A Conferência de Porto Alegre e o desafio de enfrentar a extrema direita
A Conferência Internacional Antifascista será realizada entre 17 e 19 de maio em uma ação unitária envolvendo o PSOL, PT, MST e diversas outras organizações e movimentos sociais
A partir de uma articulação internacional, protagonizada pelo PSOL e pelo PT, se convocou a Iª Conferência Internacional Antifascista contra a extrema direita. Diversos grupos no âmbito internacional já aderiram e agora o Movimento Sem Terra (MST) se agregou à organização do evento. Diversas confirmações vem chegando e o bom andamento da preparação entusiasma.
A Conferência será de 17 a 19 de Maio, contando com painéis temáticos, atividades autoconvocadas e uma grande marcha de abertura.
Não faltam motivos para enfrentar a extrema direita, no Brasil e no mundo. Na semana em que se completam 60 anos do golpe contra-revolucionário que deu origem à ditadura, a polarização com o bolsonarismo segue no centro da conjuntura: seja com o caso Marielle, a luta que dão pela anistia e contra a prisão de Bolsonaro e a necessidade de uma resposta das ruas e do movimento de massas.
No terreno internacional, Netanyahu é a ponta avançada da promoção da barbárie em Gaza e a extrema direita busca se fortalecer em distintos países. É preciso parar a mão da extrema direita e discutir as diferentes táticas para enfrentá-la tanto no terreno institucional como (e principalmente) no terreno da mobilização popular. A ação de massas, nas ruas, é a principal ferramenta para colocar o fascismo na defensiva nos diversos âmbitos.
A extrema direita é a ditadura, o genocídio e a tortura
Na data em se rememora o início da ditadura civil militar que durou 21 anos, há um debate na sociedade acerca dos crimes cometidos pelos militares, com assassinatos, prisões e torturas. Os militares buscam negar o ocorrido, amparados na falta de uma justiça de transição, para preparar novos intentos de acabar com a democracia liberal no país. A trama do 8 de janeiro e o papel que cumprem as milícias como bandas paramilitares demonstram a olho nú a capacidade de operação desse setor.
Na vizinha Argentina, Milei lançou um vídeo institucional negando que 30 mil argentinos tenham sido desaparecidos, o que é reconhecido pela justiça e pelo Estado Argentino, após anos de luta das mães e avós da Praça de Maio, além de diversos organismos de direitos humanos.
Não há coincidência na articulação e na retórica de ambos setores de ultradireita nos países: eles defendem um mesmo projeto: ditaduras, genocídio e tortura. Seja nos anos da ditadura brasileira, sob o Chile de Pinochet ou na Argentina da “junta militar”. Ou no que assistimos ao vivo, a devastação e o genocídio de mais de 32 mil pessoas- em sua maioria mulheres e crianças- na Faixa de Gaza.
O espírito de Porto Alegre
A extrema direita tem se organizado em eventos e encontros internacionais. A recente reunião do CPAC nos Estados Unidos, que reuniu figuras como Milei e o presidente salvadorenho Bukele, demonstrou que este setor prepara uma nova ofensiva internacional que tem como perigo principal uma vitória de Trump nas próximas eleições. Em julho, se planeja um encontro do CPAC no Brasil, confirmando o papel do país como central para tal articulação reacionária.
Portanto, é notório que faz falta uma articulação internacional, mesmo que inicial, das forças que se opõem à essa escalada da extrema direita. A convocatória de Porto Alegre é um primeiro passo, ainda incipiente, para somar forças que queiram começar uma articulação. E desenvolver condições para pensar em encontros maiores e mais amplos no futuro.
Na virada do século, Porto Alegre foi um ponto de encontro dos movimentos antiglobalização, ou como na época eram conhecidos “altermundialistas”. A realização dos Fóruns Sociais Mundiais foi um êxito que combinou diferentes experiências, após o refluxo geral dos anos 1990. Ali se encontraram os processos de luta mais radicalizados – que tiveram lugar nos protestos de Seattle e Gênova, por exemplo, com as experiência latino-americanas, como o evento que foi organizado pelo mandato de Luciana Genro com Hugo Chávez ou a manifestação em apoio ao Argentinazo que concluiu com a instalação de uma placa em memória aos mortos na rebelião popular de dezembro de 2001.
A limitação da estratégia e a própria cooptação governamental impediu que os Fóruns pudessem seguir com seu mesmo caráter. Hoje existem articulações e fóruns regionais, sem ter, contudo, a força do que se expressou no começo do século XXI. Nosso desafio hoje é resgatar o “espírito de Porto Alegre” para enfrentar o fascismo que surge.
Combater a extrema direita
Nossa política envolve enfrentar a extrema direita, sobretudo nas ruas. Para tanto é preciso vincular temas concretos como a luta anti-milícia, que pode dar um salto após a prisão dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, e a luta contra a anistia aos golpistas de ontem e hoje.
No plano da agitação, isso envolve garantir e ampliar a convocatória articulada pelo PT, PSOL e agora MST, em Porto Alegre, para fazer valer a Iª Conferência Antifascista como espaço de articulação para o enfrentamento unitário
No âmbito da propaganda, vale registar a nova edição da Revista Movimento com um especial sobre os 60 anos do golpe militar, com uma série de entrevistas e artigos que refletem a necessidade de lutar pela pauta da justiça e reparação contra os criminosos do regime de 64 ainda nos dias de hoje.
Nossa tarefa central é jogar forças para essa luta unitária ao redor da Conferência – que deve ser a mais ampla possível – como passo à frente na luta antifascista, a mais importante da nossa geração.