A necessária disputa do PSOL como parte de um projeto estratégico: uma polêmica com a CST
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A necessária disputa do PSOL como parte de um projeto estratégico: uma polêmica com a CST

Para fortalecer a ala marxista revolucionária do partido

Leandro Fontes 3 jun 2022, 17:56

Ingressei no MES em junho de 2004, fruto de uma decisão de um grupo juvenil de Niterói-RJ, que rompeu com o PT em dezembro de 2003, organizado até fevereiro de 2004 no Movimento por uma Tendência Proletária – MTP, corrente regional que tinha como orientação o PT como um partido tático e como horizonte estratégico, a construção de um partido socialista revolucionário. Todavia, por diferenças de rumos, no marco da fundação do PSOL, a juventude que se organizava no MTP decidiu tomar caminhos próprios e, assim, surgiu o coletivo de transição Democracia Operária, racha do MTP, que reunia um pouco mais de duas dezenas de militantes.

Uma das primeiras decisões do Democracia Operária (coletivo provisório que durou quatro meses), se balizou em dois pontos objetivos que se combinavam: a estratégia e o método de construção da organização. De tal forma, tínhamos como definição a busca, dentro do novo partido, de uma organização nacional, internacionalista, nos marcos da tradição trotskista. Logo, se tratando das fronteiras do PSOL, o PSTU não estava na bússola, tampouco, organizações que sucumbiram ao oportunismo como a Democracia Socialista – DS e O Trabalho, que permaneceram no PT. De tal modo, o MES, como um dos protagonistas da fundação do PSOL, da radical Luciana Genro (deputada federal expulsa do PT pelo voto de princípio contra a reforma da previdência), foi se materializando como caminho “natural” na travessia de nosso coletivo.

Todavia, nossa opção pelo MES (ingresso concluído em junho de 2004) não se resumiu pela mera exclusão das correntes que abandonaram as bandeiras do trotskismo e/ou que se colocavam por fora do novo partido (PSOL). A verdade é que o extinto CSOL, racha do PSTU que ingressou na fundação do PSOL, passou por nosso radar e análise. Porém, fomos convencidos que o MES era a organização mais dinâmica, com política audaz para a nova etapa que se abria e com propostas concretas para consolidar uma incipiente vanguarda partidária, tendo como norte a superação do PT (partido com influência de massas, mas burocratizado e com uma direção social-democrata que se converteu em gerente do capitalismo brasileiro) e das experiências que não romperam a marginalidade política como o caso do PSTU (um partido-fração).

Portanto, a tese do MES, documentada desde sua fundação em novembro de 1999, foi a base para a formulação do PSOL. Isto é, a proposta do reagrupamento de forças socialistas, convergidas num partido com direito de tendências e com um programa anticapitalista e internacionalista. Assim sendo, o PSOL nasce distinto do PT, no sentido de sua direção, composta por organizações marxistas revolucionárias. E, ao mesmo tempo, distinto do PSTU que mantinha posição de uma organização que negava confluências com correntes revolucionárias de outras matizes. Não foi à toa que MES, CST, MTL (racha do PSTU de 2000), CSOL, Heloísa Helena (acompanhada por um punhado de militantes que romperam com a DS) e grupos regionais como Pólo Socialista de Pernambuco, SR, Revolutas e o MTP, decidiram apostar na fundação do PSOL ao invés de se diluir na estrutura do PSTU/LIT.

Nota-se que a CST, que corretamente rompeu com o PT em 2003, se somou na construção do PSOL sob as bases do reagrupamento. No entanto, essa tese foi uma das divergências históricas que levou a separação do MES e da CST, organizações (da escola morenista) que foram uma só de 1992 a 1999, mas que se dividiram em definitivo em 2002 no contexto dos debates de caracterização e orientação, na qual o MES negava a avaliação de situação revolucionária mundial e a existência de uma frente única contrarrevolucionária. No que competia a construção da organização, o MES rompe com a orientação centrada na autoconstrução sectária para a necessidade de uma política de confluências e reagrupamentos que fosse capaz de, em âmbito nacional e internacional, romper a marginalidade dos revolucionários e influenciar movimentos de massas com poder de alterar a correlação de forças da etapa histórica.

Essa posição não somente influenciou o PSOL, mas, sobretudo, foi a bússola (sob as bases do leninismo-trotskismo, resgatando elaborações acertadas de Rosa Luxemburgo e boa parte dos ensinamentos de Nahuel Moreno) que conduziu o MES intervir em processos reais no Brasil, na América Latina e no mundo, o que permitiu avançarmos na reunificação com IV Internacional. Politicamente, em duas décadas, nossa corrente esteve inserida, de modo crítico e independente, nos áureos debates e movimentos do processo bolivariano encabeçado por Hugo Chávez, acompanhou sem capitular a ascensão e falência do Syriza grego e Podemos espanhol, estivemos na revolução árabe, nas Jornadas de Junho no Brasil, na unidade para impedir o golpe parlamentar contra a Dilma, no desenvolvimento do DSA dos EUA, no combate sem tréguas a extrema-direita neofascista, na coletamos mais de 1 milhão de assinaturas pelo impeachment de Bolsonaro, encabeçamos campo pela defesa de candidaturas próprias no PSOL e, atualmente, presente no fronte da guerra da Ucrânia, sem vacilar para as posições do campismo pró-Rússia.

Esse brevíssimo resumo, formam uma fatia robusta de um conjunto de acontecimentos canalizados para a luta política, que sob o calor da luta de classes, lapidaram posições e mexeram, para o bem e para o mal, com as estruturas das organizações de esquerda. No terreno brasileiro, a CST insiste em polemizar com o MES sob posições táticas conjunturais, como é o tema da Federação com a Rede, o apoia a pré-candidatura de Heloísa Helena para deputada federal e, após o resultado da Conferência eleitoral do partido, o apoio crítico no primeiro turno a Lula na eleição presidencial. De minha parte, opino que todos esses pontos já foram exaustivamente debatidos e documentados. Porém, vale a pena registrar o artigo de Roberto Robaina, A conferência do PSOL não resolverá a polêmica mais grave que existe no partido | Revista Movimento (movimentorevista.com.br), que condensa a posição do MES sobre as polêmicas apresentadas. Mas, não é tudo, a CST insiste em requentar balanços de posições datadas do MES e que foram corretamente se moldando frente a alteração do curso dos acontecimentos, do avanço ou recuo de sujeitos políticos e das circunstâncias da luta de classes, como dita a “norma” de toda organização saudável, dinâmica e não dogmática.

Portanto, não é honesto (para dizer o mínimo) tentar colocar uma cunha no MES de equívocos cometidos pelo chavismo desconfigurado por Maduro e as capitulações do Syriza e do Podemos. Além disso, é repulsivo ler no periódico “Combate Socialista” (número 153) que a posição do MES, após a derrota da “Oposição de Esquerda” por 58% a 42% na Conferência Eleitoral do PSOL, ajuda a fortalecer a conciliação de classes no Brasil. Nada mais falso e irresponsável. Por isso, a CST não pode ser poupada de seus erros, já que apresenta uma elaboração para a vanguarda que oculta a necessidade imediata de derrotar Bolsonaro nas urnas e o papel de cada corrente na luta política no interior do PSOL.

Assim sendo, nunca é demais salientar que dos 42% da “Oposição de Esquerda”, o MES concentrava 21%, logo, foi a corrente que mais contribuiu para que a proposta da candidatura própria pudesse triunfar no partido. Contudo, qual foi o peso da CST? Esse dado é relevante na perspectiva do balanço histórico das duas correntes, desde a linha da fundação do PSOL até aqui. Evidentemente, não se trata apenas de números frios sob a mesa. No entanto, é preciso tirar conclusões do por que o MES se nacionalizou, ganhou musculatura militante em estruturas (sob as bandeiras do Juntos, Juntas, Emancipa, TLS e FNL), dirige diretórios e conquistou mandatos parlamentares? E a CST, por sua vez, que tinha peso aproximado ao do MES na fundação do partido, por que terminou o último congresso do partido com 1,5%?

Estou convencido que a diferença de crescimento está umbilicalmente ligada aos acertos e erros políticos das organizações e, no caso do MES, o acerto da política combinada com a orientação do reagrupamento, que potencializou o crescimento qualitativo da corrente, com as unificações de correntes e grupos psolistas como foi o caso do Coletivo Paulo Romão, do Primeiro de Maio, do Barulho e da TLS. Pela mesma perspectiva, o coletivo Democracia Operária passou a construir a regional Rio de Janeiro do MES nacional há dezoito anos. A CST, por sua vez, optou pelo caminho oposto, enquanto o PSOL crescia, essa corrente fundacional enveredou num curso cético, sectário, dogmático e autoproclamatório. De tal forma, a CST foi se isolando e perdendo gradativamente sua musculatura orgânica e força política no partido. Todavia, a resposta a essa fraqueza vista a olho nú é mais sectarismo e equívoco, basta observarmos a entrega dos cargos por parte da CST logo após a Conferência Eleitoral do partido.

Portanto, não é de se surpreender que numa semana Babá era apresentado como pré-candidato ao senado na Conferência Eleitoral do PSOL/RJ e teve 02 votos (01 da APS e 01 do Comuna) da no universo de 35 votantes. E na semana seguinte, Luciana Genro viraliza nas redes sociais do país, incluindo cobertura da mídia burguesa, com sua contundente intervenção independente e antissistema no ato das esquerdas de apoio ao Lula no Rio Grande do Sul. Lamentamos o estágio dos companheiros da CST, que vão apoiar as candidaturas majoritárias apresentadas pela legenda do PSTU na fórmula “Polo Socialista e Revolucionário” (PSTU, MRT e CST) e irão lançar candidaturas proporcionais pela legenda do PSOL. Esperamos que não se isolem ainda mais e mantenham-se nas fileiras do PSOL, partido que segue em disputa e com uma ala marxista revolucionário com peso suficiente para polarizar as decisões futuras do psolismo.


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Pedro Micussi