Rajoy caiu, que caia sua política!
O que se trata neste momento é de lutar para que a queda de Rajoy, signifique também a queda de sua política.
Enredado em meio a inúmeras denúncias de corrupção, o Partido Progressista espanhol perdeu a presidência do governo nacional. O parlamento aprovou na sexta-feira (01/06), por 180 votos a favor e 169 contra, a moção de censura que afasta o Governo de direita liderado por Mariano Rajoy e investe o novo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, líder do PSOE.
O PSOE tem 84 dos 350 deputados do parlamento, mas apoiaram a moção 180 deputados, incluindo os do Unidos Podemos (67), da Esquerda Republicana da Catalunha (9), do Partido Democrático e Europeu da Catalunha (8), do Partido Nacionalista Basco (5), do Compromís (4), do EH Bildu, ligado ao antigo ETA (2), e da Nueva Canarias (1). Uma conjunção de partidos nacionalistas, separatistas e de esquerda, incluindo IU e Podemos.
A marca do governo Rajoy foi a aplicação das políticas de “austeridade” da União Europeia e seus banqueiros-chefes. Nesse sentido, a queda de seu governo é uma importante derrota destes setores. Por outro lado, o PSOE há muito já aplica políticas da mesma natureza em seus governos e frequentemente vota no parlamento, em conjunto com o PP, retiradas de direitos do povo e aumento de privilégios aos políticos. Nada indica que o governo de Sánchez vá virar este curso de adaptação do partido, que o consolidou como ala “esquerda” do regime de 78 em crise. Pelo contrário, Sanchez aceitou o marco orçamentário neoliberal que vai determinar o sentido da política real do governo do PSOE.
O que sim é seguro, é que um governo proveniente de tal crise será um governo frágil. Não somente o PP foi derrotado, mas seu braço mais jovem e promissor pela direita também, o Ciudadanos. Os naranjas, como sócios do PP, galvanizaram o espaço de segunda força política do país, segundo as pesquisas, à frente do próprio PSOE. Suas características de alt-right , uma espécie de simulacro do Podemos, construído pela direita, vem cada vez mais conquistando os setores que eleitoralmente apóiam o PP e num ceticismo mais conservador.
A posição de Unidos Podemos em votar a favor da moção foi corretíssima. Como muito bem define o comunicado dos Anticapitalistas: “Lo que se abre ahora es un nuevo tiempo político con diferentes posibilidades de desarrollo pero que presenta un panorama interesante: y es que un gobierno débil es siempre el mejor escenario para una ofensiva social destinada a recuperar y conquistar derechos. Sin ninguna confianza en un PSOE incapaz de salirse de los dictados de los poderes financieros ni de los límites constitucionales.”
O Estado espanhol acumula um conjunto contradições que torna a crise naquele país multidimensional. Em sua dimensão econômica, a crise que castiga as condições de vida da população, incrementa-se pelos riscos de uma nova bolha imobiliária. Na dimensão política, a crise de representatividade e o surgimento de novos movimentos desorganiza o tabuleiro do bipartidarismo que sustenta o regime de 78. Mas, há ainda uma terceira dimensão importantíssima da crise do regime, a crise das nacionalidades. Ela se expressou no uso do artigo 155 da Constituição contra o governo soberanista eleito da Catalunha e a declaração de independência do Parlament catalão. A luta por liberdade aos presos políticos da ação unilateral de Rajoy também ganha força a partir de sua queda. Apesar da Catalunha ter sido vanguarda da luta pela independência e pela república, este é um tema que é latente há anos em muitos outros territórios, como País Basco, Valencia, Galícia… A combinação entre estas dimensões da crise, abre novo ciclo político no país.
De acordo com os Anticapitalistas: En este ciclo que se abre, en medio de intensas turbulencias financieras a nivel internacional y de una nueva burbuja inmobiliaria en pleno desarrollo en el Estado, el rol de la izquierda parlamentaria representada por Unidos Podemos y las confluencias debería ser apostar por una estrategia constituyente y de construcción de una alternativa política que evite un doble riesgo: por un lado, evitar caer en la táctica de convertirse en mero sostén parlamentario y subalterno del PSOE frente al “miedo a la derecha”; y por otro lado, mendigar insistentemente la entrada en un gobierno junto al PSOE que significaría la cooptación del “bloque del cambio” como fuerza política.
O que se trata neste momento é de lutar para que a queda de Rajoy, signifique também a queda de sua política. Para isso, é fundamental não perder de vista o combate ao regime de conjunto:
De lo que se trata, por tanto, es de no perder el horizonte antagonista e impugnador frente al conjunto del régimen y sus partidos, presionar fuertemente (en las instituciones y en la calle) a un gobierno débil a nivel numérico y débil a nivel de proyecto, así como tratar de debilitar al máximo a nuestro adversario más peligroso en la actualidad: Ciudadanos.
Para além de festejar a queda de Rajoy, será necessário aumentar a temperatura da luta de classes frente à debilidade do regime e do governo. O desenlace do processo político no Estado espanhol, dependerá essencialmente de uma nova ofensiva das ruas, para revogar as contra-reformas do PP, para avançar na conquista de direitos sociais e, especialmente, para afirmar uma saída pela esquerda frente ao crescimento desta nova direita que se alça. Sí Se Puede.
Artigo originalmente publicado no Portal de la Izquierda en Movimiento.