Julgamento de Bolsonaro avança, mas Congresso ainda tenta abrir caminho para anistia
Apesar do risco de condenação por tentativa de golpe, bolsonaristas pressionam por perdão amplo; governo e STF resistem, mas Centrão calcula votos para salvar ex-presidente
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Enquanto Jair Bolsonaro enfrenta julgamento no STF por sua participação na trama golpista de 2022, aliados do ex-presidente tentam manobrar no Congresso para garantir-lhe anistia. O movimento, que ganhou força nesta semana em Brasília, escancara o esforço da direita em transformar crimes contra a democracia em pauta de barganha eleitoral para 2026.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), afirmou rejeitar a proposta de anistia ampla, defendendo um texto restrito a réus do 8 de Janeiro de menor envolvimento. “Não há espaço para incluir os mandantes e financiadores”, disse. Mas lideranças do Centrão e da oposição sustentam ter votos suficientes para aprovar um perdão geral – o que, na prática, impediria a prisão de Bolsonaro.
Ainda assim, mesmo que passe pelo Congresso, o projeto enfrentaria dois obstáculos: a caneta de Lula, que já se posicionou contra a medida, e a análise de constitucionalidade no Supremo. Como a palavra final cabe ao Legislativo, a depender da correlação de forças, o veto presidencial poderia ser derrubado.
A articulação pela anistia tem à frente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que desembarcou em Brasília para tentar se consolidar como herdeiro do bolsonarismo.
“Essa é uma pauta política, humanitária e urgente”, disse Tarcísio em ato público. Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), o movimento mostra que Tarcísio “matou no peito” a candidatura da direita, tentando se cacifar como o nome da extrema direita em 2026. “A coisa ficou séria, houve uma mudança de tom e de intensidade”, afirmou.
Outros governadores da direita, como Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União-GO), também defendem abertamente a anistia. Já o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou a proposta de “saída honrosa para todo mundo”, pressionando aliados a garantir que o STF não derrube eventual perdão.
No STF e no governo Lula, a avaliação é de que a manobra busca blindar Bolsonaro, mesmo inelegível pela Justiça Eleitoral, e criar uma cortina de fumaça para manter sua relevância política.
“O perdão significaria uma rendição ao trumpismo”, alertou Lula em reunião com lideranças partidárias, reforçando o caráter internacional da extrema direita nessa disputa.
A expectativa é que o julgamento de Bolsonaro e de outros sete réus termine até o dia 12, com chances reais de condenação que podem ultrapassar 40 anos de prisão. Até lá, a pressão pela anistia deve se intensificar. Para setores progressistas, trata-se de mais uma tentativa de transformar em impunidade o que foi uma ofensiva golpista contra o Estado democrático de direito.