Ex-comandantes militares apontam participação de Bolsonaro em tentativa de golpe
Em depoimento à PF, ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica confirmaram delação de Mauro Cid
Foto: Agência Brasil
O antigo líder do Exército, general Freire Gomes, e o ex-líder da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, deram mais uma volta no parafuso que há de levar Jair Bolsonaro à prisão. Eles confirmaram à Polícia Federal a participação do ex-presidente em uma reunião onde foi discutida uma proposta golpista. Segundo reportagens da CNN e do jornal O Globo, essas informações implicam diretamente Bolsonaro na trama que está sendo investigada pela Polícia Federal.
Ambos prestaram depoimentos extensos às autoridades. Freire Gomes, que voltou recentemente de uma viagem à Espanha, foi ouvido pela Polícia Federal na última sexta-feira (1º). Ele passou mais de sete horas respondendo a cerca de 250 perguntas na sede da PF em Brasília, atuando como testemunha, comprometido a falar a verdade.
Ao contrário de outros altos oficiais militares investigados, como os ex-ministros Walter Braga Netto e Augusto Heleno, o ex-comandante do Exército optou por falar, mantendo sua condição de testemunha. Ele teria corroborado a versão apresentada por Mauro Cid, indicando que, durante a reunião com os comandantes das três Forças, apenas o comandante da Marinha, Almir Garnier, teria indicado apoio ao golpe. Garnier, por sua vez, permaneceu em silêncio durante seu depoimento à PF.
Freire Gomes também teria mencionado que Bolsonaro solicitou que os acampamentos golpistas em frente aos quartéis em todo o país não fossem removidos. Esses acampamentos, sempre tolerados pelas forças, teriam permitido aos manifestantes se organizarem para o ato golpista em 8 de janeiro, que resultou na depredação dos edifícios dos três Poderes da República.
Apesar do relato do ex-comandante, em 11 de novembro de 2022, os chefes das três Forças divulgaram uma nota de apoio às manifestações em todo o país. A nota afirmava a condenação tanto de possíveis restrições aos direitos por parte de agentes públicos quanto de excessos cometidos em manifestações que pudessem ameaçar os direitos individuais e coletivos ou a segurança pública, bem como quaisquer ações que fomentassem a desordem pública, sejam de indivíduos ou entidades públicas ou privadas.
Os depoimentos dos comandantes do Exército e da FAB são considerados importantes pelos investigadores para preencher algumas lacunas na investigação e confirmar a versão apresentada por Mauro Cid em sua colaboração premiada com a Polícia Federal. Essa confirmação é crucial para que ele possa receber benefícios.
Todos os depoimentos permanecem sob segredo de Justiça, e a PF não permitiu que os advogados dos investigados tivessem acesso às cópias, uma prática comum em investigações policiais.