O Brasil e a guerra da Ucrânia
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O Brasil e a guerra da Ucrânia

Devemos unir todos os esforços para denunciar a agressão russa e defender o direito à autodeterminação do povo ucraniano e sua resistência, sem deixar de denunciar a OTAN e seus interesses.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 5 mar 2022, 19:19

A guerra em curso na Ucrânia é o conflito mais agudo na Europa depois da II Guerra. Um drama generalizado, que já causou a morte de milhares de civis e militares, além do impressionante número de mais de um milhão de refugiados em pouco mais de uma semana. É o maior fluxo de refugiados em tão pouco tempo da história. Putin se isola cada vez mais, tendo recebido apenas 5 votos a seu favor na ONU (mesmo a aliada China absteve-se).

A tragédia da guerra abate-se pelo Leste Europeu, sendo que as massas do mundo também olham com desconfiança as condenações vindas pelas grandes potências do Ocidente, como os Estados Unidos, pródigos em invasões e massacres dos povos. A hipocrisia do imperialismo estadunidense e dos países-membros da OTAN, organização que já deveria ter sido desmantelada, não pode servir de desculpas para setores que apoiam Putin, sendo cúmplices dos crimes de guerra.

Como afirmamos na declaração do Secretariado Nacional do MES:

“A escalada da invasão militar russa na Ucrânia já deixa evidentes as reais intenções de Vladimir Putin: promover uma guerra imperialista para a anexação de territórios e o reestabelecimento de um regime fantoche da Rússia como aquele que controlava o país antes de 2014. Putin não aceita a autodeterminação do povo ucraniano e já se declarou publicamente contra um estado independente, utilizando a guerra para afirmar seus interesses imperialistas na região e repetindo a mesma violência aplicada na invasão Geórgia e na colaboração à repressão promovida pelas ditaduras de Belarus e do Casaquistão contra seus próprios povos”.

O horror da guerra indica uma mudança de época. O risco de um desastre nuclear se apresenta como real, dadas as declarações de Putin a respeito. Diante desse cenário, é preciso debater com o ativismo brasileiro as tarefas necessárias. Com esse objetivo, temos publicado uma série de manifestações, como a recente declaração do Bureau Executivo da IV Internacional.

Bolsonaro tem uma intervenção desastrosa

A ação de Bolsonaro diante da invasão da Ucrânia foi deplorável. A começar pela visita feita a Putin, semanas antes do começo da operação militar. Sua fala após a visita demonstrou a cumplicidade com que iria tratar a partir dali o tema mais importante da situação mundial. Na melhor das hipóteses ambígua, a posição de Bolsonaro foi de evitar qualquer condenação às ações de Putin, mesmo depois de a diplomacia do país adotar posições contra a guerra nos espaços da ONU.

Não bastasse essa aliança ora tática ora explícita, o descaso com os brasileiros que ficaram abandonados foi notório. Sem qualquer plano de evacuação, centenas de brasileiros foram deixados à própria sorte, na linha de fogo, e tiveram que arriscar suas vidas para deixar o país. Apenas de forma tardia, o Itamaraty ofereceu saídas, como a ida de um grupo à Polônia. Jogadores brasileiros que atuavam no futebol ucraniano viralizaram nas redes sociais postando apelos desesperados, ignorados por Bolsonaro e pelo governo.

A aproximação com Putin não é casual. Ambos têm como repertório anticomunismo, autoritarismo e posições conservadoras. Além disso, vale lembrar que o “guru” de Putin é o intelectual de extrema-direita, Alexander Dugin, parceiro do recém-falecido Olavo de Carvalho, o mais próximo de um “guru” do presidente brasileiro.

Tal condução da política externa e as imposturas de Bolsonaro têm gerado um descontentamento nítido dos quadros da diplomacia brasileira. As consequências da guerra, por sua vez, serão trágicas para o país, como o aumento dos preços dos alimentos e dos combustíveis: o preço do barril de petróleo foi às alturas, passando de US$ 110, a maior cotação em uma década.

Uma parte da esquerda também ficou para trás

Não foi apenas Bolsonaro que envergonhou o país. Uma parte da esquerda, com posições campistas e atrasadas, tem sido cúmplice da ação criminosa de Putin. A principal cabeça dessa orientação política é o quadro petista Breno Altman, que foi à imprensa relativizar a agressão do imperialismo russo, justificando-se com a falácia do combate ao “governo nazista” da Ucrânia, peça de propaganda montada para defender Putin e a guerra.

Tais posições são um retrocesso político geral, uma expressão do atraso e da confusão generalizada na vanguarda. Como temos apontado, a esquerda deve ter uma posição clara de condenação e combate à agressão russa, além da denúncia da política de expansão da OTAN, organização cuja extinção defendemos, e da hipocrisia do imperialismo dos Estados Unidos.

Preparar-se para o que virá

Após a pandemia, que já foi um acontecimento dramático para toda a humanidade, a situação mundial está se redesenhando: por um lado, apresenta-se a força da guerra como pulsão da morte e a hipocrisia dos governos que querem dividir o butim; por outro, fica clara a importância de um forte movimento antiguerra para derrotar a escalada militar dos imperialismos em disputa.

Como afirmamos, em nosso país, as famílias trabalhadoras, já premidas pela queda do nível de vida e pelo aumento da inflação nos últimos anos, terão que lidar com mais uma rodada de aumento dos combustíveis e dos alimentos, como já anunciou Tereza Cristina, por conta de dependência de importação de fertilizantes do Leste Europeu, especialmente da Rússia e da Bielorrúsia. O bolsonarismo utiliza a situação para criar um argumento de ocasião para justificar seus projetos no Congresso para liberar a mineração em terras demarcadas, ampliando os ataques contra os povos indígenas e o meio ambiente.

As tarefas para os socialistas internacionalistas

Seguindo a tradição de Rosa Luxemburgo e de Lênin (tão atacado quanto usurpado por Putin e certos “socialistas”), devemos levantar mais alto a bandeira do internacionalismo e da luta contra a guerra na Ucrânia. Devemos unir todos os esforços para denunciar a agressão russa e defender o direito à autodeterminação do povo ucraniano e sua resistência, sem deixar de denunciar a OTAN e seus interesses. Na próxima semana, nos mobilizaremos para a construção de uma jornada unitária contra a guerra.

Defendemos também medidas emergenciais: imediato fim da guerra; liberdade para os pacifistas presos em protestos na Rússia e demais países, prisioneiros políticos do regime de Putin; defesa dos imigrantes e refugiados, tanto para que saiam da Ucrânia em segurança, denunciando medidas como racismo ou tratamento diferenciado para imigrantes africanos, como para que sejam acolhidos no Brasil, além da assistência para familiares que vivem no país e para brasileiros repatriados.

Esse é também o momento para discutir a situação dos imigrantes que já estão no Brasil para que nunca mais se repitam casos como o de Moïse e de tantos outros. Por fim, é necessário discutir um novo marco civilizatório: uma cultura de paz e solidariedade aos povos, a defesa de um novo modelo energético e de novos paradigmas que construam outro futuro, oposto à guerra: um futuro ecossocialista e com liberdade.


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