PSOL/PR se prepara para eleger as primeiras parlamentares
Partido atingiu patamar inédito no estado.
As eleições de 2020 assumem uma importância fundamental na luta pela democracia e enfraquecimento das posições fascistas expressas no bolsonarismo e suas vertentes estatuais. Impor uma derrota a esses setores elegendo bancadas de vereadores que sejam expressão da luta antirracista, feminista, lgbt, ambientalista, dos povos originários, juventude é tarefa dos socialistas.
Escrevemos essas linhas na intenção de abrir um debate sobre o planejamento de nossas campanhas. Estamos a pouco mais de 110 dias das eleições que podem colocar o PSOL/PR em outro patamar. Um processo que, resultando na eleição de parlamentares, irá nos proporcionar um colossal salto de qualidade.
Um mundo mais polarizado
Ao mesmo tempo em que o sistema econômico e social vigente se aprofunda, cada vez mais, em suas contradições internas, nas últimas décadas, se alastraram, por todo o planeta, fenômenos buscando alternativas políticas ao velho centro de partidos progressistas amplos x conservadores que dominavam o cenário até o começo do século XXI. Lembrando a máxima de Lênin sobre o tempo histórico: “há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”, podemos afirmar que vivenciamos uma “aceleração” da História, nos últimos períodos. E, exatamente por isso, precisamos estar atentos para não perdermos o bonde da história!
Passando por fenômenos como o Syriza na Grécia e Podemos na Espanha para ficar em alguns exemplos, ao mesmo tempo em que aumentam as contradições sociais, e os ataques sobre a classe trabalhadora, a busca por alternativas de enfrentamento a estes ataques é incessante.
É importante mencionar, como parte deste processo, três momentos chave para a história das lutas sociais no Brasil e no Paraná, sendo eles:
2013: as manifestações de rua que “estouraram” ao final do 1º semestre de 2013, levaram a juventude às ruas. Com pautas como ampliação dos direitos sociais, passe livre, recursos públicos para educação e saúde pública dentre outras, massas de trabalhadores saíram às ruas. Reflexo do que já acontecia a nível mundial como a “Primavera Árabe”, as manifestações de rua de 2013 foram a primeira experiência, no Brasil, de atos organizados e convocados pelas redes sociais. Os atos abalaram, de tal forma o establishment que, até hoje, existe uma disputa discursiva em torno dos mesmos. Com alguns setores, inclusive, tentando deturpar a leitura sobre àqueles atos, apresentando os mesmos como o “berço do golpe”. No entanto, apesar da disputa que a direita e extrema-direita tentou fazer dos atos, os mesmos podem ser considerados progressistas e não reacionários, diferentemente do que ocorreu após, em 2015.
2015: o ano de 2015 foi marcado, no Paraná, por uma das maiores greves dos servidores públicos do estado, sendo os profissionais da educação pública estadual os protagonistas naquele processo. A greve, que tinha como pauta a luta contra a destruição da carreira e a tentativa de impedir o saque do fundo de aposentadoria dos servidores, por parte do então Governador do Estado, Carlos Alberto Richa (PSDB), obteve importantes vitórias e mobilizou centenas de milhares de servidores em todo o estado. Sendo que, para a realização das Assembleias foi necessário, muitas vezes, a utilização de estádios de futebol para que todos os presentes pudessem participar. Alguns fatos marcaram este momento, sendo três deles a ocupação da Assembleia Legislativa do Paraná para impedir a votação do projetos do governo, a tentativa de invasão da ALEP, por parte de deputados da base governista, dentro de um camburão de polícia, e o massacre do dia 29/04/2015, onde dezenas de milhares de servidores foram alvo de um violento ato de repressão por parte do governo estadual. No entanto, os servidores não arrefeceram com a violência! Pelo contrário, após a repressão do governo o ânimo para a luta aumentou mais ainda, e a greve só terminou após muito desgaste interno dirigido e canalizado pela direção entreguista de alguns dos sindicatos, dentre eles a APP-Sindicato.
2016: o ano de 2016, além de ser marcado pelo ano da consolidação do golpe, também precisa ser lembrado como sendo o ano do levante dos estudantes. No final do segundo semestre de 2016, durante quase dois meses, mais de 1000 escolas estaduais foram ocupadas no Paraná, assim como diversos campus universitários. Desta vez, o levante foi contra a reforma do Ensino Médio proposta pelo governo golpista de Michel Temer. Os estudantes resistiram a tentativas de reintegração de posse das escolas e a invasões de agrupamentos de extrema-direita, como MBL, que começavam a ganhar corpo no cenário político nacional. No entanto, mais uma vez, como sempre, a luta da base acabou sendo canalizada pelas negociatas das direções burocratizadas e, assim como havia ocorrido com a greve dos servidores em 2015, o movimento de ocupação das escolas foi silenciado por dentro, devido ao receio das direções das entidades, de perder o controle da base.
Estes são alguns exemplos de como, em um período muito curto de tempo, lutas importantes aconteceram e foram levadas adiante. Reflexo, ao mesmo tempo, da deterioração do sistema econômico-social capitalista e, das tentativas da classe trabalhadora de resistir aos ataques que a burguesia, ao tentar manter vivo este sistema de dominação, dirige contra os trabalhadores e trabalhadoras.
Mas, é preciso ter em conta que, neste processo, ao mesmo tempo em que temos a ação da classe trabalhadora, também temos a reação da burguesia. É a dialética agindo na História. Daí a necessidade de a esquerda ter uma leitura apurada da conjuntura, para poder embasar suas ações. Infelizmente, até pouco tempo, a reação da burguesia se mostrou mais forte do que as ações da classe trabalhadora, e o que vinha se apresentado, com uma aparência de alternativa de mudança, tem sido a extrema direita com as eleições de Duterte, Orban, Brexit, Trump e Bolsonaro. A extrema direita mesmo em poucos países, mas economias importantes estava em ascensão e com possibilidades de ir além.
Mas, o surgimento da Covid19 bagunçou o tabuleiro da política mundial, essa mesma extrema direita que chega ao poder assumindo o Estado, com o objetivo de destruir as políticas sociais, a democracia e tudo que possa atrapalhar a guerra de rapina neoliberal, se viu em contradição com a realidade.
Os mesmos que falavam em acabar com o Estado são os que se veem obrigados a gastar trilhões de dólares em resgates sociais como nos EUA. No Brasil, a necessidade de contenção da pandemia, isolou o bolsonarismo e sua horda mais extremista, perdendo substância popular legitimadora de políticas antissociais, porém preservando, ainda, certa aprovação contraditoriamente graças ao auxílio emergencial.
Mesmo a contragosto Bolsonaro e Guedes tiveram que liberar o pagamento no valor de R$ 600 reais de auxílio emergencial. A pandemia deixou a extrema direita no Brasil e no mundo sem chão e frustrou seus planos. No entanto, não podemos relaxar, pois ela ainda tem reservas, mas o cenário positivo a esses planos de antes da pandemia se encontra bastante fragilizado.
Quando solidariedade, fraternidade, proteção social estão em evidência, qualquer política neoliberal radical encontra dificuldade ao defender individualismo, capital, egoísmo e por aí adiante.
Reiteramos, não estamos defendendo, aqui, que a força política da extrema-direita já desapareceu ou até mesmo que ela tenha perdido, completamente, seus seguidores. Mas o fato é que, o plano de expansão e consolidação da extrema-direita se encontra em dificuldade.
A questão é que o Estado Neoliberal selvagem não tem para onde correr, a não ser em direção à aplicação de mais doses do mesmo veneno: retirada de direitos, segurança pública baseada no patrimônio e, consequentemente, racista, ou seja, atacar, mais ainda o povo trabalhador. A panela de pressão não demorou à explodir. A polícia fascista e branca dos EUA matou Jorge Floyd e na esteira dessa morte brutal surgiu uma rebelião juvenil e popular no coração do capitalismo mundial.
A comunidade negra, juntamente com outras vítimas do racismo estrutural, mesmo abaixo de um toque de recolher e enfrentando o Estado com maior poderio bélico do mundo foram as ruas e delas não saíram por semanas, proporcionando um fato histórico que recoloca com toda força a possibilidade de uma luta mundial contra o racismo e o fascismo.
Na esteira dos protestos nos EUA com muita radicalidade no mundo todo surgiu uma cadeia de solidariedade, mas também de muita indignação pois a maneira que a PM trata negros e pobres nos EUA não é um fato isolado.
As reaberturas em alguns países na Europa já demonstravam a disposição de luta com os processos massivos de demissão, protestos massivos na Espanha, França e outros países demostram que o mundo se encontra ainda nessa disjuntiva de escolha de alternativas.
E é neste cenário, brevemente descrito acima, em que ocorrerão as eleições municipais no Brasil. Eleições estas que tem o potencial de mudar a direção do leme, do barco da história, pois uma derrota acachapante, nos mais diversos municípios Brasil à fora, pode fragilizar, profundamente, o atual governo, fortalecendo, desta forma, as lutas que trariam fim ao governo Bolsonaro.
2016 a 2020: apenas quatro anos, mas o solo estremeceu
Se o ano de 2016 foi o ano de consolidação do golpe parlamentar, promovido pela direita em conluio com as forças da extrema-direita já em ascensão, e a chegada de Temer ao poder com essa manobra.
Podemos dizer, também, que a extrema direita apareceu nas eleições de 2016 como alternativa antissistema figuras que estiveram liderando os protestos pelo impeachment de Dilma apareceram como grandes novidades no cenário político e foi uma lavada desses setores, o que era ruim conseguiu ficar pior em 2016 na representatividade dos parlamentos municipais.
Mas, agora o momento é de contestação a esses setores, Bolsonaro se isola no governo, é possível, inclusive, que seja um péssimo cabo eleitoral, conforme a pandemia avance. Nisso, uma vitória, mesmo que de setores como PMDB, PSDB, sem entrar em setores mais amplos da esquerda pode levá-lo ao isolamento extremo.
Portanto as eleições de 2020 cumprem papel fundamental na luta pela democracia, direitos humanos, e serão, em um contexto de desgaste dessas forças num cenário totalmente diferente do de 2016, quando os setores da esquerda radical perderam espaço para os outsiders da extrema direita e seu discurso antissistema.
De maneira alguma é possível chegar à conclusão que as forças conservadoras estão mortas, pelo contrário, serão uma força importante no pleito de 2020, se em 2016 com nenhuma estrutura da mais convencional, podemos assim chamar, (parlamentares, governos, etc) conseguiram avançar, agora estão com mais folego, com setores do empresariado investindo ainda em seus delírios.
A questão é que o espaço destes agrupamentos tem sido reduzido, tanto pelos elementos da conjuntura, o mundo todo fala em solidariedade, proteção e empregos, deixando de lado ou sem chão o discurso radical da extrema-direita e o fato, também, do desgaste óbvio que existe com o governo Bolsonaro que, queiramos ou não, é a estrela da companhia e, exatamente por isso, seu fracasso ofusca as posições da extrema direita e seu avanço eleitoral nas eleições municipais.
Tendo isso em conta, precisamos ter claro que a conjuntura abre espaço para buscas de alternativas, e o PSOL participará dessas eleições em melhores condições por ser um partido que se monstra ao conjunto da vanguarda, de forma aguerrida na defesa dos direitos, presente nas ruas e sempre atuante na conjuntura, mesmo com nossos problemas internos. Precisamos ter claro que a atuação de nossa, aguerrida, militância e de nossos parlamentares no Congresso, melhorou significativamente nossa inserção. Basta ver as pesquisas, onde saímos da posição de “melhor entre os menores” e estamos, agora entre os partidos mais lembrados nas pesquisas.
Essa coerência combinada à conjuntura vai alçar o PSOL a um salto maior nas capitais e cidades médias, onde nossas posições encontram boas avaliações entre a juventude, trabalhadores e setores do movimento como um todo.
PSOL/PR pode fazer história
No Paraná, nosso partido ganha força e densidade já há algum tempo em algumas cidades como Curitiba, Ponta Grossa, Almirante Tamandaré, sendo que em 2016 faltaram menos de cinco por cento (5%) para alcançarmos os votos necessários para eleger a primeira parlamentar do PSOL na capital.
Em Ponta Grossa, o PSOL alcançou, em 2016 setenta por cento (70%) dos votos necessários para elegermos nossa primeira parlamentar.
Se em 2016, quando existia uma verdadeira maré de candidaturas de direita e extrema direita “surfando” no discurso “antissistema”, e o momento era outro, o resultado foi esse, agora a situação é outra. Nosso partido pode fazer história com a eleição de nossas primeiras parlamentares, portanto, é preciso nos jogarmos nessa tarefa pois o fortalecimento da luta por democracia, contra o desmonte da coisa pública, homofobia, machismo, racismo passa, sobretudo, pela tarefa de nossas posições avançarem no parlamento e elegermos tribunos do Povo.
O PSOL/PR chega muito bem para as eleições de 2020, além das cidades citadas, como Curitiba e Ponta Grossa temos, também, Santo Antônio da Platina e Quedas do Iguaçu, locais em que o partido surge como uma força política na cidade com muita possibilidade de fazemos vereança.
Mas, em toda essa construção existem alguns destaques em que podemos simbolizar a recente construção do PSOL/PR, sendo um deles, o município de Terra Roxa, cidade do extremo Oeste do Paraná. Neste município, temos uma das melhores experiências do PSOL em Movimento que defendemos, um partido mergulhado de cabeça nos movimentos sociais.
Nesta cidade todo o PSOL é composto por indígenas, sendo sua direção formada por Guaranis, com destaque para a liderança do compa Gilberto que já foi cacique e hoje está afastado do cacicado para estudar História na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Tal construção nasceu de um processo de relação militante de mais de 10 anos, entre militantes do PSOL em Marechal Cândido Rondon e a luta, ao lado dos Guaranis, pela demarcação de suas terras nos municípios de Terra Roxa e Guaíra. Essa relação de confiança, que se consolidou ao longo de quase uma década luta conjunta, abriu espaço para que, em Terra Roxa, os Guarani decidissem assumir o PSOL como ferramenta de luta, fundando o primeiro núcleo do partido, no município, dentro de uma das aldeias.
Temos o maior orgulho do PSOL Terra Roxa e da força dos Guaranis que, mesmo com as adversidades, tomaram a decisão muito consciente de construir o PSOL e tem a consciência de que a chegada de Bolsonaro no poder demanda muita organização dos lutadores e lutadoras do nosso povo.
Os próximos 100 dias irão determinar o futuro, é bom que estejamos cientes da enorme tarefa que temos pela frente, pois dar um salto de qualidade exige sacrifício, disciplina e organização.
É com alegria que temos que organizar essa campanha, pois o futuro está em nossas mãos e não podemos ver nossos algozes, mais uma vez, observarem seus “negócios” darem certo.
Se preparar para o impossível
A presente análise do quadro do nosso partido no Estado do Paraná, parte do pressuposto das cidades onde teremos chapas amplas e completas e de cidades como Ponta Grossa (70%) e Curitiba (95%) que, respectivamente, atingiram as maiores percentuais no que se refere aos votos para eleição de vereadores em 2016.
É inútil brigarmos com a calculadora e/ou com as evidências, no PSOL podemos observar que onde conseguimos êxito temos chapas completas e/ou puxadores de votos, não existindo outra fórmula ou milagre que faça votos.
Mas sempre é bom ter a melhor preparação e organização possível, pois temos uma eleição numa conjuntura totalmente adversa, e com o papel das mídias sociais sendo cruciais. O cenário da conjuntura mundial e nacional, em que as forças de extrema direita se encontram em piores condições e, somado a isso, a mudança da legislação que entra em vigor e que obriga cada partido ter sua própria chapa de vereadoras podem produzir surpresas.
Esses fatores podem tirar as eleições do seu eixo “normal” em que grana pesada, exposição na TV e arranjos em que, no mais ou no menos, beneficiava os velhos esquemas de sempre, garantem a eleição.
A disputa muda de parâmetro, claro que dinheiro e maior tempo de TV e Rádio ainda serão fatores decisivos, mas o padrão de outras eleições pode não ser a fórmula cabal que garanta os figurões de sempre.
Com isso, mesmo onde não tenhamos apresentado bons resultados em 2016 e eleições anteriores, e/ou mesmo que não tenhamos chapas completas, existe a possibilidade do impossível e devemos nos preparar para ele, fazendo todo o esforço possível para convencer nossos melhores quadros para se disporem a construir as chapas mais amplas e representativas possíveis.
São apenas pouco mais de 100 dias pela frente até às eleições, mas talvez décadas de trabalho e construção do nosso partido estejam em jogo, portanto não deixemos para amanhã.
Avante PSOL/PR!!!
Ponta Grossa e Marechal Cândido Rondon, 27 de julho de 2020.