O Brasil não pode ter amizade com um Estado genocida
Oficializada a data de celebração das relações diplomáticas com “Israel” enquanto o genocídio do povo palestino continua
Davi Alcolumbre, o presidente do Congresso Nacional, promulgou nesta quarta-feira (25) a lei que cria o Dia da Amizade Brasil-Israel, a ser “celebrado” no dia 12 de abril. O presidente Lula teve até 20 de junho para vetar ou sancionar a proposta, mas deixou o prazo expirar, o que resultou na sanção tácita – quando o silêncio do chefe do Executivo permite que o Legislativo promulgue a lei diretamente.
A solidariedade à Palestina abandonada na prática
Não por acaso, o apoio ao Estado de apartheid de Israel se tornou um símbolo da agenda conservadora e racista da extrema direita no Brasil e em todo o mundo. Ao se omitir, Lula permitiu que essa narrativa fosse assumida como política oficial do Estado brasileiro.
A cumplicidade do governo também se expressou na votação: o projeto foi aprovado por unanimidade no Senado, no fim de maio, com apoio integral da bancada do PT.
A promulgação dessa data vai na contramão do discurso oficial do governo. Ela reforça a aliança ideológica entre a extrema direita e o sionismo, justamente no momento em que o mundo assiste há mais de 600 dias ao maior genocídio televisionado dos nossos tempos.
Trata-se de mais um avanço do lobby sionista no Brasil, que atua de forma estratégica financiando campanhas e organizando viagens a Israel como forma de promover os interesses do país e normalizar a limpeza étnica do povo palestino. Em fevereiro deste ano, o próprio Davi Alcolumbre recebeu a CONIB (Confederação Israelita do Brasil) na Residência Oficial do Senado.
De acordo com Davi Alcolumbre: “Reconhecer a importância da comunidade judaica no Brasil é fortalecer os laços históricos do Brasil, dos brasileiros, com Israel.”
Essa afirmação é equivocada e perigosa, pois confunde a identidade judaica com o apoio automático ao Estado de Israel e ao sionismo — um projeto político colonial. Ser judeu não significa apoiar Israel nem o sionismo. Também o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, incorreu na mesma ideia, ao dizer que apoiava a medida por estar “defendendo os judeus”.
Wagner pareceu mais preocupado em defender Lula de uma possível denúncia de antissemitismo do que em expressar solidariedade à Palestina ou a qualquer outro país bombardeado por Israel nos últimos meses. Para piorar, essa defesa foi demonstrada de maneira inadequada, permitindo que o antissemitismo se confundisse com a responsabilização de Israel.
Criar um “dia de amizade” vai na direção contrária da proteção de comunidades judaicas. Se a ideia é aproximar e protege-las isso não é feito apoiando um país que comete um genocídio a vista de todos. Isso se faz justamente diferenciando o antissemitismo de críticas e denúncias ao Estado de Israel, propondo um real combate a crimes e discursos de ódio contra judeus, assim como outras políticas antiracistas.
Nesta relação, o que o Brasil está celebrando?
A destruição de hospitais, escolas e casas?
O assassinato de centenas de jornalistas e mais de 17 mil crianças?
O extermínio televisionado do povo palestino?
O bombardeamento de países vizinhos?
O que vimos ontem trata-se de um escândalo. Entendemos como covarde a falta de posicionamento do presidente Lula, permitindo que o Senado tomasse a decisão, que obviamente seria favorável.
Por que o presidente não bancou seu veto?
Política não se faz só com palavras, mas com ações. E por nossas ações, ainda somos cúmplices do genocídio.
Não aceitaremos que o Brasil celebre relações com um país acusado de diversos crimes contra a humanidade. Não há amizade possível com um Estado que bombardeia hospitais, destrói famílias inteiras, bombardeia cidades históricas e extermina um povo com os métodos mais cruéis possíveis.
Não em nosso nome.
É hora de romper todas as relações com Israel: diplomáticas, comerciais e militares.
Basta de cumplicidade com o genocídio!