Morreu Terry Jones, artesão do absurdo e crítico da guerra

Membro do Monty Python, Terry Jones faleceu esta terça aos 77 anos. Para além da comédia, da poesia, dos documentários, da história e da literatura infantil foi uma voz ativa contra a guerra no Iraque.

Esquerda.net 22 jan 2020, 17:16

Terence Jones nasceu a 1 de fevereiro de 1942, em Colwyn Bay, Gales. Ainda em criança, a família muda-se para Inglaterra. É a partir de Londres que começa a sua jornada para a fama mundial. Em outubro de 1969, estreia um objeto estranho no panorama da comédia de então, o Monty Python’s Flying Circus.

Manejando um absurdo exímio, sem medo de ridicularizar normas e convenções, torna-se um sucesso improvável. A série que desconstrói a normalidade, redefine ao mesmo tempo o que pode ser mostrado em televisão e marca as gerações seguintes da comédia mundial.

Os seus autores, Terry Jones, Michael Palin, John Clease, Graham Champman e Eric Idle vêm das melhores universidades do país Oxford e Cambridge. Jones, por exemplo, começa na comédia ao mesmo tempo que estuda Literatura Inglesa em Oxford. A eles se junta Terry Gilliam que vem dos Estados Unidos e assina as famosas animações que intercalam os quadros de comédia de que se compõe a série.

Depois da televisão, a comédia dos Monty Python passa para o cinema: Monty Python e o Cálice Sagrado, A Vida de Brian, O Sentido da Vida. Para além de co-autor, Jones é realizador dos três filmes que os projetam ainda mais.

Em 1989, Chapman morre. O grupo estava já a seguir caminhos diferenciados que depois continuam. O projeto dos Python tinha dado lugar a outros. Para Jones, a vida pós-Python é feita de variedade: livros infantis, documentários, nomeadamente sobre história medieval, poesia. Daí que Michael Palin tenha reagido à sua morte dizendo que “ele era muito mais do que um dos mais engraçados escritores-atores da sua geração, era um autêntico cómico da Renascença – escritor, realizador, apresentador, historiador, brilhante autor de livros infantis, e a mais calorosa e maravilhosa companhia que se poderia desejar ter.”

A comédia seguiu-a, por exemplo, através de Ripping Yarns, em conjunto de Michael Palin, e de Personal Services de 1987. O documentarismo através de séries como Cruzadas de 1995, Vidas Medievais de 2004, que ganha um prémio Emmy, e Bárbaros de 2006. Os livros infantis através de uma longa série de livros como Bedtime Stories, Nicobobinus ou A Saga de Erik o Viking que ganha o Children’s Book Award de 1984. Também é autor de livros sobre história como Chaucer’s Knight: The Portrait of a Medieval Mercenary no qual desmonta o mito de que os cavaleiros medievais seriam modelos de virtude cristã. No seu documentário tinha antes atacado outro mito, o da pobreza da cultura medieval.

A diversidade de projetos e a dispersão dos seus membros não impede que os Python se voltem a reunir várias vezes depois do final do grupo. Em 2014 é a sua última aparição. Na altura, já os seus colegas notam dificuldades de memória num autor que nunca tinha tido dificuldades em lembrar-se das suas deixas. Em 2015 acaba por ser diagnosticado com uma forma de demência rara e degenerativa, a demência fronto-temporal.

A doença acabou por vitimá-lo esta terça-feira, aos 77 anos. Numa entrevista à BBC, em 2011, quando questionado sobre como gostaria de ser lembrado, não é curiosamente a parte cómica que é realçada. Jones responde: “talvez uma descrição minha enquanto autor de livros infantis ou alguma das minhas coisas académicas.” Acrescentando: “talvez como o homem que restaurou a reputação de Ricardo II. Ele foi uma vítima terrível de um spin político no século XIV”.

Para além da vida artística, deixa-nos um outro legado pelo qual é menos conhecido. Terry Jones foi autor de uma série de artigos, publicados nos jornais The Guardian e Observer, em que critica a “guerra ao terror”. Vão ser compilados em 2004 no livro A guerra contra a guerra contra o Terror de Terry Jones.

Fonte: Esquerda.net


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra | 21 dez 2024

Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro

A luta pela prisão de Bolsonaro está na ordem do dia em um movimento que pode se ampliar
Braga Netto na prisão. Está chegando a hora de Bolsonaro
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi