Os primeiros lances da transição
Bolsonaro começou a montar seu ministério à imagem e semelhança da sinistra coalizão que o elegeu.
Bolsonaro começou a montar seu ministério à imagem e semelhança da sinistra coalizão que o elegeu. Com a primazia do rentismo, na figura do “superministro” Paulo Guedes, obedece à lógica imposta por Bolsonaro, após vencer as eleições. Mantém a polarização para evitar demonstrar a fragilidade de um projeto ainda pouco afinado. O time de Bolsonaro, além de Guedes, inclui Onyx Lorenzoni como articulador político, Teresa Cristina, representante dos latifundiários, na pasta da Agricultura, o General Fernando Azevedo e Silva na Defesa, General Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional, o ex-astronauta Marcos Pontes na Ciência e Tecnologia e o deputado Mandetta para a pasta da Saúde.
A presença de Sergio Moro no gabinete busca responder à opinião pública, mas abre ao mesmo tempo novas contradições com o próprio discurso eleitoral de combate à corrupção, já que a equipe ministerial tem “arranhões” com as novas denúncias que foram publicadas pela Folha contra Onyx e Teresa Cristina, pelas relações de ambos com a JBS, além das acusações que pesam contra Mandetta.
Na área internacional, o risco de um isolamento é cada vez mais evidente dados os primeiros atritos com a China, o maior parceiro comercial do país, com os vizinhos do Mercosul, e com países árabes, que devem reagir caso se confirme a transferência da embaixada para Jerusalém. A recente recusa do Egito a receber uma delegação brasileira é uma demonstração disto. Por sua vez, o nomeado para o MRE, Ernesto Araujo – indicado por Olavo de Carvalho e escolhido pelos filhos de Bolsonaro -, é um celerado que propõe “uma cruzada contra o globalismo pilotado pelo marxismo cultural” em defesa do cristianismo e dos valores do Ocidente (!).
O primeiro grande retrocesso de Bolsonaro, mesmo antes de sua posse, foi a ruptura do acordo com Cuba no programa Mais Médicos, com a despedida de médicos que organizaram as primeiras equipes permanentes em muitas cidades distantes no Brasil profundo.
Uma narrativa de confusão deliberada
Bolsonaro adota um método corriqueiro para se comunicar com a sociedade. O que aparenta ser improviso é, na verdade, uma estratégia discursiva. No melhor estilo Trump, Bolsonaro “choca”, com enunciados diretos e intensos, para depois recuar, voltando a um ponto intermediário, instalando o debate, manuseando a opinião pública de acordo com seus tempos e interesses. Foi assim em temas como o fim dos ministérios do meio ambiente e do trabalho. Mesmo a questão da transferência da embaixada para Jerusalém, defendida de forma enfática, aparece agora de forma ambígua. Bolsonaro precisa mobilizar constantemente seus seguidores para manter ativa a base social que o levou a vitória no segundo turno. Temas “polêmicos” como antipetismo, segurança pública e questões ideológicas dão a liga para o discurso de Bolsonaro, difundido por sua usina de fakenews.
O clã Bolsonaro, com Eduardo como porta-voz, declarou que teria que colocar “100 mil na cadeia”, uma afirmação que serve para elevar a temperatura do debate ideológico, colocando como crime a alusão ao comunismo. É preciso elevar o debate ideológico contra os reacionários e atacar o que Bolsonaro faz, não apenas o que diz. Seu plano de ajuste vai levar a choques com setores que respaldaram sua eleição.
A “agenda Guedes” contra o povo e o país
A agenda que se concretiza por agora é a de Guedes. Criando a secretaria de privatizações, seu principal objetivo é avançar na entrega do patrimônio público e nacional e na contrareforma da previdência. A nomeação de Roberto Castello Branco veio junto ao anúncio da venda de partes dos ativos da Petrobrás. Todo o plano da burguesia passa por aprofundar o ajuste. A relação com os governadores, muitos dos quais com problemas de caixa e finanças, também será medida pela nova disposição a aderir ao ajuste imposto pela União aos estados.
Estas são as principais prioridades do hiperliberal Guedes, formado pela Escola de Chicago, para descarregar um forte ajuste contra o povo. O modelo de entrega da Petrobrás é apenas a ponta do iceberg. Guedes chegou a falar em privatizar “todas as estatais” durante o período eleitoral. Sua sanha de vender é coerente com o entreguismo do futuro governo ao imperialismo para o qual o próprio Bolsonaro repetidamente bate continência.
Resistir e Organizar!
A saída não pode ser outra que não organizar a resistência, em cada local de trabalho, estudo ou moradia. O exemplo vem dos professores que lutam contra o projeto de “escola com mordaça”, das universidades que seguem resistindo e das as manifestações da negritude em todo o país no último 20 de novembro.
Para melhor resistir, é preciso organizar. Muitos apoiadores eleitorais, que participaram de comitês domésticos, panfletagens e reuniões, estão dando o passo de filiar-se ao PSOL e se organizar politicamente. Esse passo é decisivo para a luta contra o novo governo e para construir outro futuro. Organizaremos atividades de final de ano por todo país, como o seminário de formação política que faremos no Rio Grande do Sul para debater a experiência histórica de luta contra o fascismo, e a rodada de debates de lançamento da nova edição da Revista Movimento.
Como campanha geral, vamos seguir levantando a bandeira de “Justiça para Marille e Anderson”, oito meses após seu brutal assassinato, sem que se conheçam os assassinos e os mandantes do crime.