A esquerda não pode cair na demagogia de Marchezan
Cobradores e motoristas já armam suas mobilizações contra o pacote de Marchezan. Nosso dever é apoiar e lutar lado a lado com esses trabalhadores.
No apagar das luzes de seu mandato como prefeito de Porto Alegre, Marchezan apresentou um pacote sobre o transporte público prometendo tarifa a R$ 2. Mesmo sendo um pacote que tem uma lógica clara de repassar ao conjunto dos trabalhadores o custo dessas mudanças e de manter intactos os lucros exorbitantes dos barões do transporte coletivo, a companheira Manuela D’Ávila postou uma nota no Facebook aceitando o argumento de Marchezan de que os temas são pertinentes sem matizar a gravidade e a imposição da votação, sem nenhum debate com a cidade, desses projetos. Mas vejamos o que é o cerne e o que está em jogo no pacote: a extinção de 3.600 cobradores (uma iniciativa que o governo já tentou impor ano passado e que a categoria, graças à sua mobilização, derrotou por duas vezes), o tarifaço de um pedágio urbano no valor de R$ 4,70 a todos os carros não emplacados em Porto Alegre (imaginem os milhares de motoristas da Região Metropolitana que diariamente vêm trabalhar na capital), a cobrança de R$ 0,28 de cada quilômetro rodado por aplicativos para uma categoria enorme que cotidianamente trabalha 10 horas para garantir um salário decente e ainda não tem seus vínculos trabalhistas reconhecidos nesta lógica de flexibilização.
Diante disso, cobradores e motoristas já armam suas mobilizações. Os vereadores Roberto Robaina e Paulinho Motorista estão no centro da articulação da luta contra esses projetos. Nosso dever é apoiar e lutar lado a lado com esses trabalhadores, unificar com as mobilizações da juventude contra o aumento das tarifas e restrição ao meio passe estudantil e na luta pelo passe livre e garantia de um transporte público de qualidade.
É preciso explicar para o povo que se trata de um projeto demagógico, de Robin Hood às avessas, que tira do povo para dar aos ricos. Queremos propor uma revolução verdadeira no sistema de transporte, que passa obviamente pela auditoria das contas das empresas, pela criação de um fundo municipal (com os recursos do vale-transporte, mas com as multas não aplicadas, com parte da verba de publicidade etc) para subsidiar as tarifas, pela aplicação das medidas cabíveis diante dos descumprimento dos itens da licitação de cartas marcadas, pelo fortalecimento da Carris e pela taxação às empresas de aplicativos para operacionalizar em Porto Alegre – vedando o repasse para os trabalhadores. A extinção da Câmara de Compensação Tarifária e medidas que visam confundir e dourar um projeto que tem intuito de extinguir postos de trabalho não pode nos confundir.
O histórico de aumento das tarifas, de manutenção de isenção para empresas, que dominam há anos o transporte coletivo na cidade, e a defesa dos interesses das empresas transnacionais e multibilionárias de aplicativos diante das reiteradas lutas por mais segurança nos aplicativos já deixou há muito tempo claro para quem Marchezan governa: para os interesses das elites. Não é a partir da defesa dos de cima que construiremos a saída necessária para a garantia de um transporte público, de qualidade e barato, mas do debate junto ao povo e sempre apoiado nas forças populares mobilizadas. Junho de 2013 já mostrou que por 0,20 centavos o imprevisível pode e deve acontecer. O PSOL aposta na mobilização. E achamos que é esse caminho que a esquerda deve seguir!
Publicado originalmente em fernandapsol.com.br.