O comício reacionário de Bolsonaro em 7 de setembro
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O comício reacionário de Bolsonaro em 7 de setembro

Para derrotar Bolsonaro, é preciso uma campanha eleitoral que responda às necessidades do povo, de preferência com uma vitória de Lula ainda no primeiro turno.

Israel Dutra e Thiago Aguiar 9 set 2022, 18:20

Na celebração de 200 anos da independência do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro fez uso indiscriminado da máquina pública para seus interesses eleitorais a menos de um mês do pleito. Convocado há meses, desde a convenção partidária do PL que lançou sua candidatura à reeleição, as manifestações de 7 de setembro foram alardeadas como ponto central de mobilização da campanha de Bolsonaro e da extrema-direita.

Apesar do tom elevado contra o STF, defendendo o golpe de 1964, o esforço concentrado da ação foi para angariar votos, o que conferiu um caráter eleitoral e de megacomício nacional, reunindo centenas de milhares no país, com destaque para o cortejo de Copacabana, no Rio de Janeiro. A conjuntura eleitoral afunilou-se: é preciso parar a ofensiva da extrema-direita, derrotando Bolsonaro, suas ideias e seus organizadores nas urnas e nas ruas.

As manifestações e seu significado

As manifestações tiveram seu peso, mas foram menores do que as de 2021 e tampouco demonstraram o mesmo vigor: ano passado, após arrastar multidões em Brasília e em São Paulo, o bolsonarismo utilizou métodos como o “trancaço” de estradas com caminhões por dois ou três dias. Em 2022, Bolsonaro buscou atrair a energia de seus apoiadores para o cenário da campanha eleitoral, colocando em seu palanque figuras como Luciano Hang e Silas Malafaia, num apelo mais geral ao público evangélico e com discursos mais eleitorais. Em Brasília, os ataques ao STF foram mais contidos que em outras ocasiões; em São Paulo, também por conta da chuva, a manifestação foi menor, restando para a praia de Copacabana, no Rio, a principal ação centralizada do governo e de seu aparato.

Bolsonaro consolidou sua estratégia de curto prazo, sem perder o horizonte golpista: lutar para chegar ao segundo turno, garantindo a eleição de parlamentares e governadores alinhados com seu projeto. Para tanto, fideliza seus apoiadores mais diretos, joga pesado com a cúpula das igrejas evangélicas e organiza seu programa, com a tríade “Deus, Pátria e Família”. Seu objetivo mais prático foi ganhar fôlego na corrida eleitoral e registar imagens que demonstrem que as pesquisas estão mentindo, para alimentar as redes sociais.

O cenário eleitoral é complexo, pois a batalha pelo voto segue, com as grandes cidades indicando vitória de Lula, mas, em importantes regiões, Bolsonaro segue disputando palmo-a-palmo, como no interior de São Paulo, onde pesa mais o conservadorismo.

O discurso bolsonarista: machista, reacionário e antipopular

O discurso de Bolsonaro em Brasília, uma vez mais, colocou no centro a agressão machista contra as mulheres. O ápice de seu discurso foram os gritos vulgares de “imbrochável” e a exposição humilhante que faz da esposa Michelle, como quando sugeriu uma “comparação entre esposas”.

Ao mesmo tempo, apesar de recuar nas investidas abertas contra o Judiciário, Bolsonaro afirmou que pretende estabelecer uma tutela no STF e na esquerda após a reeleição, forçando-os a “jogar dentro das quatro linhas”, em sua repetida metáfora primária.

Apesar do tom eleitoral, faixas e gritos de guerra golpistas e de inspiração fascista fizeram-se presente em todas as manifestações. A violência política estimulada pelo bolsonarismo segue: nesta semana, um deputado bolsonarista do Ceará afirmou que resolveria a eleição na “bala” em caso de derrota, e hoje um apoiador de Lula foi assassinado a facadas no Mato Grosso por um bolsonarista que, não contente em matar, tentou degolar o cadáver.

É preciso parar a mão da extrema-direita nas ruas e nas urnas

Para derrotar o bolsonarismo, é preciso lutar e construir uma campanha eleitoral que responda às necessidades do povo. O melhor seria uma vitória de Lula ainda no primeiro turno para evitar um segundo turno com aventuras golpistas e esmagar eleitoralmente a extrema-direita. Um segundo turno é uma nova eleição. Conta contra Bolsonaro sua alta rejeição, mas sua ação no dia 7 mostra que sua capacidade golpista se mantém. Sua mão tem sido segurada pela decisão da maioria da burguesia de não aceitar uma estratégia de contrarrevolução preventiva. O domínio burguês tem sido garantido pelo próprio mecanismo eleitoral e a maioria dos setores burgueses mais fortes não querem delegar poder para um candidato a ditador. Menos ainda para um despreparado, como deixou claro a pandemia

Por isso, seguimos trabalhando pela hipótese de vencer Bolsonaro no primeiro turno: é hora de disputar o voto dos eleitores que estão indecisos e dos que votam em Ciro Gomes. Aliás, Ciro deve ser responsabilizado pelo papel regressivo que está cumprindo nesse momento, igualando Lula e Bolsonaro e evitando que o repúdio massivo ao governo do genocida se expresse numa vitória de Lula no primeiro turno.

Por outro lado, a direção petista e Lula não estimulam as mobilizações. A convocação para as manifestações de amanhã (10) foi muito débil e aquém do necessário para dar uma resposta contundente ao bolsonarismo. Este é o momento de engajamento com amplitude na campanha, com a prioridade de derrotar eleitoralmente Bolsonaro por meio do voto em Lula. Também é preciso pressionar nas ruas, desmontar os esquemas do bolsonarismo e exigir a prisão do “mito”. Ao mesmo tempo, entendemos que o PSOL deve defender seu programa e apresentar bandeiras próprias, estimulando a unidade e a ação antifascista.


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Camila Souza