No Amapá, um PSOL a serviço dos 50 tons de Temer combatidos por Boulos e nosso projeto anticapitalista

Por trás das cortinas, o PSOL do Amapá manobra e costura aliança com partidos do regime.

Bruno Magalhães e Thales Salles 14 ago 2018, 17:03

Uma grave manobra política está sendo escondida no Amapá nessas eleições. Sem fazer alarde, o PSOL Amapá hoje compõe uma coligação “laranja” com o PMN enquanto na realidade mantém um bloco político com o DEM e a Rede, partido do senador Randolfe Rodrigues e do prefeito de Macapá Clécio Luís, figuras que já tiveram grande destaque no PSOL e romperam com o partido em favor de Marina Silva. Apesar da aliança eleitoral formal com o PMN, realizada para esconder a manobra e evitar críticas, o PSOL Amapá fará uma composição velada com oportunistas e com a direita tradicional para permitir a manutenção de aparatos burocráticos.

Os fatos são inegáveis. No Amapá, o PSOL é o partido com o maior número de filiados do estado, sendo o único estado do Brasil onde nosso partido conquista essa posição, e isso se reflete nos congressos nacionais do PSOL com o Amapá reunindo em suas plenárias mais de 4 mil filiados, que elegem aproximadamente um terço dos delegados e definem a composição da direção partidária. As plenárias do PSOL Amapá, realizadas muitas vezes com o apoio de prefeituras (como em Macapá), reúnem centenas de filiados em processos marcados por manobras que dificultam a fiscalização, e já ocorreram diversas denúncias de fraudes sobre essas plenárias. Votações sem listas de filiados, registros de pessoas votando mais de uma vez e a abertura de uma quantidade de urnas maior do que a capacidade de fiscalização são exemplos das manobras que garantem essa disputa pela direção nacional do partido.

Nos congressos do PSOL, o Amapá é apresentado pela direção majoritária como exemplo de construção partidária e sua enorme quantidade de filiados seria a prova desse enraizamento político. Qualquer crítica ao processo do Amapá é imediatamente taxada de elitista, ou até mesmo racista, contra uma organização partidária real e popular que disputaria os rumos do estado em prol dos trabalhadores. Nessa versão da história, as alianças contrárias ao programa do PSOL seriam apenas um reflexo das particularidades e dificuldades locais que impediriam o partido de afirmar plenamente sua política, mas sempre tendo como objetivo o avanço das lutas no estado.

Quando Randolfe e Clécio ainda estavam no partido eram declarados pela direção majoritária do PSOL como líderes estaduais dessas lutas, e a “flexibilidade” política na época era defendida como temporária e necessária para a construção de um campo socialista no estado. Com a desistência de Randolfe na candidatura à presidência em 2014 e a posterior ida dos dois à Rede, a defesa da aliança com o DEM e outros partidos foi desmoralizada e evidenciou a verdadeira política operada pela direção do PSOL Amapá, cujos principais objetivos são manter posições no aparato do governo e atuar no controle do PSOL nacional através da distorção gerada pela manipulação do número de filiados no estado.

É um problema moral, e também um problema político. Se o PSOL Amapá representa aquilo que é propagandeado, deveria naturalmente priorizar uma candidatura ao governo como acontece em todos os outros estados, apesar de nossas grandes dificuldades. Mas no alegado estado-bastião do PSOL acontece o contrário: de maneira formal, e até mesmo cínica, o PSOL Amapá terá uma candidatura “laranja” ao governo nessas eleições. Mesmo sendo declaradamente a maior força de esquerda no estado e tendo reunido milhares na base, o PSOL não aposta em sua própria política e realiza uma evidente composição informal com o DEM.

Essa posição evidencia tanto a forma distorcida das filiações feitas no Amapá quanto o caráter dessa coligação, abrindo espaço para uma aliança de fato com o DEM, Rede, PSDB, PP, PSC, Solidariedade, PRP, Avante, PPL e Podemos. O deputado estadual Paulo Lemos, do PSOL/AP, declarou em junho que fará a campanha de Davi Alcolumbre (DEM) ao governo do estado mesmo contra as deliberações do partido, e até o momento houveram poucas movimentações contra esta postura absurda. Essa prática não é nova, e a aliança entre o PSOL e o DEM em Macapá já foi tema de debate intenso nas últimas eleições federais, quando o companheiro Maykon Magalhães, membro do Diretório Nacional do PSOL, soliticou o apoio dos servidores comissionados da prefeitura de Macapá ao então candidato ao Senado Davi Alcolumbre.

A flexibilidade tática é característica muito importante da luta social e cada momento novo apresenta riquezas que exigem análises específicas de situações concretas. A construção de um partido socialista não é linear e as contradições são parte inerente desse processo, devendo ser aprofundadas e analisadas sem dogmatismos. Entretanto, a direção do PSOL Amapá já deu diversas provas do caráter oportunista de seu projeto, bem mais próximo das burocracias parlamentares do que da construção das lutas, infelizmente tornando o PSOL amapaense mais um partido adaptado ao regime político. E ainda que no Amapá o PSOL dispute também contra o PT, tem impregnado dentro de si cada vez mais a lógica petista de fazer política, com discursos progressistas escondendo burocracias estagnadas.

Prova dessa adaptação se deu durante a greve dos trabalhadores municipais de Macapá ocorrida este ano, quando os servidores se manifestaram em favor de suas categorias e contra a retirada de direitos proposta por reforma do prefeito Clécio, contando inclusive com o apoio da direção nacional do PSOL em defesa dos trabalhadores. Enquanto nosso partido é referência nas lutas do funcionalismo público contra prefeituras de todo país, em Macapá o PSOL compõe a prefeitura que defende a retirada de direitos, e a repressão da polícia militar contra os servidores em greve foi a prova final da absurda posição. Outro exemplo da política de Clécio foi a indicação anos atrás de um apoiador de Bolsonaro à secretaria de educação de Macapá, um candidato do PEN nas eleições municipais chamado Promotor Moisés e que estava preso até recentemente por denúncias de extração ilegal de ouro.

Essa situação é insustentável. O PSOL é o partido da nova política e da defesa intransigente dos trabalhadores, e de forma alguma pode estar associado a projetos de direita. O PSOL Amapá comete hoje dois erros graves, construindo uma coligação “laranja” e se aliando a figuras do DEM para manter aparatos políticos que permitam a manutenção da atual “maioria” na direção nacional do partido. Companheiros como os deputados federais Ivan Valente e Edmilson Rodrigues, além do próprio presidente do partido, tem defendido a situação absurda do Amapá, que infla o partido localmente e garante na marra o controle nacional do PSOL.

O mecanismo imoral de reprodução da “maioria” partidária é evidenciado de maneira explicita. É necessário denunciar e combater essa situação, o PSOL foi criado para atuar de forma diferente na política e o pragmatismo cego coloca em risco esse perfil, distorcendo os processos deliberativos do partido e mantendo na direção uma posição muitas vezes adesista e adaptada ao regime. É essencial que a militância combativa do PSOL enfrente essa lógica e lute contra o processo de burocratização do partido.


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