Militantes tomam Câmara e casa aprova pedido de cassação de vereador racista
Expulso do Patriotas, e com prisão solicitada pelo PSOL, Sandro Fantinel pode perder o mandato
Para garantir que a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul aprovasse o pedido de cassação do vereador Sandro Fantinel, pelo menos 150 militantes de partidos políticos – majoritariamente o PSOL, rspresentado pelas correntes Movimento Esquerda Solidária (MES), Resistência e Fortalecer – além de PCB, MRT, UP PT, PC do B e Movimento Negro tomaram o plenário da Casa, na manhã de ontem (2/03). A pressão funcionou: o pedido foi aprovado por unanimidade.
“Vitória contra o racismo! Seguimos pressionando para que, além de perder o mandato, ele responda criminalmente. O PSOL-RS já ingressou no MP com pedido de prisão dele”, declarou a presidenta estadual do partido, deputada Luciana Genro.
O protesto e as sanções decorrem das declarações racistas e xenófobas que Fantinel fez na tribuna, na terça-feira (28/02), relativizando o caso de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves.
“O patrão vai ter que pagar empregado para fazer a limpeza todo dia pros bonito (sic) também? É isso que tem que acontecer? Temos que botar eles num hotel cinco estrelas para não ter problemas com o Ministério do Trabalho?”, disse Fantinel sobre as os alojamentos insalubres onde mais de 200 trabalhadores, a maior parte vinda da Bahia, foram instalados.
O vereador sugeriu que produtores e empresários “não contratem mais aquela gente lá de cima”, e disse dos baianos que “a única cultura que eles têm é tocar tambor na praia”. Fantinel disse ainda a contratação de argentinos que, segundo ele, “são limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantém a casa limpa e, no dia de ir embora ainda agradecem ao patrão”, sugerindo que os trabalhadores baianos explorados seriam a antítese dessas qualidades.
Como resposta aos absurdos proferidos pelo vereador parte dos 150 manifestantes levaram tambores ao protesto, repetindo palavras de ordem como “com luta, com garra, fascista sai na marra” e carregando cartazes com mensagens que exigiam a punição de Fantinel – que apresentou atestado médico e não compareceu à sessão.
Militante do MES/PSOL, Patrick Veiga participou do ato. Ele considera que sem a mobilização forte da esquerda o desfecho da sessão poderia ter sido diferente.
“A tendência da sessão era apreciar uma carta de denúncia do vereador Sandro Fantinel. A pressão do plenário foi para que não se aceitasse a denúncia, e que fosse aberto um processo de cassação, com todas as consequências que estão implícitas nele. Se não fosse a pressão colocada pela militância e movimentos sociais, a tendência seria que os vereadores aceitassem a renúncia, como forma de apaziguar os movimentos sociais e dar uma resposta à imprensa”, avalia.
Patrick relata ainda que, ontem, o PSOL-RS apresentou uma notícia-fato ao Ministério Público (MP) apontado os crimes que podem ser imputados a Fantinel.
“Então, agora, a pressão segue também para a prisão do Sandro Fantinel”, finaliza Patrick.
Uma estranha retratação
À tarde, em vídeo publicado nas redes sociais, o vereador postou um vídeo em que atribuiu sua fala na Câmara a um “lapso mental” as falas racistas e xenófobas.
“Tenho muito apreço ao povo baiano, e a todos do norte/nordeste do país. Em um momento de lapso mental, proferi palavras que não representam o que eu penso e sinto pelo povo da Bahia e do norte/nordeste. Somos todos iguais e registro que estou profundamente arrependido”, disse.
Porém, dos 2:18 minutos de vídeo, menos de um minuto foi empregado no pedido de desculpas. No restante, o vereador chorou e lamentou xingamentos endereçados a ele e à família em redes sociais.
“Minha mulher está sendo ameaçada, vai me largar”, contou.
Em entrevista ao jornal Pioneiro, de Caxias do Sul, Fantinel contradiz várias vezes sua intenção de reparar a situação.
“O que eu posso dizer e transmitir é que em toda a minha vida, nos meus 55 anos de idade, em todos os problemas que eu tive, nunca passei por uma tristeza e por uma destruição tão grande. Por uma selvageria tão grande em cima de tão pouco. Porque naquela tribuna da Câmara foram proferidas coisas muito piores do que aquelas que eu proferi nesses dois anos aqui e não tiveram espaço nenhum. Talvez porque foram proferidas por pessoas que não eram como eu ou por pessoas que não eram do meu partido”, vitimiza-se.
Sobre a possibilidade de renúncia, ele afirmou:
“Prefiro mil vezes ser cassado porque vi que lutar pelo certo não vale a pena, infelizmente não vale a pena. Não que o que eu tenha dito na minha fala daquele dia seja certo. Aquilo é errado, mas eu estou me referindo a muitas outras coisas (…). Eu estou extremamente arrasado, a minha família destruída por três ou quatro palavras que foram mal interpretadas, que não era aquilo que eu queria dizer. Eu não mereço o que eu estou passando. Como eu já disse, nenhum assassino de crianças merece passar pelo que eu estou passando”.