Bolsonaro é competente?
Muito se fala nos debates da esquerda sobre a incompetência de Bolsonaro e sua incapacidade de governar o país. Mas é preciso ir além desse debate e caracterizar da forma correta esse governo.
Muito se fala nos debates da esquerda sobre a incompetência de Bolsonaro e sua incapacidade de governar o país. Mas é preciso ir além desse debate e caracterizar da forma correta esse governo, se esperamos um governo democrático, respeitando as instituições, de fato estamos a falar de um governo incompetente.
Mas Bolsonaro em nenhum momento se propôs a isso, a verdade é que para o que ele se propôs o governo é sim competente, se aproveitando de uma crise política e social sem precedentes na nossa história, a famílicia Bolsonaro dividiu o país e vem para os seus propósitos, sendo da mais absoluta competência.
A gestão da pandemia para qualquer ser racional pode levar de maneira grosseira a chegar à conclusão que Bolsonaro é incompetente, pois ao redor do mundo se dá cada vez mais espaço a especialistas, importância a saúde e ciência.
Mas a indagação é outra, quando Bolsonaro se propôs a ser eficiente na gestão da pandemia? Nunca. É justamente a gestão da pandemia que sustento a hipótese da máxima competência de Bolsonaro.
Pois o General Mourão em entrevista à Globonews pouco depois da eleição foi indagado se caberia uma maior atuação das forças armadas na política no Brasil, Mourão foi taxativo em dizer, não há espaça para isso, só teria justificativa se o país evoluísse para pessoas armadas andando nas ruas, saques e uma desintegração do tecido social.
Esse é o ponto que a esquerda precisa se debruçar é exatamente isso que Bolsonaro busca desde o início de seu governo, já ameaçou por duas vezes decretar estado de defesa, seu maior sonho, dando a ele ainda mais poder.
Vale destacar nesse debate o argumento do governo de São Paulo ao não decretar lockdown, o governador foi taxativo ao dizer que lockdown sem auxílio emergencial poderia gerar um estado de calamidade ainda mais grave, pois de fato decretar medidas restritivas radicais sem prover renda num país desigual como o nosso, pode jogar a população num estado de desespero e abrir as portas do caos social que Bolsonaro busca desde o início de seu governo.
É muito grosseiro e pouco inteligente a caraterização de que Bolsonaro não sabe o que faz e está perdido, isso se analisado da perspectiva da esquerda pode até estar correta, mas isso é limitado e nos faz incorrer num erro grosseiro, a subestimação do governo Bolsonaro.
Não é algo fora do planejamento de Bolsonaro, a possibilidade do país se desagregar e mergulhar num caos social e político, pelo contrário Bolsonaro milita para isso desde o primeiro segundo do seu governo e vem sendo competente nisso.
Atualmente o que segura Bolsonaro nos seus planos mais radicais é o crivo das eleições do ano que vem, pois do congresso não terá resistências e o judiciário perdido com suas interferências no campo da política não tem moral para segurar Bolsonaro.
Aí vem a pergunta, mas e a possibilidade de reeleição de Bolsonaro? Esse é nosso maior risco pois imagina Bolsonaro com quatro anos pela frente sem ter o crivo de uma eleição? Seria o caminho aberto para a radicalização de seu projeto que em síntese visa dar mais poderes as forças obscuras dos esgotos da política no Brasil.
Antes que seja tarde a esquerda e as forças democráticas precisam reagir, entender o fenômeno Bolsonaro. Pois seu português precário que transparece sua absoluta competência é na verdade uma das suas armas para chegar no tiozão do whatsapp da maneira mais simples e eficiente possível, não tem nada de grosseiro aqui tem sim um político habilidoso espalhando sua política de ódio na sociedade.
Recentemente li o livro Orvil, livro ao contrário, esse livro pasme, é uma resposta da ditadura militar ao dossiê que se transformou num livro Brasil Nunca Mais, esse trabalho desenvolvido por Dom Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright, no final da ditadura fez uma espécie de inventário dos crimes cometidos pelo Estado, se transformando num documento histórico fundamental para a história do Brasil, todo militante deve ler esse livro.
Os milicos por sua vez não deixaram por menos, ainda no final do regime militar designaram uma comissão encarregada de responder ao projeto liderado por Dom Evaristo Arns, seu título oficial é O livro Negro do Terrorismo no Brasil, mas que ficou conhecido como Orvil, livro de trás para frente porque seu objetivo é ser o reverso do livro Brasil Nunca Mais, sob encomenda do então ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves.
A ideia era divulgar como resposta do exército aos “aviltamentos da história” que a esquerda promovia na visão dos milicos, mas como o momento era outro no final da década de 80 e começo da de 90 o Orvil circulou de maneira secreta nos círculos militares, chegando a ganhar o codinome de O livro Secreto dos Militares.
Mas o que isso tem a ver com Bolsonaro e seu governo? Tudo. Quando Bolsonaro fala que está à frente de uma missão é sobretudo sobre o espirito desse livro que ele se levanta para “fazer justiça” aos heróis da pátria que deram suas vidas para livrar o país de terroristas.
Esse livro é um dos mais baixados e emulados nas discussões Bolsonaristas, por isso cabe mais uma vez a afirmação, a esse propósito Bolsonaro se demonstra absolutamente competente.
Não tem nada de grosseiro, tem a teoria que sustenta esse anticomunismo – sem comunismo hoje – que alimenta os elementos mais radicais do Bolsonarismo e é aí que mora o perigo, pois a fundamentação é de que a ditadura foi boa ao país, de que ao contrário do que o Brasil Nunca Mais sustenta, dos crimes do Estado Brasileiro contra jovens na sua maioria combatendo com a força das suas ideias, os militares só defenderam o país de criminosos, desmontam com sua narrativa crime por crime do Estado no período militar e invertam a lógica.
Portanto é tempo de buscar conhecimento, não cair no reducionismo, entender o que pensa a extrema direita é fundamental para combatê-la, a subestimação já na eleição nos custou caro até aqui e pode nos custar ainda mais que há sim competência no Governo Bolsonaro.
Em seus primeiros discursos sustentou que ao contrário de outros governos que tinham que construir muita coisa, o seu governo tinha um desafio ainda maior, o desafio de destruir muitas coisas erradas no país, mais uma vez a que se refere Bolsonaro, se não a memória da ditadura e dos “estragos” que a democracia fez com a pátria?