Morreu Terry Jones, artesão do absurdo e crítico da guerra
Membro do Monty Python, Terry Jones faleceu esta terça aos 77 anos. Para além da comédia, da poesia, dos documentários, da história e da literatura infantil foi uma voz ativa contra a guerra no Iraque.
Terence Jones nasceu a 1 de fevereiro de 1942, em Colwyn Bay, Gales. Ainda em criança, a família muda-se para Inglaterra. É a partir de Londres que começa a sua jornada para a fama mundial. Em outubro de 1969, estreia um objeto estranho no panorama da comédia de então, o Monty Python’s Flying Circus.
Manejando um absurdo exímio, sem medo de ridicularizar normas e convenções, torna-se um sucesso improvável. A série que desconstrói a normalidade, redefine ao mesmo tempo o que pode ser mostrado em televisão e marca as gerações seguintes da comédia mundial.
Os seus autores, Terry Jones, Michael Palin, John Clease, Graham Champman e Eric Idle vêm das melhores universidades do país Oxford e Cambridge. Jones, por exemplo, começa na comédia ao mesmo tempo que estuda Literatura Inglesa em Oxford. A eles se junta Terry Gilliam que vem dos Estados Unidos e assina as famosas animações que intercalam os quadros de comédia de que se compõe a série.
Depois da televisão, a comédia dos Monty Python passa para o cinema: Monty Python e o Cálice Sagrado, A Vida de Brian, O Sentido da Vida. Para além de co-autor, Jones é realizador dos três filmes que os projetam ainda mais.
Em 1989, Chapman morre. O grupo estava já a seguir caminhos diferenciados que depois continuam. O projeto dos Python tinha dado lugar a outros. Para Jones, a vida pós-Python é feita de variedade: livros infantis, documentários, nomeadamente sobre história medieval, poesia. Daí que Michael Palin tenha reagido à sua morte dizendo que “ele era muito mais do que um dos mais engraçados escritores-atores da sua geração, era um autêntico cómico da Renascença – escritor, realizador, apresentador, historiador, brilhante autor de livros infantis, e a mais calorosa e maravilhosa companhia que se poderia desejar ter.”
A comédia seguiu-a, por exemplo, através de Ripping Yarns, em conjunto de Michael Palin, e de Personal Services de 1987. O documentarismo através de séries como Cruzadas de 1995, Vidas Medievais de 2004, que ganha um prémio Emmy, e Bárbaros de 2006. Os livros infantis através de uma longa série de livros como Bedtime Stories, Nicobobinus ou A Saga de Erik o Viking que ganha o Children’s Book Award de 1984. Também é autor de livros sobre história como Chaucer’s Knight: The Portrait of a Medieval Mercenary no qual desmonta o mito de que os cavaleiros medievais seriam modelos de virtude cristã. No seu documentário tinha antes atacado outro mito, o da pobreza da cultura medieval.
A diversidade de projetos e a dispersão dos seus membros não impede que os Python se voltem a reunir várias vezes depois do final do grupo. Em 2014 é a sua última aparição. Na altura, já os seus colegas notam dificuldades de memória num autor que nunca tinha tido dificuldades em lembrar-se das suas deixas. Em 2015 acaba por ser diagnosticado com uma forma de demência rara e degenerativa, a demência fronto-temporal.
A doença acabou por vitimá-lo esta terça-feira, aos 77 anos. Numa entrevista à BBC, em 2011, quando questionado sobre como gostaria de ser lembrado, não é curiosamente a parte cómica que é realçada. Jones responde: “talvez uma descrição minha enquanto autor de livros infantis ou alguma das minhas coisas académicas.” Acrescentando: “talvez como o homem que restaurou a reputação de Ricardo II. Ele foi uma vítima terrível de um spin político no século XIV”.
Para além da vida artística, deixa-nos um outro legado pelo qual é menos conhecido. Terry Jones foi autor de uma série de artigos, publicados nos jornais The Guardian e Observer, em que critica a “guerra ao terror”. Vão ser compilados em 2004 no livro A guerra contra a guerra contra o Terror de Terry Jones.
Fonte: Esquerda.net