Escola da Maré e a banalidade da violência da PM
Parlamentar do PSOL destaca desprezo do Estado pelas comunidades periféricas
Foto: Reprodução
O brutal assassinato de cinco crianças em uma creche em Blumenau (SC) na quarta-feira (5) dividiu espaço nas manchetes com outro terrível episódio, também no ambiente escolar. No mesmo dia, por volta das 6h30min, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio de Janeiro invadiram o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Elis Regina, na Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré.
A ação armada visava caçar um grupo de 16 homens que, fugindo de uma ação da Polícia Militar contra o Comando Vermelho, maior facção do tráfico de drogas do RJ. Houve intenso confronto na entrada da favela antes da fuga para o Ciep.
Apesar do horário da ação, vídeos mostram que havia movimentação de pessoas ao redor da escola. Segundo a PM, a população teria sido convocada pelos suspeitos para atrapalhar os policiais. Assim, “houve necessidade de uso de equipamentos de menor potencial ofensivo para coibir princípio de distúrbio civil”.
As imagens divulgadas nas redes sociais também mostram a presença de blindados da polícia, e ainda o som de um disparo, o que causa correria entre os transeuntes. A PM também chegou a jogar bombas de gás lacrimogêneo, antes de negociar a rendição do grupo. Dez pessoas foram presas no local e outras seis, na comunidade.
Condenados ao esquecimento
Se a brutalidade aproxima os episódios na escola catarinense e na carioca, a preocupação póstuma com o ocorrido é discrepante. Não houve na imprensa voz que se erguesse contra o disparate de uma invasão policial a uma escola pública, tampouco ao trauma que isso pode gerar em alunos, professores e funcionários da unidade.
O deputado estadual Prof. Josemar Carvalho (PSOL-RJ) usou as redes sociais para criticar a operação.
“As cenas de jovens e crianças correndo de bombas é indignante! Não vamos tolerar essa situação!”, protestou.
Em entrevista a Revista Movimento, o parlamentar pontuou que essas arbitrariedades negligentes são comuns, e que a sociedade civil não costuma se indignar com o risco imposto a comunidades pobres
Com a intensa movimentação policial na Maré, 21 escolas e creches fecharam as portas hoje. Mais de 7 mil alunos ficaram sem aulas.
“São ações irresponsáveis, que não levam em consideração a vida das pessoas, da população periférica. Uma ação como essa não seria feita em uma escola frequentada por filhos da elite, da burguesia, ou na zona sul do Rio de Janeiro. É feita porque é uma comunidade. [O Estado] não valoriza e não se preocupa com o povo pobre e trabalhador”, lamenta Josemar.