Um novo entusiasmo: as décadas de 1960 e 1970

Ambas fazem parte de um mesmo período histórico com experiências que são muito úteis e importantes que sejam conhecidas pelos novos companheiros do MES, da IV Internacional e de todos os internacionalistas.

Pedro Fuentes 11 ago 2020, 15:38

Este novo capítulo está dedicado aos anos 1960 e aos primeiros anos da década de 1970. Foram anos muitos agitados; neles, vivemos situações pré-revolucionárias e revoluções. Vou tratar de descrevê-las, a partir do meu ponto do vista, isto é, de um militante que se iniciava em organizações mais formadas: Palabra Obrera, o Partido Revolucionário de los Trabajadores (PRT) e Partido Socialista de los Trabajadores (PST), três organizações que marcaram presença na luta de classes nacional e internacional.

O primeiro capítulo desta série de entusiasmo foi “Luis Pujals, querido hermano, presente!”, publicado no número anterior desta revista. Foi escrito como uma homenagem a meu irmão Luis, graças ao qual comecei a militar, graças ao qual posso agora escrever este novo texto. Dividi este capítulo em três partes. A primeira está voltada especialmente para retratar o contexto político deste período e o que foi esta geração revolucionária. A segunda parte trata da história do PRT, PRT – “La Verdad” e o PST; suas políticas, o internacionalismo militante e as polêmicas que travamos. Por fim, a terceira parte são reflexões mais importantes sobre este período e o que elas ensinam para a construção do partido e da Internacional neste novo período histórico em que vivemos.

A década de 1960 tem sua continuidade nos primeiros anos dos 70, e ambas fazem parte de um mesmo período histórico com experiências que são muito úteis e importantes que sejam conhecidas pelos novos companheiros do MES, da IV Internacional e de todos os internacionalistas.

Por que se fala de “sessentismo” e “setentismo”?

Nos últimos anos, especialmente na Argentina, começaram a ser utilizadas expressões para a geração formada nos anos 1960/70. Escreveu-se muito sobre estas décadas, cuja intensa militância e acalorados debates na esquerda revolucionária deixam algumas lições para a nova geração revolucionária que vem se gestando na atualidade e para o novo período histórico iniciado a partir da crise capitalista de 2008.

Toda aquela geração se destaca especialmente por duas características: 1- a convicção de que era necessário fazer a revolução, de que esta era possível, de que para tanto havia que se dedicar suas vidas (ou, melhor dizendo, o essencial delas) e de que era fundamental fazer parte de uma organização; 2- toda esta geração, de diferentes maneiras, foi internacionalista, olhando nossos países desde uma ótica internacional e/ou continental. O máximo exemplo desta geração de revolucionários é Che Guevara, o qual, como disse Nahuel Moreno, foi um “herói e mártir da revolução permanente”. Che codirigiu a mais importante revolução de nosso continente, a Revolução Cubana, num processo em que foi também Ministro da Economia – responsável pelo desenvolvimento econômico da ilha caribenha-, para depois trocar todos os cargos e seu posto de dirigente do maior processo revolucionário na América Latina pela guerrilha na Bolívia com um punhado de fiéis companheiros.

Gerações e revoluções

A história dos revolucionários é também a de suas gerações, as quais produzem um determinado perfil de militantes revolucionários, características comuns que em certa medida ultrapassam as diferentes posições ou estratégias assumidas nesses momentos. Todas as revoluções forjam revolucionários, lhes dando traços característicos. A Revolução Francesa, prolongada por mais de cinco anos, deu traços definidores a Robespierre e a muitos outros jacobinos como ele. Na América Latina, as lutas pela independência do Império Espanhol também formaram um tipo humana geracional: dirigentes e guerreiros que fizeram o possível pela independência de nosso continente. Sem dúvida, o venezuelano Simón Bolívar, o argentino de José de San Martín, e o chileno Bernardo O’Higgins foram líderes de uma extensa geração que levou adiante e até o final as várias lutas pela independência latino-americana. Tratava-se de um tipo humano – assim o diz a história -, que viveu grande parte de sua vida guerreando, em cima de um cavalo, na direção de exércitos com seu espírito audacioso e sua política libertadora e continentalista.

Há alguns dias tive a oportunidade de ler um artigo[1] de Tito Prado, dirigente do partido Novo Peru, sobre seu bisavô, o general Leoncio Prado (1853-1883). Pela trajetória militante em comum que tenho com Tito (um “sessentista” que, como recordou Hugo Blanco há pouco tempo no twitter, ia visitá-lo religiosamente, fazendo chuva ou sol, na cárcere de El Frontón[2]), eu conhecia parcialmente a história de seu bisavô, que agora se encaixa e ilustra de forma muito precisa o que eu vinha escrevendo sobre tipos característicos formados pela luta revolucionária. Tito conta como seu bisavô Leoncio (filho do presidente Mariano Ignacio Prado), com apenas treze anos de idade, foi ao Chile lutar contra os espanhóis, junto aos exércitos libertadores. Conta também que um ano mais tarde voltou ao Peru para enfrentar a armada espanhola, derrotando-a no porto limenho de El Callao. Tito nos relata também que, uma vez terminada a independência da América do Sul, Leoncio foi a Cuba guerrear ao dos cubanos contra o colonialismo espanhol. É evidente que esta história não se configura como um caso isolado. Houve muitos revolucionários de “pena e espada” que tornaram possível a independência latino-americana. Tratou-se de um tipo humano com suas próprias características.

Muito mais conhecidos e familiares à nossa tradição são os revolucionários bolcheviques da Rússia. O livro O Partido Bolchevique, do trotskista francês Pierre Broué, possui um capítulo intitulado “O partido e os homens”, no qual ele descreve essa geração que se entregou de corpo e alma à ideia do socialismo e revolução. Afirma Broué:

(…) o núcleo da organização bolchevique, a “corte de ferro” composta por militantes profissionais, é recrutado entre gente muito jovem, operários ou estudantes, numa época e condições sociais que, certamente, não permitem uma prolongação excessiva da infância, sobretudo nas famílias operárias. Os que renunciam a toda carreira e toda ambição que não seja política e coletiva, são jovens de menos de vinte anos que, de forma definitiva, empreendem uma fusão completa com a luta operária.

Neste mesmo livro, somos informados da curta idade que a maioria dos dirigentes bolcheviques tinha quando ingressou no partido: Piatakov (20 anos); Kamenev, Schimdt e Smirnov (19 anos); Bakaiev, Bukharin, Kretinsky e Kaganovich (18 anos); Zinoviev, Serebriakov e Sverdlov (17 anos); Smilga (15 anos); Piatnitsky (14 anos). Broué ainda descreve a moral revolucionária com a seguinte passagem[3]:

A moral destes homens é de uma solidez a toda prova: oferecem o melhor deles mesmos, com a convicção de que só desta forma podem expressar todas as possibilidades que fervem em suas jovens inteligências. Sverdlov, clandestino desde os 19 anos e enviado pelo partido para organizar os operários de Kostroma no Norte, escreve a um amigo: ‘As vezes adoro Nijni‑Novgorod, mas, em definitivo, estou contente de ter partido, porque ali não teria podido abrir as asas que creio possuir. Em Novgorod aprendi a trabalhar e cheguei aqui com a posse de uma experiência: conto com um amplo campo de ação onde empregar minhas forças’”.

Essas asas mencionadas por Sverdlov foram também as que se abriram em nossa geração.

Nossa geração

A geração sessentista (minha geração) foi uma vanguarda expandida de militantes que como os bolcheviques dedicaram sua vida à revolução. Diferentemente da geração bolchevique, a nossa geração não tinha um partido como o russo, mas diversas correntes e diversas posições políticas – algumas muito erradas, como a luta armada em qualquer momento e lugar-, mas todos eram militantes profissionais da revolução.

Cada geração é o resultado ou produto de determinadas circunstâncias históricas. Não existiriam sem elas e algo assim – guardando as distâncias – ocorreu com esta geração que não tem um período cronológico exato, já que abarca diferentes anos em diferentes países. O “sessentismo”, que se prolongou até meados de 1970, também deu um tipo humano que foi uma ruptura geracional e política com os aparatos e direções reformistas, as quais até então tinham o monopólio quase absoluto da palavra “socialismo”. Ernest Mandel (segundo nos comentava Moreno) dizia que a dos anos 1940 foi uma geração forjada em tempos difíceis. E efetivamente ela se fez contra a corrente, defendendo o programa internacionalista isolado do movimento de massas como consequência do bloqueio do stalinismo. Foi uma época difícil de auge do stalinismo e de postura defensiva dos revolucionários.

Nossos mestres se fizeram na geração dos anos 1940: Ernest Mandel, Pierre Frank e Livio Maitan na Europa; James Cannon, Joseph Hansen e Farrael Dobbs nos EUA; Nahuel Moreno, o “Vasco” Bengochea, Horacio Lagar e Ernesto Gonzalez na América Latina. Todos estes foram os professores que teve a nossa geração no movimento trotskista.

Um período de intensa luta de classes com revoluções e contrarrevoluções

Nós, da geração dos sessenta, vivemos numa situação na qual aparecem revoluções e insurreições que rompem esse bloco da burocracia e que – com ritmos desiguais –, se prolongaram por mais de 15 anos. Minha história militante transcorreu num período de grande agitação política. Ela tocou o debate sobre a estratégia, a tática e os métodos que se deram na vanguarda argentina naquela época. Sintética e esquematicamente, podemos dizer que se enfrentaram duas concepções relacionadas à estratégia revolucionária e à construção do partido. A nossa proposta era construir o partido na mobilização de massa. Já a outra era construiu um grupo guerrilheiro que por meio de suas ações exemplares se converteria num exército popular revolucionário, independente da correlação de forças e do nível de mobilização das massas. Por estas razões, à parte da situação objetiva, somente era necessário criar um foco guerrilheiro seguindo o exemplo da guerrilha cubana. Um grande contingente da vanguarda latino-americana seguiu estas posições, transpondo mecanicamente a experiência cubada para qualquer país do continente.

Na Argentina, escreveu-se muito mais sobre as ações guerrilheiras e seus dirigentes, as histórias de indivíduos e organizações como o ERP e o Montoneros do que a história dos que sustentamos a luta revolucionária pela via da mobilização de massas. Entretanto, agora, vários historiadores argentinos militantes estão resgatando a nossa história: uma história de revolucionários que lutaram contra o imperialismo, as patronais, os governos, as formas e os métodos fascistas com a estratégia da mobilização de massas.

Da revolução cubana ao Maio francês

A primeira revolução – e também a que mais impactou os latino-americanos – foi a cubana. A partir da invasão da Baía dos Porcos em 1961 e a posterior resposta da expropriação dos engenhos açucareiros dos burgueses estadunidenses, a revolução que tinha características domésticas se transforma em uma revolução socialista. A ilha caribenha foi uma enorme revolução que mudou a vida de nosso continente. Moreno escrevia em 1961 que “há na América Latina uma nova situação continental, uma antes e depois como consequência da revolução cubana”[4]. O ascenso revolucionário fortaleceu em seu primeiro momento a movimentos nacionalistas independentes da grande burguesia. No Brasil aparecem as Ligas Camponesas de Francisco Julião, além de ocorrer a Campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola no Rio Grande do Sul. No ano seguinte, na República Dominicana ganha as eleições o partido nacionalista de Juan Bosch. Na Argentina, o peronismo, mesmo proscrito nas eleições presidenciais, vence em vários pleitos provinciais; elege-se governador da província de Buenos Aires o dirigente do sindicato dos têxteis, Andres Framini, que era da esquerda peronista. Na província de Tucumán, onde se concentrava a maior produção de açúcar em uma dezena de engenhos, o Palabra Obrera impulsionou candidaturas operárias do sindicato do açúcar (Federación Obrera Tucumana de la Industria del Azúcar – FOTIA) e conseguiu que o dirigente de alguns dos engenhos, Leandro Fote (militante da organização do PO), fosse eleito junto a outros dirigentes de engenhos para conformar o bloco de deputados operários da FOTIA.

Meu batismo como militante orgânico do PO foi num ato em defesa da revolução cubano no Conselho Deliberante de minha cidade, organizado com “El Indio” Bonet[5] depois de uma noite dedicada a espalhar cartazes de convocatória.

O movimento revolucionário anti-imperialista era forte também no Peru. Em 1958, quando o então vice-presidente dos EUA Richard Nixon visitou Lima, houve uma grande agitação política. Tomada por estudantes e trabalhadores, a Universidade de San Marcos rechaçou Nixon. Na cidade de Cuzco, localizada entre a pré-cordilheira andina e o começo da selva amazônica, a mobilização paralisou a cidade por dias com milhares de pessoas nas ruas.

Ali foi o território da política internacionalista do Secretariado Latino-Americano do Trotskismo Ortodoxo (SLATO). Hugo Blanco encabeçou a revolução agrária nos vales de La Convención y Lares, onde se fez a reforma agrária ocupando as fazendas desses territórios e estabelecendo de fato um poder campesino sobre essa região peruana[6].

Minha militância revolucionária ganhou entusiasmo quando recebi em 1962 (não me recordo exatamente o mês) um jornal do PO que trazia em sua primeira página uma foto de Hugo Blanco com terra caindo nas mãos e com o fundo do campo. O título dizia “Terra ou morte, venceremos”. Para não ser repetitivo, recordo que já comentei no capítulo anterior parte desta experiência e que vou retomar na terceira parte deste capítulo. O processo de reforma agrária em Cuzco não se estendeu a outras regiões camponesas do Peru (depois nos deteremos melhor em algumas razões que explicam isso) e Hugo Blanco, perseguido pelas forças repressivas, termina sendo preso em 1963[7].

Em 1962, ocorre também na África a Revolução Argelina, acontecimento que não é de nenhum modo menos importante. A Frente de Libertação Nacional, dirigida por Ben Bella, derrota o exército francês instalado na Argélia, até então colônia da França. O poder fica nas mãos da FNL, causando a fuga da burguesia e dos colonos franceses. Realiza-se uma assembleia constituinte democrática, a qual tem como uma de suas leis a autogestão de alguns setores da economia. Cabe destacar que esta revolução contou com o movimento trotskista francês jogando um papel de solidariedade militante ativa na construção de uma fábrica de armamentos para a FNL. A revolução argelina que havia dado um passo fundamental rumo à expropriação da burguesia se estanca; a morte de Ben Bella favorece a burocratização do poder e os governos posteriores terminam negociando o petróleo com o imperialismo francês. Contudo, o processo não se detém somente neste país. Depois da revolução argelina, em particular na África negra, eclode o processo no Congo Belga, encabeçado por Patrice Lumumba[8].

Como em todo momento em que aparece a revolução, também ocorrem as tentativas contra a revolução. Essa onda contrarrevolucionária apareceu na África e na América Latina. O golpe militar no Brasil foi uma resposta à revolução cubana sob a regência do imperialismo americano. O governo Kennedy dos EUA encobriu sua política contrarrevolucionária com a chamada “Alianza para o Progresso”, a qual dizíamos então que “no progresa” [N.d.T. “não progride”].

O auge provocado pela Revolução Cubana ganhou força na República Dominicana, onde as eleições de 1962 fizeram triunfar Juan Bosch do Partido Revolucionário Dominicano (PRD). Seu governo tomou medidas progressivas como a distribuição de terras e a expropriação de certas propriedades do imperialismo. Em 1965, ocorre um golpe de estado da cúpula militar que toma o poder. Oficiais jovens respondem com um levante armado que conquista o poder em zonas liberadas num processo de enfrentamento direto na capital Santo Domingo. Em meio a este confronto que iniciava uma revolução democrática e popular, os EUA decidem então intervir com o envio dos marines, substituindo por um governo títere de sua política.

Na Argentina, foi grande a mobilização contra a invasão ianque. A Federação de Estudantes e as organizações operárias convocaram uma mobilização na Plaza de los Dos Congresos, em frente ao parlamento. Pela primeira vez participei de uma mobilização de massas que foi reprimida. Quando estava por falar nosso companheiro do PO Salvador Amato, a cavalaria da polícia disparou contra a mobilização. A resposta não tardou a aparecer. Choveram pedras e a resistência se fez forte na região do Congresso. Muitas barricadas foram montadas para impedir que a polícia seguisse avançando. Junto a outro manifestante tomamos um ônibus da empresa estatal e decidimos fazer baixar todos os passageiros, cruzando o veículo na avenida Callao, centro da resistência. A luta durou um bom tempo até que se fizeram presentes fortes carros de assalto da polícia federal. Ante este avanço do lado contrário, decidimos recuar, felizes pela demonstração de forças que havíamos feito.

O golpe militar de 1964, a invasão militar da República Dominicana (que teve a resistência durante semanas do exército do general Caamaño Deñó) e a prisão de Hugo Blanco em Cuzco configuraram a resposta da burguesia à onda revolucionária despertada em Cuba. No Brasil, inicia-se a ditadura mais longa que viveu o nosso continente na qual há resistências, com destaque para as guerrilhas de Marighella e Lamarca e as mobilizações estudantis de 1968. Visto desde agora, estas ações do imperialismo, somadas à detenção de Hugo Blanco no Peru, detêm parcialmente – ainda que não derrotam –, o processo aberto pela revolução cubana.

Entretanto, a continuidade das lutas reaparece no mundo com as revoluções de 1968, desta vez com um caráter mais mundial e no coração do imperialismo. Os EUA e seu poderoso exército é derrotado pelo heroico povo vietnamita. Ajudou esse triunfo a mobilização nos EUA que começou a ganhar potência com o levante dos estudantes de Berkeley. A ofensiva do Tet (1968) liderada pela Frente Nacional de Libertação do Vietnã (FNL) foi o ponto de inflexão para conseguir a primeira e maior derrota militar do exército mais poderoso da história da humanidade.

O ano de 1968, aliás, é o período de mais revoluções comparáveis à situação revolucionária do pós-I Guerra Mundial e do pós-II Guerra Mundial. A Primavera de Praga, o Levante Estudantil e a Greve Geral do Maio Francês, e a mobilização estudantil mexicana em nosso continente que termina com o massacre de Tlatelolco, além das semi-insurreições argentinas em Córdoba e Rosário. O mundo muda com estes levantes.

No capítulo anterior, escrevi que as mobilizações e ocupações de escola foram a matriz na qual nos formamos grande parte de nossa geração “sessentista”. E entendo por matriz o molde no qual se desenha a estrutura. As revoluções de 60 e 70 foram a forja desse molde ou estrutura. Em 1958 estavam os desenhos e coube às revoluções dos 60 e 70 serem a forja que deram consistência a esses desenhos; a rebeldia de 58 se transformou em consciência revolucionária. As revoluções da década de 1960 não somente alteraram a geografia política do mundo, mas também levaram a um choque geracional contra a consciência reformista, imobilista que havia gerado o stalinismo e a social-democracia na Europa, além dos movimentos nacionalistas como o peronismo. Neste processo, e em particular com o Maio Francês, se fortaleceu o movimento trotskista no mundo. Os militantes aprendemos a ser mais internacionalistas, em meio à intensa atividade prática e importantes polêmicas que tocaremos na segunda e terceira parte deste capítulo.


[1] Tito Prado. “Leoncio Prado, herói e mártir”, 15/07/2020.  Observatório Internacional do PSOL. Disponível em: www.internacional.laurocampos.org.br.

[2] A ilha de El Frontón no Oceano Pacífico abrigava uma prisão política na qual esteve Hugo Blanco Galdós durante três anos durante os anos 1970.

[3] Mais adiante, no capítulo citado, Broué também registra o alto nível cultural dos bolcheviques: “Os revolucionários estudam:                 alguns, como Piatakov, que escreve um ensaio sobre Spengler, durante              o período em que a polícia o acossa na Ucrânia em 1918, ou como             Bukharin, são relevantes intelectuais. (…) Naturalmente, nem todos os bolcheviques são poços de ciência, mas sua cultura os eleva muito acima do nível médio das massas; em suas fileiras se contam alguns dos intelectuais mais brilhantes de nossa época. Sem dúvida alguma, o partido educa e, de todos os lados, o revolucionário profissional dista muito do burocrata precoce descrito pelos detratores do bolchevismo”.

[4] La Revolución Latinoamericana (Ediciones PO), obra que compila escritos de Moreno sobre a América Latina.

[5] Rubén Bonet estudou a escola secundária em Pergamino e com vários de nós transferiu sua militância para Buenos Aires, cidade onde se proletarizou. Quando deu sua ruptura com o ERP, morreu assassinado no massacre de Telew, junto a 20 militantes, que tentaram fugir do cárcere.

[6] Em seu livro Tierra o muerte, Hugo Blanco descreveu com este parágrafo a revolução agrária: “Em Chaupimayo nos convertemos em donos de terras. As parcelas cultivadas pelos camponeses para si e por cujo arrendamento estavam obrigadas a trabalhar gratuitamente para o patrão ficaram em propriedade dos camponeses. (…) Nomeamos formalmente juízes que substituíram as autoridades burguesas (suas sentenças eram apeláveis à assembleia geral).”. Em outro trecho, Blanco nos              relata o seguinte: “As escolas funcionavam por nossa conta; pagávamos os professores (postos por nós e ratificados pelos funcionários da educação). As obras públicas estavam nas mãos do sindicato, o qual determinava sua prioridade. (…) Tudo isso, evidentemente respaldado por uma embrionária força armada, a milícia camponesa em desenvolvimento”.

[7] Hugo Blanco foi condenado à morte no julgamento realizado na cidade de Tacna. Uma campanha internacional encabeçada pelo filósofo francês Jean Paul Sartre evitou sua morte.

[8] Depois de chefiar o primeiro governo livremente eleito na República Democrática do Congo, Patrice Lumumba foi derrubado pelo Exército e por agentes imperialistas com quatro meses de mandato como primeiro-ministro em 1960. Um ano mais tarde, um pelotão de oficiais belgas executaria Lumumba, instalando a ditadura de Joseph-Desiré Mobutu, a qual durou nada menos que três décadas.


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