrentadas pela extrema direita.
O governo federal até agora não se manifestou de forma contundente quanto à violação da soberania na Venezuela, preferindo manter sua postura de “diálogo racional” com Trump, quando é necessário um bloco de países que denuncie a escalada, lugar que caberia a Lula e ao Brasil; Petro vem cumprindo esse papel.
Em 2026, o ano eleitoral será marcado pela luta pela soberania e a luta contra a extrema direita. Terminamos o ano “à quente”, com uma mobilização nacional em resposta aos ataques do Congresso Nacional, contaminado também por sua própria crise – revelada nas operações da Polícia Federal que desmontam o orçamento secreto de Arthur Lira e demonstram as relações orgânicas entre crime organizado e poder político.
Outra rota para a soberania
Nesse momento de ofensiva imperialista de Trump na América Latina, o governo Lula precisa seguir o exemplo de Petro. A luta contra a extrema direita precisa estar combinada a mobilização popular e a uma outra rota para a soberania nacional.
A vitória de Kast no Chile indica que quando a frustração das demandas populares acontece sob um governo de orientação “progressista”, o pêndulo se move perigosamente à direita, abrindo caminho para soluções que contém elementos neofascistas, mesmo por meio das urnas.
A I Conferência Internacional Antifascista pela Soberania dos Povos, a ser realizada em Porto Alegre nos dias 26 a 29 de março de 2026, é um passo firme em direção a essas tarefas colocadas. A II reunião do Comitê Internacional demonstrou a força da convocatória, contando com quase cem representantes de 23 países.
Diante de um mundo em crise, acossado pela ameaça neofascista e imperialista, os povos do mundo têm resistido e atacado confiando nas próprias forças, com greves gerais recentes em Portugal, Bélgica e Itália. No Brasil, o exemplo veio da luta das mulheres- tanto na marcha das mulheres negras em Brasília quanto da mobilização convocada ao redor do mote “Mulheres Vivas” – das manifestações democráticas do último domingo, mas também da heroica greve dos petroleiros em curso, nas principais refinarias do Brasil.
É apoiada na força de uma classe trabalhadora diversa e gigante que o Brasil pode abrir caminho para uma real soberania, diante das batalhas que apenas estão começando.