II Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho: territórios livres e convergência para ação

II Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho: territórios livres e convergência para ação

Entre os dias 8 e 11 de novembro, em Belém, acontecerá o II Encontro Ecossocialista, Latinoamericano e Caribenho

Vanessa Dourado 2 out 2025, 15:52

Os tempos atuais, de avanço da extrema direita e de guerras genocidas, marcam uma época onde as contradições do presente sistema de produção, distribuição e consumo evidenciam que estamos em uma etapa superior da já caracterizada crise civilizatória. No entanto, esta não é mais uma crise cíclica do capitalista. A ruptura metabólica, essa brecha irreparável no ciclo natural de mudanças entre sociedade humana e natureza, desafia a capacidade dos seres humanos em dar respostas que seja compatíveis com a aceleração da destruição socioambiental.

Temos visto que muitas destas respostas vêm de projetos que tem as guerras como estratégia, sejam ela comerciais – como observamos desde a chegada de Donald Trump a presidência dos Estados Unidos – ou genocidas, como é o caso de Gaza e a continuidade do projeto da campaña del desierto, que tem suas versões em distintos territórios do mundo. Em todos estes projetos a acumulação do capital e o colonialismo são as condições da possibilidade de seu êxito. A guerra por recursos e pela manutenção da hegemonia mundial na atualidade tem gerado uma crise de governança global que abre novas perguntas e desafios. Faz-se necessário gerar novos diagnósticos para este cenário, que tem uma dinâmica de mudanças mais acentuada.

Frente ao desafio de pensar, criar e executar um plano alternativo ao projeto de morte imposto, atravessado pela mudança subjetiva que parece acompanhar o Capistalismo Canibal caracterizado por Fraser, os Enconstro Ecossocialistas Internacionais cumprem um papel fundamental. Se tomamos como premissa que não existe futuro sem presente e que a tarefa de hoje é criar as condições para um mundo vivível, a proposição de um Programa de Transição Ecossocialista – que busca construir uma saída ecossocial à profunda crise ambiental que ameaça a continuidade das formas de vida tal como a conhecemos na Terra – é uma ferramenta que permite imaginar um futuro frente às crises que parecem sem solução.

A necessidade de sair do diagnóstico observador é fundamental para pensarmos como atores de transformação em um momento onde temos sido atacadas sensivelmente em nossa concepção de mundo. Neste sentido, há um antes e um depois de Gaza: a luta ecossocialista é a luta pela vida. Portanto, qualquer pessoa que esteja pensando um programa de transição ecossocial com horizonte anticapitalista não pode deixar de fora esta dimensão. Genocídio e ecocídio, sempre caminharam juntos: um é a condição de possibilidade do outro e vice versa.

A aposta por um giro afetivo, necessário para pensar e atuar nestes tempos de crueldade, como propõe Rita Segato, põe no centro do debate a solidariedade ecoterritorializada, o internacionalismo dos povos e a concepção de um que fazer baseado nos cuidados, sem perder de vista as lutas urbanas, sindicais e as disputas por melhores condições de vida para classe trabalhadora, porque resistir nestes dias também é saber fazer frente à precarização da vida em todos os seus âmbitos.

Neste contexto, profundamente desafiador, que ocorrerá o II Encontro Ecossocialista Latinoamericano e Caribenho. Sua realização em Belém (Brasil) por ocasião da COP30 é, de forma simbólica, uma resposta e um rechaço a ideia de que o campo da economia pode justificar ou planificar o que fazemos como sociedade. Sabemos que entregar a saída para o colapso ambiental nas mãos dos mesmos que a geraram é ilógica, contraditória e está baseada em falsas soluções e metas inalcançáveis, o que tão pôde grifar Kim Robinson em seu livro El ministerio del futuro.

A crítica é antiga, no entanto se faz especialmente necessária. Apesar de que a COP30 se realize em um dos países mais importante no momento para pensar estratégias que possibilitem um avanço das lutas ecoterritoriais, o governo brasileiro vêm dando demonstrações de falta de compromisso com os coletivos em luta e uma aproximação com os projetos de colonialismo verde. Isso se evidencia pela aprovação do chamado Projeto de Lei da Devastação – embora com vetos -, o anúncio do fim das negociações, com possível ratificação, do Tratado de Livre Comércio entre União Europeia e Mercosul e a postura entusiasta de Lula acerca do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que deverá ser um dos principais projetos defendido pelo governo brasileiro durante a COP30, e que é, como explica Mary Louise Malig e Pablo Solón neste artigo, um ambicioso projeto do capitalismo verde que busca corrigir as supostas “falhas do mercado”.

Na mesma linha, é preocupante que a partir dos espaços críticos a COP30 se planeje uma conexão direta com os governos. A necessidade de gerar espaços autônomos, como tem sido tradicionalmente as Contracúpulas ou Cúpulas dos Povos, a partir de uma perspectiva de coêrencia com as lutas antisistêmicas, é essencial e deveria ser inegociável. A ingerência dos governos nos processos de auto-organização da sociedade civil debilita e vulnerabiliza a possibilidade de impulsionar alternativas gestadas desde as bases sociais.

Dentro das linhas alternativas e dos espaços de debate autônomos, o II Encontro Ecossocialista se realizará entre os dias 8 e 11 de novembro, datas que foram cuidadosamente escolhidas para não interfirir nas atividades da Cúpulas dos Povos, que se realizará entre os dias 12 e 16 de novembro, nem na iniciativa Carta da Terra, prevista para ocorrer entre os dias 7 e 8 de novembro.

Em sentido estratégico, o segundo encontro – que é uma continuiação dos debates dados em Buenos Aires em 2024 e também traz a acumulação de cinco encontro prévios que se realizaram na Suíça, Estado Espanhol, País Basco e Portgual – busca a convergência dos olhares ecossocialistas e de outras alternativas anticapitalistas que se gestaram nas últimas décadas com o objetivo de gerar possibilidade de ações concretas coordenadas para construção de um horizonte comum. Para isso, serão debatidos os pontos centrais das propostas de diferentes coletivos que vêm pensando e construindo alternativas às formas de produção, reprodução, consumo, distribuição, organização e concepção civilizatória e do mundo do sistema capitalista.

Este, que será o primeiro encontro realizado em território amazônico, busca trazer as vozes dos coletivos que lutam pela demarcação de suas terras ancestrais e pela preservação das florestas contra o desmatamento e o racismo ambiental que afeta os povos racializados. Além de trazer um balaço crítico acerca das experiências dos estados plurinacionais e compartilhar os projetos de territórios livres de combustíveis fósseis e mineração que estão em curso em distintos lugares da América Latina.

Do mesmo modo, o encontro propõe um debate profundo e crítico sobre as transições que se pretendem sem participação das populações afetadas pelos extrativismos e uma caracterização dos imperialismo no contexto político atual, no qual projetos como o BRICS e o reposicionamento da China geram perguntas sobre as oportunidades e as ameaças aos territórios do Sul Global; as guerras, a militarização, as dívidas e os acordos de comércio e investimento despontam como a já conhecida – no entanto mais violenta a partir da ascenção das direitas neofascistas – estratégia de subordinação, dependência e controle dos territórios, ameaçando as soberanias dos países.

Seguindo o debate que esteve presente em todos os encontros anteriores, um dos eixos centrais será o ecosindicalismo e o mundo do trabalho, assim como os ecofeminismos e as economias do cuidado a partir de uma perspectiva ecoterritorial. Dentro da discussão sobre estratégia ecossocialista, serão discutidas as táticas rumo ao ecossocialismo, ecossocialismo e poder, diálogos entre o Norte e o Sul sobre os métodos e conteúdos da discussão, posicionamente frente a COP, entre outros debates como descrescimento, direitos da natureza, periferias urbanas e populações das cidades, e democracia ecossocialista.

Apesar do enorme desafio que tem sido a contrução deste processo devido, sobretudo, a parte logística e os altos custos de hospeagem em Belém, o Encontro já tem confirmado seu local de realização e conta com um comitê local que estará encarregado de organizar a logística do evento e oferecer apoio, com indicação de opções de alojamento, para os que estarão presentes no encontro.

Em breve serão abertas as inscrições do evento, que serão obrigatórias, já que temos capacidade de receber apenas 350 pessoas. O evento, seguindo seu princípio de autonomia, é completamente financiado pelas organizações e pessoas que participam do encontro, para as quais não podemos garantir o financiamento de passagens e/ou translado.

Se espera uma maior participação de coletivos e pessoas dos territórios do Brasil; por isso, caso seja necessário, poderá ser limitado a participação das delegações por país, com o objetivo de que os debates se deem com a maior participação e pluralidade possível.

Territórios livres e convergência para ação é onde se pretende avançar neste encontro, levando a propostas, perguntas e debates ao VII Encontros Ecossocialistas Internacionais que ocorrerá em Bruxelas, na primeira quinzena de 2026.

As informações sobre processo de organização dos Encontros podem se encontradas na página do instagram: inter.ecosoc. Para quem queir assinar o chamado, pode fazê-lo acessando este formulário.

Publicado em VientorSur. Tradução: Júlio Pontes.


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