Recordando Ernesto Herrera
Falecido há poucos dias, Ernesto Herrera foi um revolucionário que defendeu a fundação do PSOL
Foto: Correspondencia de Prensa
No sábado, 10 de janeiro, em Montevideo, faleceu Ernesto Herrera.
Veterano revolucionário, Herrera foi um dirigente internacionalista de tradição quartista, sempre vinculado às lutas dos trabalhadores uruguaios. Recebi a notícia por meio de um comunicado do camarada Elidio Marques, que sempre foi muito próximo à Herrera.
Durante um período, tive a oportunidade de me aproximar e conhecer Herrera melhor. Ele cumpriu um papel muito importante no combate dentro da IV e no âmbito internacional da esquerda radical para legitimar a fundação do PSOL como uma necessidade histórica e política.
A aproximação com Pedro Fuentes, Roberto Robaina e Luciana Genro vem dessa etapa. Antes, nos anos 1980, Herrera e Pedro tinham colaborado nas relações estabelecidas pelo PST uruguaio no exílio. Herrera também teve uma colaboração muito próxima com os brasileiros ligados à IV durante esse período.
No debate sobre os limites do governo Lula, do dito progressismo e quando da ruptura que daria origem ao PSOL, Herrera foi ativo em vindas ao Brasil e pudemos assim estabelecer vínculos e uma relação mais direta. Lembro com nostalgia de participar de espaços no Uruguai, recordo junto ao camarada Bernardo Corrêa da constituição da Corrente de Izquierda (CI), agrupando uma esquerda crítica e militante, com referência e peso. Recordo de campanhas eleitorais, do destaque de um velho militante e senador Helio Sartu, da presença constante da CI em debates de rádio e concentrações públicas. Algumas vezes fiquei na casa de Herrera.
As discussões dentro do PSOL e da reorganização da esquerda radical nos distanciaram.
Herrera seguiu rigoroso publicando um dos boletins mais completos e longevos em espanhol, a Correspondencia de Prensa.
No ano passado, voltei a reencontrar Herrera, quando estivemos envolvidos na articulação da solidariedade à oposição na Nicarágua e na vinda da companheira Mónica Baltodano à nossos países. Num tema chave, mas que parte da esquerda radical não tomou como prioridade, nos encontramos e lembro que ele e Charles-Andre Udry, seu grande parceiro de trabalho de uma vida toda, prontamente responderam a um e-mail, contentes com a colaboração, vez que Correspondencia de Prensa e o site “A l’encontre” foram vanguarda na difusão da luta internacional contra Ortega.
Nos despedimos de Ernesto Herrera para além das divergências dos últimos tempos. Cabe a militância e à direção do PSOL não esquecer de seu papel ativo na discussão internacional em apoio ao Partido naqueles momentos onde a existência de um partido à esquerda do PT era uma aposta arriscada, ainda que tão necessária.
Herrera escreveu sobre o movimento operário uruguaio, sobre a dinâmica da esquerda e da capitulação da Frente Ampla; escreveu sobre o significado da derrota da heroica greve de 15 dias, encabeçada pela CNT, contra a ditadura. Fará falta.
Deixamos nossas melhores recordações.