8-N na Catalunha: Greve geral sem sindicatos majoritários

“Vocês seguirão ajudando o senhor Rajoy neste golpe de estado?” A Europa terá que responder. Trabalhadores e povos europeus e do mundo, ajudem a Catalunha.

Alfons Bech 9 nov 2017, 10:01

Hoje, houve uma greve geral convocada por um pequeno sindicato independentista, a CSC – Intersindical. A esta convocatória de greve, somou-se o principal sindicato de professores, USTEC. O sindicato anarquista CGT deu liberdade a seus filiados para somar-se. E os sindicatos majoritários, que estão contra a conveniência de uma greve geral, se opuseram a convocá-la ou participar nela. UGT deu a entender que pessoas de seu sindicato participariam. E o secretário-geral de CCOO, o maior sindicato, declarou desafiante: “somos nós quem convocamos as greves e não é o momento de convocar nenhuma”.

Pois bem, sem chegar a ser como a do 3 de outubro, a greve geral foi um êxito se levarmos em conta a quantidade de empresas e trabalhadoras afetadas pelos cortes de rodovia e trens que impediram a chegada ao trabalho, logrando a paralisação completa do transporte. Também pela quantidade de professores que fizeram greve, cerca de 45%. Também porque a TV e a rádio públicas catalãs se somaram à greve. Também pela quantidade de tendas e pequenas empresas fechadas.

Os grandes sindicatos, que não quiseram participar da greve, pressionaram para evitar que a unitária Mesa pela Democracia apoiasse uma “paralisação do país”. Conseguiram que ela não fosse convocada. Mas não puderam evitar o êxito de uma das maiores mobilizações da Catalunha. Milhares, dezenas de jovens, de estudantes, de camponeses com seus tratores, de adultos, de gente de todas as idades, foram desde as primeiras horas da manhã cortar as artérias principais. Estradas que nunca conseguiram se organizar para paralisar em greves gerais anteriores, estiveram por horas e horas. Estações de trem como Girona e Barcelona e suas vias foram invadidas por centenas impedido a circulação de trens de alta velocidade e conexões entre Madri-Barcelona-Frontera. As fronteiras seguem ainda fechadas às 9 da noite.

Na concentração de hoje de Barcelona às 6 horas da tarde pela liberdade dos presos políticos, os sindicatos minoritários, os CDR, assim como a ANC e o Omnium, foram aplaudidos por 25 000 pessoas, com gritos de greve geral. Em contrapartida, o secretário-geral da UGT, foi vaiado. E o de CCOO nem sequer se atreveu a dar as caras. Que coisa! Estamos assistindo a uma revolta na qual os grandes aparatos da etapa monárquico são ultrapassados. Os partidos entram em crise, dividem-se, sofrem deserções importantes. Também há estranhas alianças aparentemente contra natura, como as dos socialistas com o PP e os Ciudadanos. Os grandes sindicatos conseguem frear a ação operária e criam um clima anti-independência que consegue que as fábricas permaneçam funcionando, mas não podem impedir que a ocorra a greve nem a simpatia pela revolta dentro de seu quadro de filiados.

E qual é a situação? Mais de meio Governo na cárcere e o resto no exílio. Os dois líderes das principais organizações soberanistas na cárcere. A presidente e toda a Mesa do Parlamento imputados e talvez a ponto de ingressar na cárcere nos próximos dias. Mas o povo catalão segue firme em sua batalha para se fazer escutar, para que se respeite seu direito a decidir, a ter seu autogoverno e suas instituições. Sua auto-organização nos CDR é uma experiência que toda a Europa e o mundo deve seguir. Esta greve segue sendo um exemplo disso.

O impulso desta revolução democrática chega muito longe. Já está tocando a Europa. Bruxelas já não é o lugar tranquilo da burocracia da União Europeia. Catalunha converteu-se num centro de debate, de crise política. Ainda exilado e sem poder efetivo, Puigdemont foi o líder europeu que se atreveu a dizer na cara do Presidente da Comissão Europeia, Juncker, e na do presidente do Parlamento Europeu, Tajani, o que não queriam ouvir: “Vocês querem uma Europa com um governo encarcerado? Esta é a Europa que vocês nos propõem?”, exigindo que eles respeitem os votos saídos das eleições de 21-D. “Vocês seguirão ajudando o senhor Rajoy neste golpe de estado?” A Europa terá que responder. Trabalhadores e povos europeus e do mundo, ajudem a Catalunha.


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