Situação da guerra na Ucrânia
O professor Henrique Carneiro analisa a situação e perspectivas para a invasão russa na Ucrânia.
No começo da invasão russa, havia um comentarista, não me lembro qual, que dizia haver cinco cenários possíveis:
1 Guerra curta
2 Guerra longa
3 Guerra europeia
4 Solução diplomática
5 Derrubada de Putin
Estes cenários, é claro, poderiam se sobrepor.O primeiro, que era o ideal para Putin, e que tudo leva a crer que ele de fato acreditava nisto, seria o de uma blitzkrieg de alguns dias junto com uma barragem de mísseis ao estilo Choque e Pavor que levaria à queda do fraco comediante na presidência e a uma possibilidade de uma mudança de regime na Ucrânia com um governo pró-russo.Esse plano fracassou de forma brutal. Os ucranianos resistiram. As perdas russas são enormes. No Afeganistão em 10 anos morreram 15 mil soldados, na Chechênia 8 mil em 4 anos das duas guerras.
Hoje, as estimativas são de milhares em semanas. Oficialmente os russos reconheceram 500 mortos na primeira semana apenas.Também morreram vários generais russos e a perda de equipamento como tanques e mesmo aeronaves é também volumosos.O ato neofascista de Putin sob a bandeira de “Um mundo sem nazismo. Pela Russia” é uma encenação orwelliana, mas que demonstra fraqueza. Em primeiro lugar, pela sabotagem na transmissão televisiva, mas, sobretudo, pelo tom cada vez mais repressivo com que se refere aos antiguerra como “traidores”, “mosquitos a serem cuspidos”, fazendo referência a Bíblia e a grandeza russa. Esse endurecimento, enquanto prossegue a destruição da Ucrânia, não reflete a maioria do povo russo. Até os astronautas russos da estação espacial vestiram as cores da Ucrânia!
A sociedade russa não está sendo informada da magnitude da guerra, até mesmo o uso da palavra é proibido, nem das terríveis perdas civis ucranianas como o enorme número de soldados russos mortos, feridos e capturados.Os capturados são tantos que a Ucrânia os apresenta às dezenas em conferências de imprensa em que eles se manifestam como tendo sido enganados e arrependidos.Se uma guerra europeia está neste momento descartada, a possibilidade do cenário de uma guerra longa é crescente. Tanto a guerra econômica de bloqueio à Russia, como a guerra de fato. Nenhuma cidade importante da Ucrânia foi tomada, em cada uma haverá uma destruição total, como já vem ocorrendo em Mariupol, e como Putin já fez em Grozny e em Aleppo.A solução diplomática parece distante, pois qualquer recuo de Putin soaria como sua derrota. Ele parece querer submeter totalmente o país manu militari.Para isso, faz ameaças nucleares e usa mísseis hipersônicos.
É bom lembrar que o terceiro partido na Duma russa, tem um líder, Jirinovsky, que já discursou mais de uma vez no parlamento russo exigindo um ataque nuclear.Do ponto de vista da opinião pública global, Putin é hoje um Darth Vader, e foi ele que escolheu esse papel.A Otan se fortaleceu politica e militarmente. Países como a Finlândia, já invadida pela Rússia, ou a Suécia, se aproximaram mais da Otan. À exceção da Sérvia, não há apoio político de massas a Putin. Mesmo seus amigos de anos da extrema direita europeia precisam distanciar-se um pouco, mas continuam dando cobertura à Putin no parlamento alemão, onde a AfD vota contra as sanções.A sua derrubada, embora pareça distante, será o resultado inevitável se ele for derrotado. Mas, para que ele vença, será preciso derrotar a resistência ucraniana e isso vem se demonstrando muito difícil. Não só pelos anti-tanques estadunidenses Javelin ou pelos drones turcos Bayraktar, mas porque uma agressão tão brutal despertou a disposição de resistência de um povo que derrotou Hitler, o último a bombardear Kiev, e foi nessa luta o segundo país a mais perder vidas humanas em proporção à população (o primeiro foi a Bielorússia e o segundo a Rússia).
A tragédia humanitária de um país inteiro, já conhecida antes pela Chechênia, pela Síria, pelo Iraque, pelo Yemen, pela Palestina, se repete novamente na Europa, no segundo país em extensão territorial, invadido pelo primeiro. A guerra será longa e irá piorar.