A esquerda tem que condenar Ortega

Uma esquerda que deixa Daniel Ortega matar em seu nome está afundada numa crise muito maior do que supõe.

Eliane Brum 19 jul 2018, 17:26

Num momento em que o mundo se encontra espremido pelas “novas direitas”, marcadas pelo autoritarismo, populismo e xenofobia, não há nada mais importante para uma esquerda em crise que reafirmar seus valores mais profundos. É vergonhoso que parte da esquerda global, assim como seus principais ícones, não se manifeste diariamente e com veemência contra o massacre que Daniel Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, perpetram contra o povo da Nicarágua desde abril. A repressão dos Ortega contra os que pedem sua renúncia já deixou mais de 360 mortos, mais de 260 desaparecidos e mais de 2000 feridos. E os números aumentam a cada semana, às vezes a cada dia. Em nome da esquerda, o ex-guerrilheiro sandinista se aliou ao pior da direita e começou a matar o seu povo.

Daniel Ortega se transformou num herói da esquerda mundial do século XX como um dos líderes da Revolução Sandinista (1979-1990), que derrubou a brutal ditadura da família Somoza. Hoje, nas ruas de Managua, os gritos não deixam lugar para dúvidas sobre no que se converteu Ortega: “¡Ortega, Somoza, son la misma cosa!” [“Ortega, Somoza, são a mesma coisa!] Como a de Somoza, a família Ortega tenta controlar tudo, inclusive os meios de comunicação, perpetuando-se no poder.

Nem toda a família, já que Zoilamérica, a enteada de Ortega, vive fora do país. Em 1998, denunciou ao ditador por tê-la estuprado, em conivência com sua mãe, hoje vice-presidenta. As últimas eleições de Daniel Ortega, que reformou a Constituição para se manter no poder e disputar a terceira legislatura consecutiva, foram consideradas fraudulentas. Porém, Ortega e Murillo permaneceram no poder aliando-se a uma parte poderosa do empresariado e também à parte mais conservadora da Igreja Católica. Seu governo está marcado pelo controle do poder legislativo e judicial, pela censura, pela tortura e pela perseguição dos opositores, inclusive de velhos companheiros sandinistas.

Os protestos que convulsionam a Nicarágua têm a juventude universitária como protagonista e ganharam força quando Ortega tentou aprovar uma reforma da Seguridade Social. Ele recuou, mas, desde então, o Governo e as forças paramilitares executam os manifestantes que exigem que a família Ortega renuncie. O fim de semana passado esteve marcado por ataques e assassinatos de civis. Nesta quinta-feira, 19 de julho, a Revolução Sandinista cumpre 39 anos. O poeta Ernesto Cardenal, um de seus principais personagens e hoje opositor ao regime, afirmou que a Nicarágua vive um “terrorismo de Estado”.

Uma esquerda que deixa Daniel Ortega matar em seu nome e não tem dignidade para manifestar-se contra a ditadura e o massacre com ações e palavras claras está afundada numa crise muito maior do que supõe.

Fonte: https://elpais.com/elpais/ 2018/07/17/opinion/1531840517_ 052098.html


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 12 nov 2024

A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!

Governo atrasa anúncio dos novos cortes enquanto cresce mobilização contra o ajuste fiscal e pelo fim da escala 6x1
A burguesia pressiona, o governo vacila. É hora de lutar!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi