Espírito Santo: a disputa por 2026 já começou – e a esquerda precisa se mover
Declaração do Secretariado do Movimento Esquerda Socialista do Espírito Santo
A conjuntura política do Espírito Santo tem se acelerado nos últimos meses com a antecipação das disputas eleitorais para 2026, marcada pela reorganização da direita e pressões da base governista de Renato Casagrande na Assembleia Legislativa. Enquanto as principais forças do centro e da direita movimentam-se abertamente para disputar o comando do Estado em 2026, a esquerda segue dispersa e com pouca presença nas ruas e nas lutas do povo capixaba. Esse cenário exige da esquerda socialista uma política ofensiva, que combine presença nas mobilizações com disposição para construir uma alternativa popular ao bloco dominante.
Crise silenciosa e rearranjos no centro
Embora mantenha formalmente a condução do Executivo Estadual, o governador Renato Casagrande (PSB) vive um momento de crescente tensão política dentro da sua base de deputados, membros do secretariado e de outros cargos do governo que disputam a referência e o apoio para 2026. Ao mesmo tempo, lideranças regionais também se movimentam, evidenciando que o cenário da disputa eleitoral no campo do centro-direita está em curso.
Recentemente, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), e o vice-governador, Ricardo Ferraço (MDB) — ambos cotados como possíveis candidatos ao governo — reuniram-se com Casagrande e anunciaram que seguirão juntos. Mas a disputa por quem liderará essa coalizão permanece aberta. Ferraço tem ampliado sua projeção, contando com o apoio declarado do prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, e do ex-prefeito da Serra, Sérgio Vidigal, que deixou o governo para se dedicar à eleição de seu filho para deputado federal. Esse movimento integra uma reconfiguração de forças que orbitam em torno do “condomínio” político montado por Casagrande.
O próprio governador já articula sua candidatura ao Senado, o que reforça a percepção de que sua base está mais preocupada com a sucessão do que com a sustentação do atual mandato.
A direita ensaia sua volta às ruas
A extrema direita no Espírito Santo segue em busca de um novo ascenso. Os atos realizados em julho e agosto, especialmente a manifestação do último dia 03/08, que atravessou a Terceira Ponte, foram pequenos em dimensão histórica, mas superaram em participação os atos da esquerda capixaba nos últimos tempos. Embora Lorenzo Pazolini (Republicanos), prefeito de Vitória, possível nome da extrema direita para 2026, não tenha participado da mobilização, o protesto contou com apoio de setores bolsonaristas e demonstrou a tentativa de criar consensos em torno de lideranças estaduais. Ainda assim, parte do bolsonarismo mais radical expressa descontentamento com sua postura, considerada moderada. Apesar das divisões internas, a direita tem se esforçado para ocupar o espaço que a esquerda ainda não preenche nas ruas.
Pouca rua, pouca mobilização
O contraste com a esquerda é evidente. Mesmo em momentos de mobilização nacional, como os protestos do 1º de agosto ou as convocatórias contra o PL da Devastação, a presença das organizações de esquerda no estado tem sido insuficiente. Se a extrema direita mobiliza pouco, a esquerda tem mobilizado menos ainda. Isso revela um déficit de enraizamento e uma urgência: precisamos voltar a ocupar o espaço público com iniciativas ligadas às demandas concretas da classe trabalhadora.
O papel da esquerda e a necessidade de uma alternativa
No PSOL, o mandato da deputada estadual Camila Valadão tem sido uma referência de atuação consequente, com pautas ligadas à luta contra a precarização do trabalho, o avanço da extrema direita, a destruição ambiental e em defesa da gestão democrática na educação. Foi a única parlamentar a votar contra a chamada “Lei Antigênero” e tem protagonizado ações pela sua revogação, incluindo a ADIN ajuizada pelo PSOL. Também tem se destacado na resistência à privatização das Unidades de Conservação e no enfrentamento às violações no sistema carcerário e à violência política de gênero. Na arena internacional, o mandato tem atuado em solidariedade ativa ao povo palestino — com denúncias do genocídio em curso, reforçando o internacionalismo como princípio político do MES.
A reeleição da companheira é prioridade para o MES no Espírito Santo e deve ser parte de uma estratégia mais ampla de fortalecimento da esquerda socialista no estado. Além da disputa institucional, é preciso atuar diretamente nas lutas concretas. O projeto de lei que proíbe contratações com escala 6×1 no serviço público estadual, construído em parceria com o Movimento VAT (Vida Além do Trabalho), é um exemplo de como ligar programa e ação direta. Também será importante seguir impulsionando espaços de formação e debate político, como o lançamento do livro A ascensão da extrema direita e o freio de emergência, de Roberto Robaina, marcado para 14 de agosto na Assembleia Legislativa.
Chamado à unidade para 2026
O Espírito Santo precisa de uma alternativa popular e anticapitalista para disputar o comando do Estado em 2026. Essa alternativa deve estar ligada às lutas reais do povo, com um programa claro de ruptura com os interesses do Capital e da elite local. Não será construída com acordos de cúpula ou táticas defensivas.
Chamamos o PT e os setores da esquerda comprometidos com a luta popular a dialogar conosco sobre a construção de uma frente política de esquerda para o Espírito Santo. O tempo de agir é agora – antes que a extrema direita volte a liderar o debate político e nos empurre para uma nova derrota.