12 anos sem Rosa Parks, a costureira negra que falou “não” à segregação racial

Em 1 de dezembro de 1955, uma costureira negra desafiou o racismo no Alabama, ao se recusar ceder seu lugar no ônibus para um passageiro branco.

Rosa Parks 24 out 2017, 18:24

Em 1 de dezembro de 1955, uma costureira negra desafiou o racismo no Alabama, ao se recusar ceder seu lugar no ônibus para um passageiro branco. Presa por suposto desacato a lei de segregação vigente em seu estado, Rosa Parks (1913-2005) desencadearia um massivo movimento de desobediência civil contra a absurda segregação racial nos EUA. Por heroicos 391 dias, dezenas de milhares de jovens e trabalhadores negros recusaram-se a entrar nos ônibus da cidade de Montgomery até a Suprema Corte julgar inconstitucional a segregação racial nos transportes. Por décadas, Rosa Parks pagaria o preço de sua ousadia, sendo rejeitada em muitos empregos e atravessando sérias dificuldades financeiras até sua morte em 24 de outubro de 2005.

Abaixo, traduzimos a transcrição de seu depoimento à Pacifica Radio em abril de 1956.

Entrevista em abril de 1956

Eu saí do trabalho para a minha casa, em 1 de dezembro de 1955, às 6:00 da tarde. Eu embarquei no ônibus do centro de Montgomery em Court Square. Quando o ônibus saiu da cidade na terceira parada, os passageiros brancos lotavam a frente do ônibus. Quando subi no ônibus, a parte traseira estava cheia de passageiros de cor e começaram a ficar de pé. O assento que ocupei foi o primeiro dos assentos onde os passageiros negros tomavam nesta rota. O motorista notou que a frente do ônibus estava cheia de passageiros brancos, e havia dois ou três homens de pé. Ele olhou para trás e se dirigiu para o assento que eu havia ocupado, junto com outras três pessoas: uma num assento comigo e duas que estavam sentadas do outro lado do corredor. Ele exigiu os assentos que estávamos ocupando. Os outros passageiros, com relutância, abandonaram seus assentos. Mas eu me recusei a fazê-lo.

Quero deixar bem claro de que não ocupei assento algum na seção branca, como se informou em muitas ocasiões. Na sexta-feira pela manhã saiu um artigo num jornal sobre a mulher negra que ignorou a segregação. Ela estaria sentada no banco da frente, na seção branca do ônibus e teria se sentado na parte traseira do ônibus. Esse foi o primeiro relato do jornal. O assento que eu ocupava, tínhamos o costume de tomá-lo no caminho para casa, embora às vezes neste mesmo itinerário do ônibus, brancos estivessem de pé, quando seu espaço estivesse todo lotado, quando seus assentos estavam todos ocupados. Surpreendeu-me bastante que o motorista neste ponto tenha exigido que eu me retirasse do assento.

O motorista disse que se eu me recusasse a abandonar o assento, ele chamaria a polícia. E eu falei a ele: “então, chame a polícia”. Ele logo chamou os funcionários da lei. Eles vieram e me prenderam, sob a alegação de eu ter violado a lei de segregação da cidade e do estado do Alabama no transporte. Eu não pensei que estava violando qualquer lei. Eu senti que eu não estava sendo tratada de modo correto, e que eu tinha o direito de reter o assento que eu tinha pego como uma passageira dentro do ônibus. Chegou um momento em que eu fui empurrada o máximo que eu aguentava, eu supus. Eles me levaram para a prisão. E eu não tive medo. Eu não sabia por que estava assim, mas eu não sentia medo. Eu decidi que eu teria que saber de uma vez por todas quais direitos eu tinha como um ser humano e uma cidadã, mesmo em Montgomery, Alabama.

E saí sob fiança pouco tempo depois da prisão. O juízo aconteceu em 5 de dezembro, na segunda-feira seguinte. E o protesto começou a partir desse dia, e ainda continua. Então, o caso foi recursado. Desde o momento da prisão na quinta-feira à noite, na sexta, sábado e domingo, correu a informação em Montgomery da minha prisão por causa desse incidente. Houve telefonemas de quem conhecia outros casos. Os ministros ficaram muito interessados no assunto, e temos nos reunido nas igrejas. E sendo a minoria, nós sentimos que nada poderíamos ganhar por meio da violência, ameaças ou de atitudes beligerantes. Nós acreditamos que poderíamos ganhar mais através da resistência passiva não-violenta, e o povo simplesmente começou a decidir que não viajariam de ônibus no dia do meu julgamento, que era na segunda-feira, 5 de dezembro.

E na manhã do sábado, quando os ônibus saíram para seu trajeto regular, eles permaneceram vazios. As pessoas caminharam ou percorreram seus trajetos em carros de pessoas que lhes davam carona o melhor possível. Na noite do sábado, uma reunião massiva na Igreja Batista Hope Street foi convocada. E havia muitas milhares de pessoas lá. Elas continuaram chegando, inclusive pessoas que nunca tinha ido à igreja.

Eu não era a única pessoa que havia sido maltratada e humilhada. Eu me recusei a entrar no ônibus porque eu não pagaria minha passagem pela frente e não daria a volta até a porta traseira para entrar. Este era o costume quando o ônibus estivesse lotado até o ponto em que os passageiros brancos começasse a ocupar. Eu não pensava que eu seria a pessoa a fazer isso. Isso nunca tinha me ocorrido. Outros passaram pela mesma experiência, alguns por experiências ainda piores do que a minha, e todos sentiram que havia chegado a hora, que deveriam decidir que pararíamos de apoiar a companhia de ônibus até que recebêssemos um serviço melhor. E o primeiro dia sem ônibus foi muito bem-sucedido. Foi organizados, na medida em que não pegaríamos mais ônibus até que o nossa demanda estivesse assegurada.

Fonte: Democracy Now.


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