A sinistra relação entre Elon Musk e Jair Bolsonaro
James Duncan Davidson Direitos autorais: CC BY-NC 3.0

A sinistra relação entre Elon Musk e Jair Bolsonaro

A campanha “nem a fome nem os bilionários deveriam existir” é um bom exemplo do tipo de iniciativas que a esquerda socialista deve oferecer.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 26 maio 2022, 17:29

A visita de Elon Musk ao Brasil poderia ser parte de um filme distópico. A agenda do bilionário no país incluiu, como evento central, um encontro com Jair Bolsonaro, ladeado pelo ministro das comunicações Fábio Faria, na cidade de Porto Feliz (SP). Elon Musk é atualmente o homem mais rico do mundo. Com um patrimônio avaliado em US$ 280 bilhões (cerca de R$ 1,5 trilhão), Musk ganhou as manchetes do mundo recentemente com sua proposta de compra do Twitter por US$ 44 bilhões. Ele é dono de duas outras empresas dos novos setores tecnológicos: a Tesla, produtora de carros elétricos, e a Space-X, pioneira no ramo do “transporte espacial”. Além disso, Musk é proprietário da Starlink, empresa de satélites que foi um dos focos das conversas com o governo brasileiro.

Oficialmente divulgado como um encontro para debater a oferta de conexão de internet a escolas em localidades remotas e serviços de mapeamento por satélite (que já existem) na Amazônia, essa movimentação representa um ponto importante para compreendermos o que está em disputa no cenário nacional, tanto do ponto de vista da disputa eleitoral como de um passo à frente na ofensiva recolonizadora que se leva a cabo.

Uma divisão da burguesia internacional

A visita de Musk ao Brasil deve ser vista tendo como pano de fundo a divisão internacional da burguesia. Há em curso uma luta encarniçada entre frações mais vinculadas a setores políticos “liberais” e à extrema-direita. Musk, por exemplo, recentemente declarou ter deixado de ser eleitor dos democratas, revelando-se trumpista.

Apesar do que afirma a versão oficial do governo, a visita revela os interesses do bilionário em obter negócios no Brasil por meio da entrada na Amazônia, avaliando oportunidades na mineração. É útil relembrar, a esse respeito, a manifestação de Musk em favor de um golpe na Bolívia para garantir seu acesso ao lítio, uma matéria-prima fundamental na produção de baterias de carros elétricos. Musk agora quer ampliar sua presença em toda a região, justo quando governos de esquerda e de centro-esquerda obtêm vitórias eleitorais no Chile, na Bolívia, no Peru e, agora, possivelmente na Colômbia.

A visita se inscreve também, evidentemente, na disputa pelos espaços das redes sociais, tendo em vista todo conflito ao redor da estratégia prioritária da extrema-direita em difundir falsas informações. Não por acaso, membros do governo Bolsonaro manifestaram sua felicidade com a possível compra do Twitter pelo bilionário, que fala em defesa da “liberdade de expressão” na rede social e manifestou interesse em reativar a conta de Trump, banida pela empresa após o estímulo do ex-presidente à invasão do Capitólio após sua derrota em 2020.

Fuga para frente

Para Bolsonaro, a foto com Musk foi um trunfo num momento de forte isolamento internacional. A visita foi uma oportunidade para construir pontes para seu projeto golpista. Após ser tomado como um pária ao longo do seu mandato e de sua visita desastrada “em solidariedade à Rússia” pouco antes da invasão da Ucrânia, Bolsonaro precisa construir uma rede de relações para sustentar seu projeto, seja com um novo mandato por meio das urnas, seja por meio da desqualificação do pleito de outubro e da agitação golpista.

Os bolsonaristas buscam liberdade de ação e parcerias para a difusão de suas fake news nas redes sociais e para organizar sua campanha presidencial nas redes atacando opositores e o processo eleitoral. Seu uso das redes sociais também serve a uma tática distracionista para tangenciar as crises em que o governo se vê inserido, como a dos preços dos combustíveis e da Petrobrás. Trata-se de uma crise decisiva, que envolve a popularidade do governo e as chances de reeleição. A queda de braço levou à queda de mais um presidente da Petrobrás e agora Bolsonaro busca segurar os preços por mais cem dias, evitando o impacto direto na disputa eleitoral sem deixar de agradar o “mercado”, que quer a manutenção da paridade dos preços de importação, com a promessa de privatização da empresa num próximo mandato.

Combater o autoritarismo e os bilionários

A relação entre a extrema-direita e a burguesia transnacional precisa ser denunciada. O neofascismo é sustentado por uma importante fração desta burguesia, em particular encarnada por bilionários como Elon Musk.

Diante de campanha eleitoral que se inicia, é preciso oferecer conteúdo programático, oferecendo uma saída para a carestia e o empobrecimento das massas, na luta pela derrota de Bolsonaro. A campanha “nem a fome nem os bilionários deveriam existir” é um bom exemplo do tipo de iniciativas que a esquerda socialista deve oferecer. A tarefa é preparar a campanha eleitoral combinando-se a esse contorno programático, votando em Lula para derrotar Bolsonaro e reelegendo os parlamentares da esquerda do PSOL.


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