Operários e burocratas
1ª parte da série “Operários e Burocratas”.
A Revolução de Outubro criou as condições prévias indispensáveis para a tomada do poder pela classe operária no que se tornou a Rússia soviética. No entanto, antes que o poder que tomou pudesse ser consolidado, começou a escapar-lhe. O facto de a primeira revolução operária vitoriosa do mundo ter ocorrido num país menos desenvolvido e ter permanecido isolada – ou seja, que ao contrário das expectativas dos seus líderes e participantes, não foi seguida de revoluções vitoriosas nos países altamente desenvolvidos que poderiam ter “dado uma força” para a Rússia soviética – foi um fator determinante. A crise socioeconómica extremamente grave que levou à revolução, causada pela guerra mundial, foi grandemente exacerbada pela guerra civil.
A classe operaria era numericamente pequena na Rússia, e o proletariado industrial era uma minoria dentro dela, mas altamente concentrada. As suas fileiras duplicaram temporariamente durante a Guerra Mundial, depois diminuíram a partir de meados de 1918, regressando ao seu nível anterior à guerra, e voltando a diminuir nos quatro anos seguintes. Durante a guerra civil muitos trabalhadores industriais juntaram-se ao Exército Vermelho e morreram, muitos foram trabalhar nos aparelhos do partido e do estado, e muitos outros dispersos na busca desesperada de sobrevivência, principalmente no campo, mas também no mercado negro.
Numa discussão entre historiadores, Sheila Fitzpatrick escreveu que no final da guerra civil o número de trabalhadores industriais tinha sido reduzido por um fator de três – para apenas um milhão. “Durante o curso da guerra civil, talvez um milhão de trabalhadores foram transformados em camponeses, refutando a noção de maturidade da classe trabalhadora apresentada pelos bolcheviques“. Ronald Suny respondeu: “Deve tal movimento da cidade para o campo, da fábrica para a quinta, ser entendido tão categoricamente como a passagem de uma classe para outra, sem ter em conta a experiência que estes homens e mulheres proletarizados levaram com eles?”[1] Ambos fazem a perguntaerrada. Na sua maioria, aqueles que foram para o campo só tinham vindo trabalhar na indústria durante a Guerra Mundial.
Yuri Larin, um dos principais administradores da economia do “comunismo de guerra“, escreveu, com base nos dados do início de 1920: a modificação geralizada do proletariado industrial “é que o seu número foi reduzido em um quarto em comparação com o período de paz, principalmente devido à redução da indústria têxtil e dos trabalhadores não qualificados noutros ramos, mas com quase todo o núcleo do proletariado qualificado permanecendo no lugar. No que diz respeito ao elemento essencial da produção – a força humana viva qualitativamente preparada – trata-se de um organismo que diminuiu, mas que não foi destruído“[2]. Continuou a diminuir até ao final de 1921, e finalmente, em comparação com o período anterior à guerra – é este período que deve ser tido em conta para as comparações, não o período de guerra – o número de trabalhadores industriais foi reduzido em mais de metade.
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Este texto constitui a maior parte do p livro de Michał Siermiński, Pęknięta “Solidarność”. Inteligencja opozycyjna a robotnicy 1964-1981 (Solidarność rachado. A inteligência de oposição e os trabalhadores), Książka i Prasa, Warszawa 2020. Tradução de Alain Geffrouais para a Revista Movimento da versão francesa publicada pela Inprecor e estabelecida por Jan Malevsky.
[1] Sh. Fitzpatrick, « The Bolsheviks’ Dilemma: Class, Culture, and Politics in the Early Soviet Years » ainsi que R.G. Suny, « Class and State in the Early Soviet Period: A Reply to Sheila Fitzpatrick », Slavic Review vol. 47 n° 4, 1988, pp. 600, 619.
[2] Ю. Ларин, Д. Крицман, Очерк хозяйственной жизни и организация народного хозяйства Cоветской России. 1 ноября 1917-1 июля 1920 г. [Y. Larine, D. Kritsman, Aperçu de la vie économique et de l’organisation de l’économie nationale de la Russie soviétique. 1er novembre 1917-1er juillet 1920], Госиздат, Москва 1920, p. 44.