Letalidade policial na Bahia: 12 mortos em operação reacendem debate sobre segurança pública
Violência

Letalidade policial na Bahia: 12 mortos em operação reacendem debate sobre segurança pública

Com o estado liderando o ranking de mortes em ações policiais, especialistas questionam a condução das operações e os impactos na segurança dos moradores

Tatiana Py Dutra 6 mar 2025, 09:50

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A letalidade da Polícia Militar da Bahia voltou a chamar a atenção com a morte de 12 pessoas em uma operação no bairro Fazenda Coutos, no subúrbio de Salvador, na última terça-feira (4). A ação, que se insere em um contexto de violência crescente no estado, levanta questionamentos sobre a condução das operações policiais e a segurança dos moradores das comunidades afetadas.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, a PM interveio na região após receber informações sobre a invasão de um grupo armado em meio à disputa entre facções criminosas. Durante a incursão, os policiais alegam ter sido recebidos a tiros, resultando no confronto que culminou com 12 suspeitos alvejados. Nenhum sobreviveu.

Apesar da justificativa oficial, dados do Ministério da Justiça e do Instituto Fogo Cruzado reforçam um panorama alarmante. A Bahia registrou 1.557 mortes em ações policiais em 2024, mantendo-se como o estado com maior letalidade policial do país, à frente de São Paulo (749) e Rio de Janeiro. Embora tenha havido uma redução de 8,5% em relação a 2023, a violência policial segue em ascensão desde 2015.

Além disso, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, esta é a 100ª chacina registrada em Salvador e Região Metropolitana desde o início do monitoramento na Bahia, em julho de 2022. Mais de dois terços desses episódios (67%) envolveram a atuação de forças policiais, totalizando 261 mortos.

Para a coordenadora regional do instituto, Tailane Muniz, os números evidenciam uma política de segurança voltada para o confronto, em detrimento da proteção da população. 

“Quando 12 pessoas morrem em uma ação policial, fica claro que a prioridade é o enfrentamento armado e não a segurança dos moradores. O bairro ficou sob intenso tiroteio por mais de sete horas, o transporte público foi suspenso, e a pergunta que fica é: quais os resultados disso?”, questionou Muniz durante entrevista à Agência Brasil.

Além da alta letalidade, a condução dessas operações levanta suspeitas sobre a ausência de protocolos que resguardem vidas inocentes. Durante a ação da última terça-feira, uma equipe de jornalistas da TV Bahia ficou no meio de um tiroteio e precisou se abrigar em uma padaria, o único estabelecimento aberto no momento. Felizmente, nenhum profissional foi ferido.

O secretário de Segurança Pública do estado, Marcelo Werner, defendeu a ação como uma resposta à violência imposta por grupos criminosos e afirmou que o Estado “não será subjugado”. No entanto, não detalhou se os mortos tinham antecedentes criminais, nem se todos portavam armas no momento do confronto. A cronologia dos fatos segue sob investigação.

O Ministério Público da Bahia acompanha as apurações e promete tomar providências para esclarecer as circunstâncias das mortes. Enquanto isso, a população segue em meio ao fogo cruzado, lidando com os impactos de uma política de segurança que, ano após ano, continua a produzir números alarmantes de letalidade.


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