100 dias do vendedor João Doria

A deputada estadual Mônica Seixas (PSOL-SP) faz um balanço dos 100 dias de governo João Doria.

Mônica Seixas 10 abr 2019, 21:26

O governo de João Doria chega a 100 dias e mostra a que veio: até o presente momento, pouca formulação sobre mudanças necessárias para a vida da população de São Paulo e muita energia investida em desmontar importantes políticas e serviços públicos do estado. O governador do estado mínimo demonstra desprezo pelo poder legislativo tal qual pelo impacto de suas ações na realidade das pessoas.

Hoje, em entrevista à BandNews TV, João Doria fala justamente isso: que até agora tratou apenas de negociar a venda de diversos setores estratégicos do estado de São Paulo. Ele apresenta um discurso vazio sobre a necessidade de economizar para investir em saúde, educação e segurança pública, mas não demonstra os cálculos nem para a Assembleia Legislativa, nem para a sociedade. Isso porque o discurso de enxugar o estado e ao mesmo tempo investir em qualquer outro serviço não se sustenta.  É verdade que algumas empresas públicas não geram receita, mas o investimento em algumas delas, como a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano) traz economia aos cofres dos municípios, além de ser detentora de informações estratégicas, o que teria valor incalculável no mercado. Outras, como a Sabesp, se tivesse todo o seu lucro na administração pública poderia sustentar pesquisas, despoluição de rios, avanço em saneamento e até socorrer a pasta da saúde. Enquanto isso, o governo que não é transparente com o poder legislativo, ventila pela mídia que pretende abrir mão dessas empresas por valores similares a aproximadamente 3 anos do seu lucro. TRÊS ANOS!

Não propõe nada de novo, pelo contrário, assim como fez quando prefeito da cidade de São Paulo, ele tenta vender tudo o que é público para a iniciativa privada, diminuindo a capacidade de fiscalização e transparência no uso dos recursos públicos que em boa parte vem dos impostos pagos por todos nós.

Outra questão é que o governador corta recursos justamente dos setores que ele diz querer investir, como a educação: Desmontou o Programa Escola da Família; precarizou a merenda escolar retrocedendo no equilíbrio dos cardápios, trocando alimentos saudáveis por outros de pior qualidade, e serviu até carne de frigorifico interditado. 

Não podemos esquecer que o governador Doria de hoje é o mesmo prefeito da farinata em São Paulo, que tentou trocar a boa qualidade da merenda escolar municipal por ração humana, e só não o conseguiu fazer graças à pressão popular. 

Que investimento é esse que tenta cortar brutalmente o orçamento destinado à Cultura, colocando em risco uma série de programas que dão sentido à vida de mais de 60 mil crianças e jovens nas periferias do estado, como o projeto Guri; ameaçando de fechamento centros culturais, projetos pedagógicos, teatros e museus, como o Museu Afro Brasil, sem falar na demissão de centenas de funcionários impactados por um corte de 23% no orçamento da pasta. 

Nem o Meio Ambiente escapa da ganância desse governo, que tenta desmontar completamente os mecanismos de preservação ambiental, quando une as pastas de Meio Ambiente e Infraestrutura, submetendo quem deveria fiscalizar à quem deveria ser fiscalizado, entregando a natureza aos interesses do “progresso” acima das vidas e do nosso futuro nessa terra. Brumadinho é um triste exemplo nacional dessa lógica. 

Se queremos desenvolver o estado e o Brasil, o verdadeiro investimento passa por melhorar radicalmente as condições das escolas, com professores bem preparados e bem remunerados, salas de aulas, bibliotecas e laboratórios bem equipados, e não com a militarização das escolas. Passa também por expandir com qualidade as universidades públicas para que mais jovens possam ingressar ao ensino superior, e não por contingenciar verbas para a educação. Passa pela manutenção e proteção dos nossos mananciais, dos territórios das comunidades indígenas e das áreas de preservação ambiental.

Por isso, nosso mandato e a bancada do PSOL na Alesp estão muito atentos a cada passo desse governo que tem enfrentado alguma dificuldade (mas que fiquemos atentos que é temporariamente) de avançar com a entrega de todo o patrimônio do estado de São Paulo para seus amigos empresários.  De dentro, nós vamos compor as comissões de Meio Ambiente, Defesa da Mulher, Educação e Direitos Humanos para fiscalizar e atuar na garantia de projetos que beneficiem o povo trabalhador do estado, os educadores e as educadoras, as LGBT, as comunidades indígenas, o povo preto e pobre e que preservem nossos recursos naturais. Do lado de fora, seguimos nas ruas, ao lado dos movimentos e ativistas que batalham diariamente em defesa de uma vida melhor, digna e justa para todos e todas.

A única forma de barrarmos o avanço desse projeto é com organização popular. Apenas juntos dos trabalhadores, famílias e professores das escolas e universidades poderemos impor uma derrota ao vendedor João Doria.


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