Impasses persistem entre Ucrânia e Rússia apesar de otimismo oficial
Trump e Zelensky

Impasses persistem entre Ucrânia e Rússia apesar de otimismo oficial

Enquanto Trump e Zelensky falam em “proximidade de um acordo”, choques de interesses e violência russa minam confiança e empurram negociações para longe da paz

Redação da Revista Movimento 29 dez 2025, 07:10

Foto: @Zelenskyy_Uaa

A declaração quase triunfal de Donald Trump e Volodymyr Zelensky sobre um acordo de paz que estaria “90%” concluído encobre impasses estruturais que impedem qualquer fim real ao conflito de quase quatro anos com Vladimir Putin. Mesmo com negociações em curso e uma série de pontos em diálogo, questões como soberania territorial, garantias de segurança e o papel da Rússia na reconstrução continuam a travar o processo – e a violência segue corroendo a confiança ucraniana.

O confronto entre Ucrânia e Rússia não começou em 2022, mas se aprofundou com a invasão em grande escala de fevereiro daquele ano – um desdobramento de tensões que remontam à crise de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia e fomentou insurreições separatistas no leste ucraniano. A tentativa de Kiev de se aproximar do Ocidente e a resistência russa a perder influência sobre uma antiga república soviética criaram um terreno fértil para confrontos prolongados. Desde então, a guerra se tornou um dos conflitos mais sangrentos na Europa em décadas, com combates intensos no Donbas e múltiplas frentes de luta no leste e sul da Ucrânia. 

O peso humano e a crise de deslocamento

Estatísticas de fontes independentes e das Nações Unidas revelam a dimensão humana da tragédia:

  • Mais de 14 milhões de ucranianos foram forçados a fugir de suas casas desde 2022 – uma das maiores crises de deslocamento desde a Segunda Guerra Mundial – com milhões como refugiados em países europeus e outros tantos deslocados internamente. 
  • Estimativas oficiais de vítimas civis contabilizam pelo menos 14.534 mortos e 38.472 feridos civis confirmados na Ucrânia desde o início da invasão em 2022, embora os números reais sejam considerados ainda maiores. 

Esse cataclismo humanitário amplia o trauma social e enfraquece a confiança popular em negociações que pareçam tolerar penas territoriais ou políticas que não protejam a vida e a integridade nacional.

Principais impasses da paz

Apesar de Trump e Zelensky terem destacado avanços em uma proposta de 20 pontos, três questões-chave continuam a bloquear um acordo sustentável:

1. Soberania territorial e Donbas

A disputa sobre o controle do leste da Ucrânia – especialmente o Donbas – é um dos pontos mais espinhosos. A Rússia defende a anexação de partes desse território, alegando “laços históricos”, enquanto a Constituição ucraniana afirma sua soberania integral. Nenhuma solução concreta foi apresentada nas conversas mais recentes. 

2. Referendos e cessar-fogo

Putin rejeitou um cessar-fogo que permita referendos livres para decidir o futuro de territórios disputados, um elemento que Kiev considera essencial para qualquer processo legítimo de resolução. 

3. Garantias de segurança

Embora Zelensky tenha afirmado que garantias de segurança estariam “100% acordadas”, isso ainda depende de compromissos claros da Rússia — algo que Moscou tem evitado. A proposta dos EUA inclui garantias multilaterais, mas a Rússia exige neutralidade ucraniana e limitações militares que Kiev e seus aliados veem como inaceitáveis.

4. Rejeição russa ao status pós-guerra

Mesmo enquanto declarações oficiais de Trump sugerem que “Putin quer ver a Ucrânia ter sucesso”, a linguagem de Moscou e suas ações militares contradizem essa narrativa, como evidenciado por grandes ataques de drones e mísseis que continuam a atingir cidades ucranianas, inclusive durante as próprias negociações. 

Como a confiança de Zelensky foi minada

O presidente ucraniano viu a sua confiança em negociações – e nas garantias ocidentais – testada repetidamente pela realidade bélica e pelas exigências russas. A contínua agressão, inclusive em momentos que deveriam favorecer a diplomacia, reforça uma percepção entre líderes e cidadãos de que a Rússia não está comprometida com um fim negociado do conflito sob termos que respeitem a integridade territorial da Ucrânia. 

A cada ataque a infraestruturas civis e a cada recuo nas frentes de combate, cresce o ceticismo sobre a disposição real de Moscou em aceitar um acordo que não envolva concessões territoriais profundas ou garantias que Kiev considera inaceitáveis.

Um futuro incerto

Enquanto Trump e Zelensky insistem em que uma “maioria” dos termos está acordada, os mecanismos que poderiam efetivamente travar a paz – cessar-fogo real, devolução de territórios, mecanismos credíveis de segurança europeia e compromisso russo com não-agressão – permanecem em aberto ou dependentes de concessões que a Ucrânia considera contrárias à sua soberania. 

Nesta equação, a continuidade da violência e a falta de confiança nas intenções russas estendem a sombra de um conflito que segue devastando vidas enquanto diplomatas debatem números e linhas em um plano de paz cada vez mais distante da realidade das pessoas afetadas pela guerra.


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