Parlamentares do PSOL vão acompanhar apuração da chacina do Guarujá
Câmeras em viaturas da Polícia Militar

Parlamentares do PSOL vão acompanhar apuração da chacina do Guarujá

Pelo menos 10 pessoas foram assassinadas pela PM paulista após assassinato de agente da Rota. Moradores denunciam violência e abuso policial

Tatiana Py Dutra 1 ago 2023, 14:44

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A sórdida fama da Polícia Militar (PM) de São Paulo se mostrou palpável novamente. Dessa vez, em comunidades da periferia do Guarujá, no litoral norte. Pelo menos 10 pessoas foram assassinadas em operações policiais desde a morte do soldado Patrick Bastos Reis, integrante da da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), na última quinta-feira (27/7). O total de vítimas, porém, pode chegar a 19.

Moradores do município relatam ameaças e abusos por parte dos policiais, na chamada Operação Escudo, autorizada pelo governo do Estado após a morte do PM. As atividades envolvem cerca de 3 mil policiais de 15 batalhões de operações especiais de São Paulo, incluindo pelotões do Choque. Ainda que o suspeito de ter assassinado Reis tenha se entregado no último domingo (30), a operação ainda deve durar um mês.

A truculência policial encontra guarida na gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na segunda-feira (31), o governador defendeu a ação da PM e garantiu que não houve excessos na ação dos agentes. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, também minimizou, Para ele, as denúncias de abusos “não passam de narrativa”.

Porém, em grupos de WhatsApp e perfis nas redes sociais, policiais comemoraram as mortes ocorridas durante a Operação Escudo. Ao longo do último final de semana, PMs “influencers” atualizavam o “placar” de vítimas, em postagens crivadas de deboche

“Saldo em Guarujá: informações de que 06 anjinhos estão em sono eterno”, dizia uma postagem do soldado da PM Diogo Ranieri Rodrigues Lima em seu perfil no Instagram, que conta com quase 30 mil seguidores.

Ao longo do fim de semana, ele atualizou o “placar”. 

“Só atualizando: são – 9 (menos nove)”, afirmou ele em um story. Em outro vídeo, disse que estava aguardando a décima morte.

Indignação

A vereadora Luana Alves usou as redes sociais para protestar contra a desfaçatez dos PMs antes da barbárie que praticaram. 

“O que está acontecendo no Guarujá é uma CHACINA, com o aval do governador Tarcísio, filmado e divulgado por SERVIDORES PÚBLICOS, pagos com DINHEIRO PÚBLICO, para os fãs de sangue na internet. Esses policiais estão cometendo crimes e têm que ser presos!”, escreveu.

O pensamento da parlamentar está alinhado ao do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), que solicitará ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Sarrubbo, a designação de um grupo especial para apurar a possibilidade de os crimes, somados, configurarem uma chacina.

O Condepe está recebendo denúncias de tortura e maus-tratos contra moradores do Guarujá, elém de fotos e vídeos que documentam a ação dos PMs. O material será remetido ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que já anunciou a abertura de um procedimento para analisar a legalidade das ações da Operação Escudo.

E as câmeras?

A deputada estadual Monica Seixas lembra que muitas das dúvidas que pairam sobre a ação – e mesmo mortes – poderiam ter sido evitadas caso o projeto que torna obrigatório o uso de câmera no uniforme de todos os policiais estivesse em vigor. Ela ainda destacou que o episódio do Guarujá “nos fala da falência do modelo de segurança do Estado de SP. Policiais morrendo e matando num processo rápido de milicianização e de fortalecimento do armamento na mão do crime organizado”.

“As contradições entre as versões do governador e da população que narra mais mortes, torturas e ameaças são inaceitáveis. A ação perturbadora não tem nada a ser comemorada.

Nosso mandato está em contato com a ouvidoria da PM e vai acompanhar a comissão de Direitos Humanos na visita ao Guarujá. Às mães dos policiais morto e ferido e às mães dos homens chacinados e também ameaçadas, unidas na dor da falência do Estado, minha solidariedade”, comentou.


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Pedro Micussi