O PSOL e a disputa da prefeitura de SP em 2024
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O PSOL e a disputa da prefeitura de SP em 2024

Declaração da direção estadual do MES/PSOL de São Paulo sobre as próximas eleições municipais da capital

Em todo o Brasil, a militância do PSOL está envolvida nas plenárias municipais do 8º Congresso Nacional do PSOL. Assim que passado o Congresso (e também durante a sua realização), é natural que o debate eleitoral sobre 2024 tenha peso.

O MES está entre as correntes que acreditam que não só as eleições devem pautar o partido, pois o PSOL deve ser um instrumento vivo de intervenção nas lutas de rua. Mas é inegável que as eleições têm, também, enorme importância.

Em São Paulo, que é a maior cidade do país, há uma conjuntura específica. Pela primeira vez, o PSOL, por meio de uma de suas figuras públicas (Guilherme Boulos), está em condições de vencer. Já em 2020, Boulos foi ao segundo turno.

Entretanto, uma enorme contradição acompanhará o PSOL durante esse processo: possivelmente, o Boulos que disputará as eleições de 2024 não será o mesmo de 2020, assim como, em 2020, Boulos já não era mais o mesmo, por exemplo, de 2014, quando organizou manifestações com dezenas de milhares de militantes do MTST em São Paulo exigindo moradia e protestando contra a Copa do Mundo no Brasil.

Todos mudamos através do tempo, assim como muda a conjuntura. Mas a construção a sério de um partido como o PSOL não permite ingenuidades. De lá para cá, o que se tem observado é uma mudança na estratégia política do candidato mais forte do PSOL à prefeitura de São Paulo. Hoje, Boulos é o fiador da integração crescente entre PSOL e PT e, portanto, de uma normalização do PSOL dentro do regime político. Enquanto deputado, sua atuação é acrítica ao governo. Em nível estadual, ele busca negociar o que pode para assegurar o apoio dos petistas, enquanto costura relações com figuras até da direita, como o senador por São Paulo, Giordano (MDB).

Diante disso, o que fazer?

A posição do MES é clara. Defendemos a unidade partidária para conduzir e disputar a sério a possibilidade de vencer as eleições do ano que vem. Não menosprezamos o diagnóstico de que estará em jogo a possibilidade de derrotar o bolsonarismo, em sua versão raiz (com Eduardo Bolsonaro) ou dissimulada (com o prefeito Ricardo Nunes).

A nosso ver, porém, a defesa dessa unidade e dessa candidatura não deve vir acompanhada de uma carta em branco para Boulos. A experiência histórica demonstra que, quando figuras públicas fortes deixam de ser fiscalizadas e cobradas pela militância, os resultados são ruins. E isso está, desde já, em questão.

O passo número um para evitar os riscos é a discussão do programa. Vencer uma eleição, se for ao modo convencional e com o objetivo de apenas “administrar” o Estado, não representa novidade e atende pouco às necessidades urgentes da classe trabalhadora. É preciso discutir com quais ideias e planos se quer isso. E elaborar um programa sabendo que a atuação municipal tem limites, mas também é privilegiada para fazer enfrentamentos de interesses e mobilizar o povo. Só faz sentido existir uma prefeitura do PSOL se ela for uma prefeitura da classe trabalhadora, e não da política tradicional.

Um segundo passo importante é o debate das alianças. É fato que estar com outros partidos, taticamente, é admissível mediante o enfrentamento da direita. Porém, quais? Devemos ir além do raio dos partidos da classe trabalhadora? E aliando-nos com o partido hegemônico na esquerda brasileira de hoje, o PT, devemos atender a quais condições?

Recentemente, num encontro do PT, o deputado Tatto cobrou, por exemplo, o voto contrário de Boulos e do PSOL contra o arcabouço fiscal. Mas este foi um acerto do PSOL e de Boulos, aliás graças à atuação persistente dos deputados da esquerda do partido. Logo, a aliança eleitoral deve representar uma síntese, e ser dirigida pela política do PSOL, e não representar, ao contrário, a submissão do PSOL ao governismo, inclusive na sua agenda que ataca a classe trabalhadora. E Boulos deve demonstrar claramente isso.

Ainda vale lembrar que este debate afeta a região metropolitana e o interior. Partidos como PT, PDT ou PSB podem querer cobrar, em troca do apoio ao PSOL na capital, apoio a candidatos dos seus partidos em outras cidades. Seria correto Boulos e sua corrente intervirem em diretórios municipais obrigando isso? Certamente, não. Aliás, o clássico toma-lá-dá-cá das negociações eleitoreiras é o oposto do que o PSOL historicamente constrói — e foi nos opondo a ele que crescemos até hoje.

Por fim, é preciso demonstrar desde o início — e começando pela construção no PSOL— que uma possível prefeitura nossa seria um instrumento de promoção da participação popular e de auto-organização do povo. Isto é, um instrumento a serviço da ampliação da própria luta e de uma estratégia socialista. Diante desse argumento, sempre surgirão os arautos da racionalidade argumentando contra as “utopias”. Mas o fato é que falta de estratégia produz frustações muito concretas. Dentro do PSOL, basta recordar e analisar criticamente a experiência de Freixo, no Rio de Janeiro. Ou então, os limites da atual prefeitura de Edmilson, em Belém.

Nas experiências petistas em São Paulo, é evidente que o parâmetro da gestão de Erundina, mesmo com ressalvas, foi bem mais avançado que o de Haddad, que tinha (e segue tendo) orgulho de se declarar “pai das PPPs” (e, portanto, promotor de OSs), idealizou o primeiro SAMPAPREV, aumentou os preços das tarifas, entre outros absurdos.

É por isso que reafirmamos: precisamos derrotar o bolsonarismo em São Paulo e eleger Boulos prefeito com um programa de esquerda pelo PSOL. A militância partidária deve ser protagonista e estar atenta desde já. Não vale tudo para vencer uma eleição e, principalmente, não vale alterar a natureza do próprio PSOL, que até aqui se preserva como um partido nitidamente anticapitalista e, ainda que com contradições, independente.

Direção Estadual do MES/PSOL SP


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Pedro Micussi