A honra perdida dos social-democratas dinamarqueses.

O Partido Social-Democrata da Dinamarca flerta com o euroceticismo e políticas de direita no que se refere à imigração.

Carsten Jensen 18 jun 2018, 21:51

No momento, as coisas não vão tão mal para o Partido Social-Democrata dinamarquês, ele está pelo menos em uma condição melhor do que muitas outras formações social-democratas na Europa. O partido dos trabalhadores ainda existe. De fato, ele não representa mais um terço dos eleitores como nos tempos de seu esplendor. Agora, ele precisa se contentar com um quarto do eleitorado. Contudo, dentro de um corpo eleitoral ainda mais fragmentado, ele permanece o mais importante partido da Dinamarca. E se perguntarmos aos social-democratas a receita desse sucesso, eles respondem sem hesitar: escolheram assumir a política mais à direita possível no que se refere aos refugiados e à integração. Além disso, segundo eles, a aliança com o populismo não se trata de nenhum segredo. Trata-se de uma estratégia oficial, que eles reivindicam em alto e bom som.

Desconectados das realidades

Durante quatro anos, o Partido Social-Democrata governou o país com um pequeno partido centrista social-liberal, e sua derrota nas eleições legislativas de 2015, contra uma coalizão entre partidos burgueses e o populista Partido Popular Dinamarquês, foi como o acidente de um óvni. Durante quatro anos, seus dirigentes, enquanto administradores frios e desconectados das realidades, colocaram em prática uma pretendida “política da necessidade”, impondo no meio da crise financeira de 2009 claro golpes no orçamento do Estado. Eles haviam se comprometido em desmantelar o famoso modelo dinamarquês, que garantiu durante muitos anos a estabilidade do bem-estar do país. Eles entenderam tarde demais que o partido estava solapando suas raízes populares e, quando a derrota aconteceu, as duas figuras centrais do partido, o primeiro ministro e o ministro das finanças, abandonaram a política dinamarquesa para ocupar postos lucrativos fora do país.

Os homens e as mulheres da derrota agiram. A eminência parda do partido, Henrik Sass Larse, é um populista nato, antiglobalização, que pensa e fala como Donald Trump. A nova dirigente dos social-democratas, Mette Frederiksen, redescobriu suas raízes operárias e se apresenta agora como uma filha do povo. A política social esta mais uma vez no coração dos debates.

Contudo, é apenas em raras ocasiões que o Partido Social-Democrata se opõe ao governo burguês no poder. Ainda mais raro é ele se opor ao populismo do Partido Popular Dinamarquês e sua retórica de extrema direita. Quando a Dinamarca diz não à convenção relativa ao estatuto dos refugiados da ONU e recusa acolher sua cota de 500 refugiados, os social-democratas se colocam de acordo. Quando o governo decide punir de forma duas vezes mais severa a criminalidade nas zonas chamadas de “guetos” do que a da criminalidade etnicamente dinamarquesa, nós não os ouvimos protestar. Quando o infâme ministro da integração, Inger Stojberg, no exercício vacilante de suas funções, enfrenta a lei, os social-democratas fazem de tudo para evitar qualquer moção de censura. Da mesma forma, quando a maioria parlamentar adota uma declaração controversa argumentando que os migrantes de origem não ocidental nunca poderão ser considerados como verdadeiros dinamarqueses, os social-democratas a apoia. O partido flerta com o euroceticismo.

Política da necessidade tecnocrática

O Partido Popular Dinamarquês avança a ponto de já ser o segundo maior partido do país, com mais de 20% dos votos, tendo se impondo sobre um grande número de eleitores da socialdemocracia. São nas zonas periféricas e ao redor das pessoas mais velhas, dois grupos sociais que dependem do apoio do Estado de previdência, que os populistas encontram mais adesão. É aí, igualmente, que os social-democratas vêm uma aliança possível na defesa desse Estado de previdência que eles haviam abandonado e que agora redescobriram.

A genial tática do Partido Popular Dinamarquês consiste em que ele nunca quis, em desprezo de seus eleitores, fazer parte de nenhum governo, ainda aparecendo imune a qualquer compromisso. São parceiros pouco confiáveis, sempre prontos a novos atos irrealistas. Eles utilizam a mesma técnica com os social-democratas. Eles estendem a mão na mesma velocidade que dão as costas.

Após sua derrota eleitoral, quando dos social-democratas tiveram que renunciar à sua política da necessidade tecnocrática, eles podiam ter seguido o mesmo caminho que o chefe do Partido Trabalhista inglês, Jeremy Corbyn, ao invés de ter cedido ao populismo. Eles escolheram este último e suas torpezas estão apenas começando.

Artigo originalmente publicado no Le Monde. Tradução de Pedro Micussi para a Revista Movimento.


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