Entrevista com Tomas Zayas
Entrevista com Tomas Zayas (militante do MTU/PAR e pré-candidato à Deputado pela Convergência Popular Socialista).
Enquanto, no Brasil, muitos acompanhavam a final da Copa do Mundo, ocorrida no último domingo (18/12), um jogo histórico que acabou com a vitória de “nuestros hermanos” argentinos e a sagração de Lionel Messi, em outro país vizinho de língua castelhana, mas com forte influência Guarani, a população era convocada a ir às urnas para as prévias eleitorais. Nos referimos ao Paraguai. País que, apesar de raramente citado nos noticiários ou comentários políticos, é um importante parceiro comercial do Brasil.
Para entender melhor o contexto deste nosso vizinho, conversamos com Tomas Zayas, militante do MTU (Movimento de Trabalhadores Unificado), que concorre pela Convergência Popular Socialista – integrante da Frente Guasu, uma coalizão de centro-esquerda. Zayas é pré-candidato à Deputado pela Convergência Popular Socialista, no Departamento de Alto Paraná, e teve a sua candidatura aprovada, nas prévias do dia 18/12, para as eleições gerais que ocorrerão no mês de Abril de 2023.
Participaram da conversa Israel Dutra (Executiva nacional do MES e do PSOL), Pedro Fuentes (Dirigente do MES e militante Histórico do Movimento Morenista na América Latina), Luciano Egidio Palagano (Tesoureiro Estadual do PSOL Paraná, militante sindical na TLS e do MES Paraná) e Tomas Zayas que é dirigente campesino em Alto Paraná e se coloca como candidato à Deputado com a consigna “Terra, Trabalho e Soberania”.
Questionado sobre o momento que o Paraguai vive, Zayas chama a atenção para o fato de que existe um “clamor por renovação” por parte do povo paraguaio. Os escândalos de corrupção do governo Colorado (atual partido dirigente do país), a falta estrutural de remédios para a população necessitada, o fato de mais um milhão de paraguaios viver na pobreza e mais de 800 mil estarem passando fome (o Paraguai tem uma população total, de acordo com dados de 2021, de pouco mais de 7,1 milhão de pessoas), fortalece o clamor por mudança.
As eleições primárias mostraram uma forte divisão na base do tradicional partido colorado, onde o candidato oficialista foi derrotado pelo jovem economista Santiago Pena, num claro revés do presidente Mario Abdo. Os liberais escolheram Efrain Alegre para os representar. A Frente Guasu, que havia chegado a um acordo democrático entre todas forças de esquerda, foi às prévias apenas para ratificar sua fórmula e seus candidatos: Euclides de Acevedo à presidente, tendo o senador Jorge Querey como vice. A extrema-direita está se articulando ao redor do Partido “Patria Querida”.
Questionado sobre a influência dos, assim chamados, brasiguaios na política paraguaia, Zayas coloca que o fato de boa parte das terras no Paraguai, principalmente na região de Alto Paraná, serem controladas por brasileiros faz com que estes tenham uma forte influência junto ao governo, com ligações fortes com o Cartismo. Ele menciona o latifundiário Tranquilo Favero, o maior proprietário de terras individual do Paraguai. Favero, de acordo com um levantamento especial, realizado pelo De Olho nos Ruralistas teria iniciado sua fortuna com terras cedidas pelo ditador Strossner na região de Ñacunday, onde protagoniza um dos principais conflitos da História recente do país [1]. Favero também é sócio proprietário do Grupo Favero, um conglomerado comercial voltado à expansão do agronegócio no país e apoia o atual governo Colorado.
Ao ser questionado sobre o possível resultado das eleições em abril de 2023, Zayas se mostra otimista, afirmando que existe uma chance real de eleição de deputados progressistas, ele próprio inclusive – devido ao clamor por mudança – o desafio do partido é ampliar suas bases junto à juventude e os trabalhadores em geral.
Também foi abordada, na conversa, a relação atual entre o MTU e a Convergência Popular Socialista no Paraguai. Zayas afirmou que o processo de integração segue caminhando, que enxerga com esperança e bons olhos esta aproximação, como uma forma de fortalecimento mútuo.
Zayas tem uma tradição de luta camponesa, sendo dirigente há quase 40 anos, uma sólida formação marxista revolucionária, tendo sido várias vezes candidato à presidência da república, pelo antigo Partido dos Trabalhadores (PT Paraguay).
A conversa (que foi realizada via telefone) se encerrou com Pedro Fuentes falando sobre o histórico do movimento dos trabalhadores na América Latina e a necessidade de maior integração no continente, incluindo a relação Brasil – Paraguai.
Zayas, em resposta, colocou que acompanham o que tem ocorrido no Brasil afirmando: “se o fascismo se fortalecer no Brasil, nós também teremos problemas”.
Da nossa parte reafirmamos nossa simpatia e empenho nas relações, com figuras expressivas da esquerda paraguaia, como o atual Senador pela Convergência, Hugo Ritcher e os candidatos que a chapa leva no Alto Paraná, estado vizinho. O PSOL do Paraná vai construir a solidariedade ativa e o esforço para apoiar nossos companheiros internacionalistas.
1. Elogiado por Bolsonaro, Stroessner perseguiu camponeses e grilou 6,7 milhões de hectares: https://deolhonosruralistas.com.br/2019/02/26/elogiado-por-bolsonaro-stroessner-perseguiu-camponeses-e-grilou-67-milhoes-de-hectares/ – acessado em 23/12/2022 às 18h12min.