Diante da provocação do sionismo, tomar medidas diplomáticas mais efetivas
É necessário mobilização para exigir ações duras do Brasil contra Israel no campo diplomático
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Enquanto o país acompanha o périplo para a retirada de 34 brasileiros de Gaza pelo portão de Rafah, a direita sionista se organiza para disputar nas redes e nas ruas a opinião pública. O encontro do embaixador foi a máxima expressão dessa aliança aberta com a extrema direita golpista, e seu líder, Bolsonaro.
Foi uma verdadeira provocação a atividade entre do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, com Bolsonaro, em meio aos protestos que parlamentares organizaram em favor da causa palestina.
De um lado do plenário, o ato organizado por Fernanda Melchionna, Glauber Braga, Erika Kokay, Luizianne Lins, Padre João e Jandira Feghalli entre outros parlamentares, defendia o cessar-fogo a partir de uma carta assinada por 61 deputados que denunciava o genocídio e o apartheid. Do outro, a embaixada de Israel, alavancada pela direita mais golpista do parlamento promovia o ato com Bolsonaro.
Como escreveu Jamil Chade, sobre a reunião que foi “considerada nos corredores do Itamaraty como uma quebra grave de protocolo, uma intromissão na política doméstica e uma relação complicada com um personagem público que está inelegível”
A disputa contra o massacre de Gaza envolve a combinação de uma luta militar, de opinião pública, de mobilização de massas e relações diplomáticas.
Do ponto de vista militar a situação é terrível, com o maior massacre a céu aberto de crianças da história recente, com números assustadores que indicam que 11 mil palestinos foram assassinados, na sua ampla maioria de civis. A disputa da opinião pública está intensa, com o lobby sionista atuando sobre as grandes redes de comunicação e punindo funcionários como os do Google, que pediram fim dos projetos como o governo israelense. Contudo, as pesquisas de opinião indicam que desde o dia 7 de outubro, com desigualdades, a condenação à agressão à Gaza, bem como o clamor pelo cessar-fogo imediato, cresceu em todos os países.
No âmbito das manifestações, a escala é crescente: os judeus antissionistas tem pautado às manifestações nos Estados Unidos; portuários da Bélgica, Catalunha e Inglaterra paralisaram suas atividades para bloquear o envio de armas para Israel; as universidades australianas romperam contratos com a empresa israelense Elbit, fabricante de armas.
Se prepara para o final de semana, em Londres, a maior manifestação desde o começo da agressão, rompendo e desmoralizando a ministra do governo que tentou impedir o protesto. Soma-se a isso que os parlamentos de Gales e da Irlanda votaram favoráveis ao cessar-fogo.
O caso brasileiro é emblemático. O sionismo está atacando nas redes, universidades e perseguindo parlamentares e docentes. O Brasil foi o proponente da resolução da ONU, a partir da cadeira que ocupa no Conselho de Segurança, do Cessar-fogo e de ajuda humanitária. Mesmo com uma esmagadora maioria aprovando a resolução, Israel, escudado pelos Estados Unidos desconheceu a resolução.
É hora de responder a provocação do embaixador e seguir alguns exemplos internacionais: Petro subscreveu a proposta da Argélia de levar Netanyahu para o TPI em Haia; o parlamento turco rompeu todos os acordos comerciais com o Estado de Israel, além de países como Bolívia, África do Sul e Jordânia que formalmente romperam as relações diplomáticas.
O Brasil pode e deve dar um passo adiante. Deve expulsar o embaixador israelense, convocar de volta seu representante diplomático em Tel Aviv e ser um agente político ativo no isolamento internacional da política de morte de Netanyahu. Com o retorno dos 34 brasileiros de Gaza, a diplomacia brasileira não tem nenhuma alegação para evitar dar esses passos.
Na noite de ontem, 9 de novembro, uma manifestação contundente da comunidade acadêmica e científica da USP, coordenados por professores como Arlene Clemesha e Vladimir Safatle, reuniu importantes intelectuais e dirigentes políticos como o escritor Milton Hatoum, a deputada e presidente da Fundação Lauro Campos, Luciana Genro, o deputado federal Ivan Valente, do PSOL, o presidente da FEPAL, Ualid Rabah , a coordenadora da Frente Palestina, Soraya Misleh, o professor Valter Pomar, entre outros, para impulsionar o manifesto que pede o cessar-fogo imediato, subscrito por dezenas de personalidades.
O manifesto propõe medidas concretas que somam ao apelo à diplomacia brasileira fazer mais, como por exemplo:” – revogue imediatamente todos os acordos militares e de segurança já firmados com o Estado de Israel; – apoie a reativação do Comitê da ONU contra o crime de apartheid, para que ele possa averiguar e encaminhar para julgamento o caso atualmente em curso no território da Palestina histórica.”
A esquerda brasileira precisa avançar na exigência da ruptura de relações com Israel, ampliando o eco a campanha pela libertação de Ahed Tamimi, jovem liderança que encarna a luta pela liberdade dos milhares de presos políticos palestinos, além da denúncia do genocídio e do apelo imediato ao cessar-fogo.
O Brasil deveria corresponder à ideia de uma “diplomacia ativa e altiva”, organizando os países que estão de acordo com o cessar-fogo, ancorados nas resoluções da ONU, para em bloco romper relações efetivas com Israel. Essa medida seria uma movida forte no tabuleiro da guerra e poderia ter impacto real. Seria um sopro efetivo de esperança para parar as mortes em Gaza.