MES/PSOL participa do Congresso do partido polonês Razem
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MES/PSOL participa do Congresso do partido polonês Razem

Congresso do partido polonês Razem reuniu em Varsóvia diversas organizações europeias em solidariedade à resistência ucraniana.

Bruno Magalhães e Roberto Robaina 23 jun 2022, 11:23

O Congresso do partido polonês Razem (Juntos) aconteceu em Varsóvia entre 17 e 20 de junho, com as atividades internacionais tendo bastante destaque. A delegação internacional foi composta por mais de 15 organizações representando a Ucrânia, Hungria, Romênia, Rep. Tcheca, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Suíça, França, Inglaterra e Turquia, além do Brasil. Também estavam presentes redes internacionais como a Rede Europeia de Solidariedade à Ucrânia e o movimento pró-palestina BDS.

A representação brasileira teve destaque como única organização oriunda da América Latina e do Sul global. Com o início da guerra na Ucrânia e a posição vacilante tomada por parte importante da esquerda da Europa Ocidental e da América Latina (que se expressou principalmente contra o envio de armas para a resistência ucraniana), a presença do MES/PSOL foi muito reconhecida pela nossa posição de princípios em apoio à autodeterminação ucraniana e pelo esforço que fizemos para estar no evento.

O Razem

O Razem é o principal partido da esquerda polonesa e suas posições já foram analisadas aqui. Fundado por jovens influenciados pelo Podemos espanhol e outros novos partidos que surgiram na esteira e como resposta a crise da social democracia e do stalinismo. Sua composição é de jovens críticos ao sistema e seu destaque maior foi a luta pelo direito ao aborto e pelos direitos civis das mulheres e da comunidade LGBTQI. Eles tem 6 deputados nacionais em uma coligação na qual a socialdemocracia da Nova Esquerda possuimais 38, formando um bloco de 44 parlamentares (A Esquerda) que possui ao redor de 10% do Sejm (a Câmara polonesa, com mais de 400 parlamentares).

Poderia se dizer que é um Podemos polonês que não chegou ao governo? Seria uma analogia simplista demais porém vale começar por ela. Como a Polônia não teve o ascenso de 2104 da Espanha, então o arranque foi bem menor. A Polônia, alem do mais, teve um contraditório e relativo progresso nas condições materiais depois que aderiu a União Europeia. Em 2004, o desemprego era superior a 20%, e agora não passa de 5%. Mas esta redução foi sobretudo produto da imigração que levou cerca de 2 milhões de jovens a trabalhar nos países mais ricos da Europa e enviarem remessas de Euros à suas famílias, já que a Polônia manteve o Zloty, sua moeda nacional desvalorizada. Além disso, nessa onda migratória estes jovens aprenderam idiomas e voltaram para Polônia mais qualificados.

Os fundos da União Europeia também permitiram investimentos em construção civil e no transporte. As bases políticas para um ideário reformista aumentaram. Neste marco, as fórmulas programáticas do Razem, ainda que não tenham o eixo na luta anticapitalista nem constituam um programa transicional, são muito avançada e colocam temas que não podem ser resolvidos nos marcos do capital. E fazem essa defesa programática de modo tremendamente profissional, como ficou evidente na conferência de imprensa de abertura do Congresso.

O problema decisivo da analogia com o Podemos para a interpretação do fenômeno político do Razem está na sua posição política em defesa da Ucrânia e pela derrota do imperialismo russo. Está posição levou a uma ruptura traumática entre o Razem e todos estes partidos ligados à Internacional Progressista, quebrando o ponto de identidade e mudando o eixo de seus vínculos, que voltou-se à solidariedade com a Ucrânia e relacionamentos com os países do Leste Europeu e norte da Europa, sem perder de vista a importância da relação com a Europa ocidental, EUA e América Latina. Neste sentido, o Razem é também uma resposta a crise de 2008 e seus efeitos, que intensificaram a compreensão da importância das articulações internacionais.

O Congresso

O Congresso teve parte importante dedicada aos eventos internacionais que foram acompanhados pela mídia polonesa, com debates sobre a questão imperialista e sobre a esquerda europeia. A diversidade de experiências

Importante destacar também a intervenção do ucraniano Zakhar Popovic indicando a importância da IV Internacional na construção entre os países presentes, mas apontando também a necessidade de novas construções internacionais. Seu grupo, o Sotsialny Rukh, está em diálogo com a IV Internacional e o próprio Zakhar estará no Brasil no final de julho.

No segundo dia do congresso houve uma atividade de imprensa bastante profissional, orientada à TV, que apresentou pontos do programa do Razem e na qual os parlamentares tiveram grande destaque. Após o evento houve a abertura do congresso, na qual houve novamente bastante referência às delegações internacionais e representações de aliados como a socialdemocracia da Nova Esquerda e a OPZZ (central sindical oriunda da antiga Polônia Popular). A segunda metade do segundo dia e o terceiro foram de debates internos.

Contatos internacionais

Este trabalho internacional de Razem, sob a coordenação da competente Sofia Malisz (que já viveu no Brasil) permitiu ações importantes para as organizações presentes. A principal foi o aprofundamento de laços com o ucraniano Sotsialny Rukh, o principal grupo da esquerda marxista ucraniana da atualidade. Além disso, destacamos o Szikra húngaro, grupo recente dirigido por jovens, e o o romeno Demos, bastante interessado em debater conosco sobre as características semiperiféricas comuns entre Brasil e Romênia, entre outros.

São na maioria grupos políticos fundados nos últimos 2 ou 3 anos, que contam com quadros sem ainda maior experiência de construção de partidos, mas muito sérios, competentes e abertos às posições do marxismo e do trotskismo. Também esteve presente na parte internacional o camarada Marcin Kowalevski, histórico militante da IV que foi dirigente regional do sindicato Solidariedade e que hoje não possui nenhuma organização nacional, mas é bastante reconhecido nos meios intelectuais e colaborou com a última edição da Revista Movimento. Kowalevski é lê russo e está trabalhando sobre uma série de arquivos sobre a história do Partido Bolchevique ainda inéditos no ocidente.

O Congresso teve um elemento histórico ao servir de ponto de partida para novas composições entre a esquerda do Leste Europeu, que tem muito a dizer sobre o imperialismo russo e busca ser ouvida perante a nova situação mundial. Desde o Brasil e a América Latina, nós do MES/PSOL somos grandes entusiastas desde processo.


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Pedro Micussi