Cambridge Analytica ao Poder: Trump, Duterte e Bolsonaro, avança o neo-facismo no mundo

Uma análise sobre a extrema-direita internacional e suas recentes vitórias eleitorais.

O pendulo da política no mundo aponta para a direita ou melhor para a extrema direita. As eleições de Duterte nas Filipinas, saída do Reino Unido da União Europeia, Trump e agora Jair Bolsonaro são exemplos que apontam a necessidade dos anticapitalistas ao redor do mundo encontrar as raízes desse movimento, suas caraterísticas e buscar alternativas pois o elo comum é uma guerra aos direitos dos mais pobres, mulheres, lgtbs, negras e negros, juventude e a toda forma de vida que não seja a busca selvagem por lucros fáceis.

As linhas a seguir apontam como surgiu e se desenvolveu esse recente movimento de direita e tem em comum o fato da Cambridge Analytica ajudar a espalhar essa “boa nova” ou Alt-Right.

Em Maio de 2016, a extrema direita conquistou uma vitória silenciosa. No Dia 10 de Maio desse ano, as Filipinas elegeram o ultra-direitista Rodrigo Duterte como presidente.

Pouco mais de um mês depois, uma nova vitória, dessa vez mais ruidosa: Nas urnas, o Reino Unido decide por deixar a União Européia, o que fortaleceu muito a posição da direitista Thereza May.

E por fim, uma vitória ensurdecedora: Donald Trump, o mais célebre representante do que se convencionou chamar de Alt-Right foi eleito presidente dos Estados Unidos da América, empoderando a extrema-direita ao redor do mundo.

De lá para cá, o campo da extrema-direita ganhou terreno nas disputas eleitorais mundo a fora.

Como exemplo, podemos citar o avanço do ultranacionalista AfD alemão, que obteve 13 por cento dos votos nas eleições de Setembro de 2017 naquele país, chegando a ofuscar a vitória de Angela Merkel, que teve que encarar dificuldades para formar uma maioria capaz de governar.

O também ultranacionalista Viktor Orbán foi reconduzido pela terceira vez ao posto de chefe do governo Húngaro, com mais de dois terços de apoio parlamentar, e a aliança ultradireitista da Liga e do Movimento Cinco Estrelas também conseguiu uma boa votação na Itália, tida como marco zero da crise europeia, iniciando assim uma crise política que pode descambar na escolha de Matteo Salvini, líder da aliança ultradireitista e atual ministro do Interior italiano, como Primeiro Ministro da Itália.

E finalmente, em Outubro de 2018, temos a eleição daquele que parece ser o mais radical dos líderes da extrema-direita na atualidade, Jair Bolsonaro, como presidente do Brasil.

Mas como uma vertente política amplamente rechaçada pelos regimes burgueses democráticos da atualidade pode sair do completo ostracismo para se tornar a maior ameaça tanto para a democracia no mundo, quanto para o establishment liberal político e econômico?

A resposta para essa pergunta que intriga análistas políticos ao redor do globo vem se desenhando e passa por alguns nomes que recentemente tem aparecido com certa frequência no noticiário. Nomes como Steve Bannon, Max Turnbull, Alexander Nix, e claro, Cambridge Analytica.

Obviamente não podemos afirmar que cada avanço da extrema-direita está diretamente ligado ao criminoso esquema de apropriação indevida de dados de milhões de contas do facebook, escândalo esse publicizado alguns meses atrás, e que emparedou a Cambridge Analytica no congresso norte-americano e também o todo-poderoso Facebook.

Mas é inegável que há um modelo desenhado, que vem, país por país, solapando a democracia e elegendo neo-fascistas mundo a fora, mudando radicalmente a correlação de forças a nível global.

E para poder analisar esse modelo, é necessário lançar um olhar mais detalhado para elementos que unem o primeiro e o último exemplo citados, ou seja, a eleição de Rodrigo Duterte nas Filipinas, e de Jair Bolsonaro no Brasil.

Isso porque os êxitos da eleição de Donald Trump, e do Brexit, já são reconhecidamente fruto da interferência da Cambridge Analytica e os outros resultados citados são avanços eleitorais, não vitórias concretas.

Analisemos então as “coincidências” nas eleições Filipinas de 2016, e as Brasileiras de 2018.

Nas Filipinas, antes de 2016, Rodrigo Duterte era um desconhecido de amplos setores da sociedade, misógino, violento, agressivo com a mídia, defensor de execuções sumárias, anti-establishment e contra a corrupção: Assim Rodrigo Duterte se apresentou para as Filipinas em 2016, para ser eleito como seu presidente.

Antes disso, já havia admitido publicamente várias vezes sua incapacidade de lidar com a economia e outros setores estratégico do governo, como o planejamento e o desenvolvimento.

Mas para essas falhas, Duterte apresentava como solução a plena confiança em sua equipe técnica e a possibilidade de seguir a agenda de reformas iniciada por seu antecessor.

Isso lembra um pouco a trajetória de Jair Bolsonaro no Brasil?

Pois as “coincidências” não param por aí.

Assim como Bolsonaro, a primeira base social que Duterte conseguiu angariar foram os jovens, em especial os Millenials.

Essa base, intensamente conectada as redes sociais, foi estrutural para catapultar Rodrigo Duterte para outros nichos do eleitorado Filipino.

Para exemplificar a disputa dessa base, temos o jogo “Duterte Shotting Crime”, que ficou notório e popular entre a juventude Filipina ao mostrar Duterte combatendo o crime nas ruas de Manila, atirando em traficantes e usuários de drogas.

Curiosamente, no Brasil, foi lançado o jogo “Bolsomito 2K18”, em que Jair Bolsonaro aparecia também espancando e matando “bandidos e inimigos ideológicos”, tais quais feministas, LGBTs e sem-teto. Esse jogo foi amplamente baixado, jogado e comentado pela juventude brasileira.

A juventude não apenas foi uma fração eleitoral muito importante para Bolsonaro, mas também foi condição sine qua non para sua dominância nas redes, popularizando o então candidato através de páginas como a “Bolsonaro Opressor”, que conta com um alcance gigantesco no Facebook.

Obviamente, nas Filipinas não foi diferente, com páginas como a “Spektron Youth Supports Duterte” ajudando a popularizar a figura linha-dura de Duterte como “The Punisher” (O Punidor).

Mas qual é o ponto em comum dos dois?

A partir de que ponto essa presença maciça se dá nas redes, e principalmente, de onde vem a estratégia, que parece uníssona, de Duterte e de Bolsonaro?

Uma série de reuniões, encontros e conversas podem lançar luz sobre essas questões.

Em maio de 2015, aterrissava nas Filipinas a SLC (Strategic Laboratories Comunication) empresa mãe da Cambridge Analytica.

Segundo o “South China Morning Post”, jornal chinês de grande circulação na região, Rodrigo Duterte não era o neo-fascista que viria a comandar um dos maiores esquemas de assassinatos em massa do século XXI.

Ao contrário disso, o Jornal apontava que a sociedade Filipina lia Rodrigo Duterte como uma figura gentil.

O que poderia ter ocasionado essa mudança tão radical?

A resposta está nos resultados das pesquisas feitas pela SLC, em que muitos grupos do eleitorado Filipino apareciam como mais influenciáveis por apelos ligados a dureza e a determinação, do que apelos ligados a gentileza.

E de onde podem ter saído os dados que balizam as pesquisas da SLC?

O vazamento de dados de mais de um milhão e setecentos mil contas do Facebook nas Filipinas pode responder essa questão.

Alexander Nix, na altura CEO da empresa, e afastado da Cambridge Analytica após a eclosão do escândalo dos roubos de dados de mais de 87 milhões de contas do Facebook protagonizado por essa empresa, ao dar uma palestra no “National Press Club”, chegou a dizer que com as modernas táticas de “microtargeting” e “Psychographic Profiling”, “as campanhas eleitorais nunca mais seriam as mesmas”.

Tal declaração chegou a estampar as manchetes do “Manila Times”, jornal da capital Filipina.

Porém, mesmo com todos esses indícios, Rodrigo Duterte nega que tenha recebido qualquer ajuda da Cambridge Analytica.

Talvez ele queira fazer o mundo pensar que Alexander Nix, que novamente esteve no país em 2016 para acompanhar as eleições, estava na realidade apenas curtindo merecidas férias.

Já no Brasil, a Cambridge Analytica não fez muita questão de esconder sua chegada.

“Estamos indo para o Brasil, diz Cambridge Analytica”.

Essa era a chamada para uma matéria do jornal “O Globo” de 21 de março de 2018.

O anúncio alardeado na manchete foi feito por ninguém menos que Max Turnbull, diretor da Cambridge Analytica.

No dia 3 de Agosto de 2017, Carlos Bolsonaro se encontrou em Nova York com Steve Bannon, homem forte da campanha de Donnald Trump e também do esquema fraudulento da Cambridge Analytica.

Bolsonaro filho voltou de lá matraqueando na mídia brasileira que “o assessor de campanha de Donnald Trump ajudaria seu pai.”

A exemplo do que ocorreu nas Filipinas, as ligações entre a empresa de Turnbull e Nix com a campanha de Bolsonaro foram desaparecendo com o tempo, e a versão oficial é de que a Cambridge Analytica foi procurada pela campanha Bolsonaro, mas essa se negou a prestar assistência e consultoria ao ultra-direitista americano.

Mas a trilha de farelo, composta por fake news outras táticas que são o cartão de visita da Cambridge Analytica ficaram para trás.

Está construído assim o modelo, que vem sistematicamente, país após país, solapando a democracia e mudando radicalmente a correlação de forças a nível global.


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Pedro Micussi